Ponto Jor

sexta-feira, março 30, 2007

Entrevista: Daniel Galera


João Prado
Quinta-feira, 15 de março. Estou na Mercearia São Pedro, na Vila Madalena, no lançamento do trailer do novo filme de Beto Brant, “Cão sem Dono”. (O bar está lotado). O filme é uma adaptação do livro “Até o Dia em que o Cão Morreu” (2002), do escritor gaúcho Daniel Galera.
Passa para frente. Sexta-feira, 23 de março. Galera me recebe em seu apartamento para uma entrevista. O cara já participou de diversos trabalhos interessantes e publica na internet desde metade da década de 90. Entre seus trabalhos: o famoso fanzine Cardoso On-Line, que em uma época (que a internet era menos acessível do que é hoje) contou com cinco mil assinantes. Também já montou uma editora, a Livros do Mal, além de outros projetos.
Engraçado, mas quando saí do prédio dele tive a sensação de que a entrevista poderia ter rolado por mais uma hora, se não fosse os compromissos meu e dele (será que foi um erro marcar entrevista numa sexta à noite?). De qualquer forma, aproveito para recomendar o livro de Galera, que, para mim, é ótimo e me deixou ansioso para ler o seu último publicado, “Mãos de Cavalo” (2006). Não sei dizer o porquê (nem quero), mas a leitura do texto de Galera me casou perfeitamente para emendar com “Os Detetives Selvagens”, de Roberto Bolaño. Eis a entrevista:
Todos os seus projetos foram planejados ou você acabou fazendo todos de “sopetão”?
Nenhum fez parte de algum projeto. Eram coisas que davam vontade de fazer naquela hora. Mais ou menos como as pessoas fazem os fanzines e fazem bandas, entendeu? O cara que monta uma banda com os amigos dificilmente está planejando a carreira dele para daqui dez anos. Às vezes isso se desenvolve e às vezes não. Todos meus trabalhos foram criados com esse espírito. O Cardoso On Line começou com emails que o Cardoso mandava para os amigos durante a greve da Universidade Federal. Quando estava todo mundo coçando o saco, ele resolveu mandar emails com poemas e contos que ele escrevia. Eu comecei a receber esses emails e lia muitas publicações de sites estrangeiros, sobre literatura e resenhas de discos. Quando eu descobri um site que hoje é famoso, que é o Pitchfork, em 1998, foi uma das grandes inspirações para tornar aquela coisa de emalis em uma publicação. Então começamos a colocar contos, crônicas, resenhas de música, o “egotrip”.
Como? Egotrip?
Egotrip eram textos transformando nós mesmos em personagens. Falava-se das festas, dos finais de semana. O termo acabou sumindo, mas na época se falava muito.
E a Livros do Mal?
A Livros do Mal também. Nós tínhamos nossos textos e pensávamos que seria legal publicar em um livro. Nós nem tentamos mandar para uma editora. A vontade de fazer por conta própria foi desde o início. Nunca tivemos um plano (rsrsrrs). Até hoje eu não tenho isso.
“Até o dia em que o Cão Morreu” é um livro com impressões íntimas, mesmo que tenha aquela história de separar o autor da obra. De alguma forma te incomodou, outra pessoa - e nesse caso o Beto Brant - querer contar a mesma história que você criou?
Em certo sentido incomoda um pouco. Mas é um incômodo que eu nunca deixei influenciar nas decisões. É um incômodo que eu julgo natural. Um incômodo que tem um lado ruim e desagradável, mas tem um lado bom e positivo que ultrapassa o pessoal. Então, é um incômodo que não é para ser levado a sério. O que eu quero dizer: que é evidente que uma história que eu fiquei escrevendo e que lapidei todo o texto como eu queria, apesar de se tratar de uma ficção, existem muitas coisas pessoais no livro e, principalmente, que eram especiais para mim naquela época. Ai a idéia de alguém pegar a mesma história, mexer nela e refazer com outra visão, é um pouco perturbadora. Mas isso nunca vai ser motivo para evitar que esse tipo de coisa aconteça. Gosto de adaptações. Inclusive já tive contos meus adaptados para curtas. Mas não vou dizer que não mexe, entendeu? Claro que vendo o filme você acaba pensando: “Pô! O filme está bonito, mas não era bem isso”. Mas acho que isso faz parte do processo. Não é uma coisa que deixo influenciar na minha vida. As boas adaptações são releituras, e nunca uma história vai ser tal qual o livro e conseguir fazer uma narrativa igual. Desse jeito o filme vai ser uma merda.

Você gostou do resultado final?
Eu estava preparado para ver uma coisa completamente diferente do livro. Quando fui assistir, eu percebi que ele estava muito mais fiel do que eu imaginava. Apesar de muitas mudanças, na essência, ele está fiel. Mas o filme é uma obra nova. Tem a visão dos diretores e também a dos atores.
É verdade essa lenda de que todo escritor é vaidoso? Do tipo, ficar irritado quando lê uma crítica que falou bosta sobre seu livro? Você é assim?
Hum. Eu não sou muito, só um pouco. A essa altura, já com três livros, eu já me acostumei com isso. Não só dos críticos, mas as interpretações dos leitores são muito diferentes da intenção do escritor. Isso faz parte. Achar que as pessoas vão deduzir justamente o que você queria é uma ilusão tremenda. Às vezes isso acontece e é muito satisfatório, mas nem sempre. Eu não me incomodo com isso. O engraçado é que às vezes o elogio é mais equivocado do que a crítica. O cara pode dizer que seu livro é uma merda, porque ele quis dizer tal coisa, e ele realmente quis dizer a tal coisa. Ou chega um cara que diz que adorou o seu livro porque ele diz tal coisa, e você pensa: ‘Eu jamais quis dizer isso! É um absurdo’. Então, isso às vezes incomoda mais do que uma pessoa que está criticando o seu livro por uma coisa que você reconhece que está nele. Eu acho isso parte integrante do processo de escrever. Só escrever não serve.
É um processo que vai além do livro?
É escrever e levar o que você escreveu para as pessoas de alguma forma. Depois das interpretações das pessoas, isso volta para ti e a maneira que você vai receber isso continua sendo um desenvolvimento do ato de escrever. Então é um processo (de escrever) que nunca termina.
Ainda em relação às críticas. Existe parte da imprensa que insiste em pregar rótulos. Do tipo: o escritor que “saiu da internet”. Você acha que esses rótulos fazem parte de uma época em que as pessoas querem definir as coisas - em um momento em que as coisas não estão bem definidas?

Eu acho que o que a imprensa cultural escreve também são mercadorias. Além de fazer a crítica e de informar os leitores, eles querem vender. E facilita muito na hora de apresentar as coisas tu categorizar elas. É que nem tu criar a cerveja sem álcool, sabe? É uma categoria. É muito mais fácil tu apresentar um escritor dizendo que esse cara, antes de qualquer coisa, é um cara da geração 90, que ele é saído da internet, que os outros escritores da internet são x, y e z, e eles têm esses temas em comum. Isso faz parte do jogo e é ruim quando tudo fica limitado a isso. Mas o rótulo sempre existiu e sempre foi um caminho mais fácil. Basicamente, a pessoa que fica presa a algum rótulo faz um texto ruim.
O personagem central de “Até o dia em que o Cão Morreu” passa o dia sem fazer nada. Ele é um perfeito vagal. Mas, ao mesmo tempo, ele é complexo, inteligente e parece processar as coisas de uma forma peculiar. O personagem é reflexo do tempo em que ele vive ou das escolhas que ele fez?
Eu acho que ele é reflexo do tempo em que ele vive, mas não como um todo. Eu acho que ele é um tipo de pessoa, entre muitas outras, que existe nesse tempo. O personagem é um vagal, como tu falou, mas um vagal intelectualmente convicto de que vale a pena ser um vagal. Essa é a ambigüidade da coisa. Claro que eu acho que isso é uma visão em que muitas pessoas chegam em um determinado momento, mas que essa visão não se sustenta. Pensando como o personagem, você não vai fazer muita coisa e nem vai durar tanto tempo. Mas existem muitas pessoas que pensam dessa maneira - e não sei se estão certas ou não. O livro é muito sobre isso: sobre um cara que acha que a apatia é um caminho valido, mas quando acontecem coisas na vida dele, ele acaba questionando essa situação. No final do livro, não quis interferir na escolha do personagem e nem na imaginação dos leitores.

quinta-feira, março 29, 2007

Para Lucas

Daniel Consani

Ontem. O sol abrasador fazia minhas têmporas queimarem. Estava na rua Joaquim Floriano, no Itaim, a espera de um táxi. Trânsito. Acabara de voltar de entrevista coletiva com o presidente do Grupo Nutrin, Thomas Costa, em Americana.

Pressa. Três e meia da tarde. Já deveria estar na sede da TV Climatempo para aprovar a exibição do Programa Profissional&Negócios dessa semana. Pressa.

Um garoto de cerca de oito anos se aproxima.

- Moço, quer engraxar?

Havia engraxado o sapato no último fim de semana, mas por que não? Puxo a barra da calça um tanto para cima e vejo o garoto pegar a graxa preta com uma escova de dente.

- Como você se chama?

- Lucas.

- Quantos sapatos você engraxa por dia?

- Em dia bom, consigo uns trinta. Mas teve um dia que engraxei quarenta e um sapatos.

- Caramba, trinta clientes num dia? É bastante, né?

- Não, trinta sapatos. Dá quinze pessoas.

- Ah, bom.

Foi inevitável. Comecei a pensar naquele número: 41. Será que ele se referiu ao número de pares ou de sapatos? Sei lá. Mas também não vou perguntar.

- Quer dizer que você conta os sapatos e não os pares de sapatos que você engraxa? E como é que um dia você engraxou quarenta e um?

- Ué, é que tem um senhor perneta que trabalha ali naquela ótica. Ele sempre engraxa.

A naturalidade de Lucas despertou um leve sorriso em meus lábios.

Ele já havia terminado o trabalho no pé direito. Passou para o esquerdo.

- Para que time você torce?

- Para o Corinthians – ele respondeu.

- E você não tem vergonha?

- Não, claro que não. Você tem cara de são-paulino.

Outro sorriso.

- Sou corinthiano também.

- É mesmo? Nós vamos meter três a zero no Santos hoje.

Às vezes queria voltar a ter a crença incondicional e a esperança inabalável de uma criança.

- Três a zero é pouco. Cinco a zero – disse eu.

- Pode crer – disse Lucas gargalhando.

Dei-lhe dois reais.

- Meu táxi chegou.

- Vai com Deus – disse Lucas.

Que Deus o acompanhe também, caro amigo.

quarta-feira, março 28, 2007

Pode crer!

Daniel Boa Nova

É da nossa cultura não dar o devido valor aos pioneiros, os agentes transformadores. Não me atrevo a querer explicar, só sei que isso rola. Achismo puro com um pé na realidade. O esquecimento completo de um craque boleiro do passado pelo clube onde se destacou e a degradação a que são submetidos edifícios e monumentos históricos brasileiros são apenas algumas das muitas faces de uma mesma moeda, corrente por aqui. Manja caminhão-baú atropelando fonte em Ouro Preto? Então...

Foi com isso na cabeça que, no último sábado à noite, pude conferir a quantas anda o trampo do Thaíde. Quase desisti, o que teria sido lamentável.

Thaíde, você sabe, dos precursores do hip hop nacional. Desde os anos 80 na ativa, gravou vários discos em parceria com DJ Hum, que hoje gira seus toca-discos no inferior Motirô. Em 2000, lançaram um dos melhores registros da história do rap nacional: "Assim Caminha a Humanidade", via Trama, para 1 ano depois dissolverem a dupla. Falei no disco e botei para tocar.

Jà há alguns anos que o MC e ex-dançarino de break era visto apresentando o Yo!, programa de hip hop da MTV que passa em horários alternativos (se é que ainda passa). E quem assistiu ao filme Antônia pôde conferir sua veia cênica, posteriormente adaptada para a minissérie da Globo. Pois bem, sustento garantido. E a música?

Apesar de não ter saído da mídia no período e nem parado de fazer shows, já ia longe o último registro sonoro de Thaíde. De um lado as propostas de trabalho e, do outro, o sucesso de “Senhorita”, davam a entender que poderia ser o começo do fim de uma carreira.

Fui surpreendido pela notícia do show de lançamento de seu novo disco no SESC Pompéia - um dos melhores espaços de Sâo Paulo - e às 21h eu já estava lá. O público compareceu em bom número, o que me fez descrer de tudo o que achava: Thaíde está em alta. Até o Senador Eduardo Suplicy foi visto por ali.

Na abertura, uma performance curta do rap oldschool raivoso e mal-encarado do DMN. Que funciona bem ao vivo. É de uma pegada intensa, pesadaço, bom pra quem curte bate-cabeça. Mas a festa tinha outro dono.

Thaíde abriu com “Apresento Meu Amigo” e um coro que incluía Lino Crizz, outros 2 manos e mais meio SESC. Passou por “Preste Atenção”, “Afro-Brasileiro” e algumas mais recentes, como “Caboclinho Comum”. Com o perdão do trocadilho, uma que levantou a galera foi “Pra Cima”, a música de abertura do Yo!, já de sua fase solo.

Chegou a hora das participações especiais e o Záfrica tocou uma para mim desconhecida. Na seqüência, sua “Tem Cor Age” – deles eu sou suspeito para falar, fã é foda. De Conceito também compareceu e mandou “Se Virar, Virou”, seu hit. Além desses, várias inserções de dançarinos de break e, vez ou outra, surgia bailando uma negona saradaça de biquíni, pra elevar a temperatura.

Festa. Teve até espaço para piada entre uma música e outra (sabe o que a cachorra falou pro cachorro em frente à farmácia?). Perto do final do show, um dos pontos altos: a nova e divertida “Louca por Mim”, que inaugura o estilo rap-brega no Brasil. E, para encerrar, claro, a obrigatória “Senhor Tempo Bom”. Beleza!

Teve um ponto fraco: o cd novo não estava à venda. Falha, é real. Compensada com a venda da biografia de Thaíde (acrescida de um cd com 3 músicas inéditas) a 10 pilas. Tá valendo. Mas me parece que o cara ainda terá muita história para acrescentar à obra.

_________________________________________________

Abaixo uma apresentação especial para o Carnaval na MTV, Thaíde & DJ Hum em boa fase e acompanhados por uma super-banda. Uma releitura da antigona "Lata D´água na Cabeça" com a letra de "Brava Gente". Lembro de ter visto isso, acho que era 97. Que tempo bom...

terça-feira, março 27, 2007

A ocasião faz o ladrão

Luís Pereira

No Impact Man

O problema do aquecimento global fez com que uma família nova-iorquina lançasse um desafio próprio: permanecer um ano desenvolvendo um estilo de vida que cause o menor impacto possível no meio ambiente. Tal iniciativa implica o desuso de papel higiênico, televisão, elevador e carro.

Beaven Conlin, o patriarca da família, pretende, no entanto, lucrar com o experimento. A idéia é lançar um livro e um documentário para televisão em 2009.


Hardcore Surf

O vocalista Jim Lindberg, da banda de hardcore Pennywise (que toca em São Paulo na próxima sexta-feira), deu a seguinte resposta à pergunta da Folha de São Paulo sobre como estão os preparativos para a vinda para o Brasil: “só quero surfar”.


Bendita Visita

O CD Bendito o que vem em nome do Senhor – composto para divulgar o hino da visita do papa Bento 16 em maio – foi lançado no domingo, dia 25, e já vendeu 50 mil cópias antecipadas, segundo site oficial da visita do papa ao Brasil. O disco foi produzido por uma parceria entre o Santuário Nacional de Nossa Senhora de Aparecida e a gravadora Codimuc.


Jornalista Terráqueo

Aproveitando o espaço - e a ocasião propícia - estou divulgando aqui no PontoJor o meu novo blog. A idéia é simples: mais um grito pela democracia e a liberdade de expressão. Por favor, se possível entrem e comentem.

segunda-feira, março 26, 2007

Vento bom

por Sara Puerta

Eu juro que não é por causa do chocolate. Acho que é pelo outono, aquela mistura de sol com vento. Seja lá pelo que for, eu amo a época de Páscoa.
Tive a certeza disso hoje cedo, quando coloquei os pés para fora de casa.

Bateu um vento. Lembrei de tanta coisa. Tipo, vento que lembra do passado. Parece papo de gente louca, mas conheço algumas pessoas que sentem isso também. Até acalma.

De criança, eu ia na Igreja com a família toda. Nove tios, dois irmãos, dez primos, duas avós. Gostava da celebração da sexta-feira santa. Pra mim, era a melhor missa. As pessoas ficavam um minuto em silêncio. E eu olhava de canto de olho. Estavam todos cabisbaixos e tristes.

Sempre saia com “sangue nos zóio”, achava tudo que aconteceu com Jesus muito injusto. “Por que ele não chamava todos os seguidores e quebrava tudo?”, eu perguntava para o meu pai. Ele respondia. “Um dia você vai saber”.

Não soube. E mesmo sendo uma reles mortal, que não vai “salvar o mundo” reconheço que também não quebrei tudo um monte de vezes. Ficou um monte de imagens de pancadaria e discursos apenas em fantasia.

Mas tudo bem! O vento de outono acalma. E lá vou eu de novo. Céu estrelado. Nostalgia. Novos tempos....

Gostava dos filmes que passavam na tv sobre a vida de Jesus. E ele era loiro. Tá bom!

Depois da minha era cristã, veio a era das viagens. E Páscoa era sinônimo de céu estrelado e muita história para contar.
E hoje é lembrança boa e inspiração.

Mais...
Páscoa vem da palavra grega Pessach, e quer dizer passagem. Para o cristão, quer dizer ressureição. Para os judeus, libertação do povo. Para muita gente, feriado, fartura no almoço e chocolate.

O carnaval acontece 47 dias antes da Páscoa, que por sua vez, é estabelecida no primeiro domingo após a primeira Lua cheia, depois do equinócio - início do outono.

Eu confirmo: a melhor Lua Cheia do ano é na sexta–feira santa, o dia do bacalhau. Dá até pra ver o coelho da Páscoa deitado. Eu juro que dá, e sem fazer uso de aditivos.

Se quiser calcule o Dia da Páscoa....
http://www.inf.ufrgs.br/~cabral/Pascoa.html

Uma homenagem “não muito inocente” ao coelho branco da Páscoa
http://www.youtube.com/watch?v=6xhYk9PEmXA

sexta-feira, março 23, 2007

“Que apagão é esse?”

João Prado

Sinceramente: não estou muito preocupado com a tal “crise nos aeroportos”. Pode ser o meu mau humor com o assunto ou o costume estabelecido com as outras filas (bem mais freqüentes), como a do ponto de ônibus, dos carros na marginal, dos restaurantes e bares nos finais de semana... Enfim.

O fato é que, buscando informações para uma entrevista, uma pessoa que já ocupou um cargo do alto escalão no Ministério da Aeronáutica, que aqui vou chamar de Senhor Milico, me disse: “Não tem nenhuma falha nos Cindactas. Isso é crise política. Para conseguir suas reivindicações, os controladores de vôo dão um ‘grito’ e param todo o sistema aéreo brasileiro. Cada hora inventam uma coisa. Agora, é culpa do software controlador. Como assim? Não é. O sistema é controlado por computadores com backup. Se falha um, entra o outro”.

Segundo Milico, ele acha estranho o fato de que antes do acidente fatal que envolveu o avião 1907 da Gol, “nunca tínhamos pensado ou visto uma crise como essa”.
Alguém se lembra de alguma coisa?

Para Lapa... de Baixo

João Prado

Quinta-feira. Depois de entregar a minha reportagem dessa semana (sobre o tal “apagão aéreo”) e acompanhar a diagramação da página, estava livre (quase) das minhas obrigações profissionais. Resolvi sair da editora e sentar em um boteco para tomar uma cerveja. Foi a melhor maneira que encontrei para vencer os minutos (cerca de 30), até acabar o tempo do rodízio.

Não sei se a semana que foi corrida, ou apenas por estar sozinho e, por isso, ter tempo totalmente livre para pensar em coisas vagas, mas o fato é que sentado naquele boteco parecia que eu estava em posição privilegiada para observar o Largo da Lapa e seus personagens. Lembro que de dia são crianças com suas lancheiras, domésticas, faxineiras, ambulantes e motoristas de lotação, que andam por ali. Aparentemente todos “trabalhadores-humildes-honestos”. Alguns fatos parecem se repetir, como os mesmos carros estacionados nos mesmos lugares, a mesma tia (parece trabalhar como doméstica) que passa por mim quase todos os dias quando eu chego, e os moleques que sempre pulam o muro da estação da CPTM, para não pagar a passagem, que custa R$ 2,30 (se não estou enganado).

De noite a coisa muda de figura e o cenário é outro. Ainda são trabalhadores que estão lá (no bar), mas o barulho das lotações dá lugar ao coro que vem dos bares. Pouca gente circula pelas ruas, imagino, com receio de caminhar pelas vias escuras (nada mais Lapa de baixo, do que as ruas escuras quando a noite chega). Sentado em uma mesa de frente para a Rua Engenheiro Fox, na calçada, observo o logo pregado na parede do hotel “Largo da Lapa”, contornado por uma luz vermelha, que favorece ainda mais o clima – esse hotel, na verdade, dá todo um charme para o local.

Não conheço muitas coisas sobre a Lapa de Baixo. Moro na zona sul e isso, em São Paulo, quer dizer que possivelmente eu não conheço muito sobre a zona leste, oeste e norte. Mas dá para notar as marcas da região, que são típicas de um antigo bairro industrial e ainda proletariado.

Imagino quantas histórias que existem por ali. As casas pequenas (todas parecidas, uma ao lado da outra), os puteiros, os bares... As pessoas. Naquele pouco tempo que estive sentado, bebendo algumas cervejas (perfeitamente geladas), me pareceu que: independente de tudo e qualquer coisa, todas as pessoas presentes ali estavam felizes.

quinta-feira, março 22, 2007

Viver para contar

Daniel Consani

Tem assunto que é foda. Chega e fica.

No último final de semana, comprei o último DVD da Madonna, chamado Confessions Tour. Custou R$ 49,90 e vem com o CD do show. Bem bacana. Bem bacana não, excelente. O show é bárbaro, com canções belíssimas e dançarinos talentosíssimos. E a Madonna, que ainda é o máximo, claro. Resumo: valeu cada centavo.

O fato é que, sábado à tarde, estava eu relaxado assistindo ao show quando, na música “Live to Tell”, Madonna surge “pregada” a uma cruz, cantando. Sobre o palco, uma contagem progressiva tem início:

200 mil.

500 mil.

1 milhão.

4 milhões.

9 milhões.

12 milhões.

Quando a música chega ao fim, Madonna já desceu da cruz e o contador parou em 12 milhões. Nos telões, dados bizarros e assustadores sobre as condições de vida da maior parte dos cidadãos africanos são expostos.

No continente, hoje, são 12 milhões de crianças órfãs por causa da Aids.

A ligação foi inevitável: principalmente em uma semana em que o papa Bento XVI fez acusações, no mínimo, escabrosas, lembrei da “santa” Igreja Católica.

É impressionante (às vezes acho inexplicável), mas o Vaticano ainda detém poderes inquestionáveis no mundo contemporâneo. As indecorosas declarações do papa sobre o malogrado segundo casamento, as uniões gays, a influência da internet na sociedade atual, e a reafirmação da proibição do uso da camisinha (podendo, talvez, ser liberado dentro do casamento) são prova.

Enquanto milhões morrem de Aids na África, os repugnantes clérigos alimentam dogmas cruéis e asquerosos, totalmente descolados da realidade. Pedir desculpas para a humanidade daqui a cem anos (como fizeram com a Inquisição), não vai adiantar.

E a Igreja Católica ainda se diz preocupada com a evasão de jovens de suas paróquias. É muita hipocrisia.

A solução, então, é seguir o caminho das igrejas pentecostais? Claro: o casal Hernandes, Edir Macedo, R. R. Soares e companhia precisam aumentar o faturamento.

Que Deus nos livre.

quarta-feira, março 21, 2007

De uma vez por todas: você não vai ganhar na loteria (até que me prove o contrário).

Daniel Boa Nova


Todo mundo tem uma prostituta dentro de si. Questão apenas de saber quanto ela cobra. Vou te contar uma coisa: tenho me sentido como uma de beira de estrada.

No boteco, creio, todos já discutiram em algum momento: se uma revista adulta te fizesse uma proposta tentadora, você toparia? E se dobrassem a oferta? Isso vale para mulheres e homens.

Olho ao meu redor e vejo inúmeros exemplos de gente explorada. Salário baixo, às vezes atrasado; horas-extra acumuladas sem ser contabilizadas; falta de reconhecimento ou mesmo respeito profissional; promessas de mudança não-cumpridas; gente que não sabe dos seus méritos decidindo seu futuro: algum desses itens está ali presente. Você já tem diploma? Contas? Até filhos? O problema é todo seu.

Então eu penso que, putz, melhor encarar a coisa toda de outra forma. Que essa fase é passageira e tem gente da nossa idade satisfeita com sua situação - ainda que falando outra língua em um emprego ordinário, a milhas daqui. Afinal de contas, trabalho é apenas uma parte da vida. E não vale a pena ser um ranzinza porque ela é frágil e curta.

É, apenas uma parte. Aquela parte que viabiliza seus projetos. Aquela parte que ocupa quase a totalidade da semana, do humor e da disposição. A que te obriga a sair de casa, de cara limpa, e interagir com outros seres em atividades conjuntas.

Se de fato é passageira, por ora, não há muito que fazer. A não ser manter a cabeça erguida, cumprir a parte que lhe cabe e tentar não se abalar – o veneno que não mata fortalece, lembra?

Mas apenas um conselho: não abra mão de suas férias. E se um dia ouvir dizer que brasileiro é preguiçoso, mande passear.

terça-feira, março 20, 2007

O maior de todos os meus tempos

Luís Pereira

Um metro e 69 centímetros de habilidade, rapidez, arranque poderoso, impulsão vigorosa, visão de jogo, chute forte, classe, artilharia, audácia, autoconfiança, inteligência, irreverência e puro e refinado dom para o futebol.

Carinhosamente apelidado de baixinho, Romário - dentro de campo - nunca fez jus a esse apelido, demonstrando nas quatro linhas - mais precisamente da intermediária para frente - um gigantismo na arte do futebol.

Um verdadeiro mestre da grande área. Nunca um jogador soube utilizar tão bem o pequeno - e, dependendo do jogo, ainda mais reduzido - espaço que permeia a meia lua, a indefectível marca do pênalti, zagueiros sanguinários, a pequena área, um goleiro de cerca de dois metros e as três traves.

E a bola? Ah, a bola... a matéria mais desejada em campo, macia, redonda, fugaz. Como quem pratica esmerados movimentos teleguiados, ela parece estar sempre rolando caprichosamente à procura de seu mestre, que, por sua vez, quando nesse encontro de corpos, retribui com maestria, elegância e generosidade, atributos genuinamente dignos de lordes, concedidos por forças celestiais a esse craque, quando ainda acabava de sair do ventre de sua mãe.

Ele é, realmente, o cara, e eu desafio meliantes a provarem o contrário. A irreverência e a audácia poderiam ter transformado Romário num homem de língua carbonizada, mas, justamente pelo contrário, poucas foram as vezes que o baixinho se estrepou na própria alocução, vide reportagem realizada pela Rede Globo, em que, nos primórdios da carreira, profetiza os 1.000 gols, mas, também, erra ao afirmar que aposentaria aos 29 anos.

Autor de legítimas obras primas, Romário está há dois gols de alcançar a sublime marca do milésimo gol, antes atingida apenas pelo supremo - todo poderoso - rei do futebol, Pelé. Comparações guardadas às suas devidas proporções, Edson Arantes do Nascimento é, indubitavelmente, o maior de todos os tempos, afirmação inequívoca e unânime.

É certo que abaixo de Pelé - e somente abaixo - existem diversos craques que podem ser citados, como Garrincha, o gênio das pernas tortas; Johan Cruyff, holandês cerebral, de talento extraordinário; Franz Beckenbauer, jogador alemão inteligentíssimo; e tantos outros craques que cometerei a injustiça de não mencionar (até por isso prefiro parar por aqui).

Entretanto, o maior jogador que os ordinários globos oculares do autor que vos escreve pôde testemunhar é, com convicção e pequena dose apaixonada de persuasão brasileira futebolística, Romário de Souza Faria.

Sim, assisti boleiros circenses, como Maradona e Zico, porém no final de suas carreiras. Acompanhei exímios e distintos craques de diversos lugares do mundo, como o eterno algoz francês da seleção brasileira, Zidane, o holandês Marco Van Basten, o argentino Gabriel Batistuta, o italiano Roberto Baggio (ótimas recordações) e os brasileiros Ronaldo fenômeno e Ronaldinho Gaúcho. Mas, dos jogadores excepcionais que tive a feliz oportunidade acompanhar, assistir e prestigiar jogadas e jogos memoráveis, até então nenhum ultrapassou o nível de qualidade de Romário.

Espero, todavia, que craques que ainda estão na ativa e os que ainda estão por vir possam sobrepujar as virtudes do baixinho, pois quem ganha é o esporte e os espectadores agradecem.

Ao Romário já deixo meus parabéns pelos mil gols - que, muito em breve, acontecerão - e por ter sido, até então, o maior jogador de todos os meus tempos.

A vocês, leitores do PontoJor, deixo um link para matar a saudade de inesquecíveis jogadas do baixinho. E esse outro para relembrar o histórico jogo de eliminatórias para a Copa do Mundo contra o Uruguai - uma apresentação iluminada de Romário.

segunda-feira, março 19, 2007

Muito, mas muito rápidas.


Panis et Circences

Alberto e Analy se enfrentam no paredão do "BBB7"

Foda-se!!

Todo mês na Capa da Veja

Como comer certo. Dessa vez mudou tudo. Chocolate faz bem. Verduras muito bem.

Cerveja e frango à passarinho? Muuiiiiito bem!*É só correr depois...seja lá do que e atrás do que, pra onde você quiser.

Enquanto para as pessoas sem sala de jantar: 850 milhões de pessoas não comem no mundo. E 32 milhões estão no Brasil.

Quem dá uma dica de como resolver isso. Quem pode ajudar e como ajudar? Ei , Revista Veja!?

* Eu acredito


Voltamos a jogar como corintianos.

Nos 48 do segundo tempo. No último suspiro. E, quem sabe, lugar na semifinal?

Coloco a citação na 1ª pessoa do plural, pois sem querer ( eu juro!), juntamos cinco gaviões fiéis ao fundar o blog. Está dando certo.

PS: Sei que escrevi pouco. Tô correndo. Fiquei presa no aeroporto, por causa da paneno sistema aéreo. Dessa vez, o chefe não acha que estou mentindo.





sexta-feira, março 16, 2007

Ataque!



João Prado

Quem, aqui, sabe dizer se o seu próprio computador já foi ou não hackeado? Você pode afirmar, com convicção, se o seu PC ai Oh, esse que está na sua frente e a sua serventia, sofreu ou não uma invasão de um pirata “virtual”? A resposta pode até variar, mas não foge do que realmente acontece. Segundo pesquisa do CERTbr (Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil), em 2006, as páginas brasileiras receberam cerca de 200 mil ataques, uma inflação de 190% sobre 2005. Isso sim é espetáculo de crescimento!

Sem mais embromation, entrevistei o coordenador de engenharia de sistemas da Websense na América Latina, Fernando Fontão. O cara manja sobre o assunto e está no ramo faz um tempo. A entrevista rendeu bons momentos. Com uma fita inteira para tirar, eis a versão editada:

Qual o motivo desse aumento dos ataques apontado pela pesquisa do CERTbr?
Simples. Mais pessoas usam a internet devido ao crescimento do número de serviços que ela oferece. Hoje, você pode pagar suas contas, acessar a sua conta bancária, guardar documentos importantes, conversar com pessoas do mundo todo... Enfim, muitas coisas que há dois anos você não poderia fazer com a mesma facilidade. Nessa história, a quantidade de tentativas de invasões também cresce. O pote de ouro dos hackers é justamente a quantidade de pessoas que hoje acessam a rede.

Mas simples assim?
Outra coisa é a ingenuidade do internauta, nesse caso o brasileiro. As pessoas costumam cair em invertidas simples, como os emails que pedem para baixar um arquivo ou acessar uma determinada home Page. Eu mesmo recebo esses ataques quase todos os dias. E as pessoas nem se dão conta, o que é pior. Se você fizer uma estatística, de cada dez pessoas que tem um computador em casa, nove já tiveram suas máquinas infectadas.

Mas como eu consigo saber se o meu computador já foi ou não infectado?
Só se o ataque for mal sucedido. Isso vai deixar seu computador lento e você irá perceber algo de estranho. Mas um ataque bem sucedido não tem como. O hacker cada vez mais quer que você não perceba um ataque. É muito melhor para ele manter um código malicioso dentro da sua máquina, sem você notar, para que ele possa ficar mais tempo e roubar mais dados dentro do seu sistema.

Qual a motivação de um hacker? Ainda existe um romantismo em torno de figuras como Kevin Mitnick?
Muito pouco. A maior motivação dos hackers hoje em dia é a financeira. Há alguns anos, o hacker invadia sistemas para provar que podia, para mostrar para os outros que ele era capaz. Como um pichador de rua. Ele burla a segurança, entra no prédio com a lata de spray e vai à cobertura para deixar a sua assinatura. Tudo por status. Hoje, o hacker entra em um sistema para roubar sua senha através do Keylogger (técnica dos piratas para capturar e armazenar todas as teclas que forem pressionadas pelo PC invadido), e pegar o dinheiro dentro da sua conta. Os hackers querem dinheiro.

Qual o último ataque que lhe chamou a atenção?
Existe um tipo de ataque, não tão novo assim, que começou na Rússia e já se espalhou em outros lugares do mundo. Nós chamamos de “distorção virtual”. Basicamente consiste em um hacker aproveitar uma vulnerabilidade de um sistema para criptografar uma pasta, que contenha uma planilha ou um documento profissional ou pessoal importante, para depois enviar um email para a vítima pedindo um preço pelo resgate desse arquivo. É um seqüestro virtual.

O que posso fazer para evitar uma invasão hacker?
Instalar um bom anti-vírus. Não abrir documentos estranhos. Ou melhor: Como Kevin Mitnick costumava dizer, caso você não queira estar sujeito a invasões, ‘Enterre o seu computador longe da tomada’.

quinta-feira, março 15, 2007

O homem refletido

Daniel Consani

“A desinformação vem da profusão da informação, de seu encantamento, de sua repetição em círculos, que cria um campo de percepção vazio, um espaço como que desintegrado por uma bomba de nêutrons, ou por uma bomba que absorve todo oxigênio em volta”.

Esse é Baudrillard. Que, no último dia 6, deixou o mundo das idéias terrestres para se juntar a outros grandes como Sócrates, Maquiavel, Rousseau, Marx e Nietzsche no mundo das idéias celestiais.

Que perda.

“A clonagem é uma maneira de desaparecer. A clonagem é uma multiplicação ao infinito do mesmo, é o sistema do mesmo que recusa a alteridade”.

Pai do conceito do simulacro, Baudrillard, um pessimista inveterado, condenava as noções de reprodução, imagens refletidas e ilusões fragmentadas que tomam de assalto a sociedade contemporânea. Para ele, nossas vidas estão absolutamente descoladas da realidade original das coisas. Na verdade, o francês afirmava que nós vivemos em um mundo virtual que não mais dialoga com a realidade.

Inspirou o filme Matrix. Belíssima obra-de-arte dos irmãos Wachowski, embora criticada pelo filósofo que apontava uma diferença nevrálgica entre suas idéias e o enredo da película. Simples: no filme, o real e o virtual dialogam, já que atitudes tomadas em um campo têm reflexos no outro; para Baudrillard, a sociedade pós-moderna já perdeu o contato com o real e não há mais diálogo. Assim, as pessoas já estariam tão mergulhadas em suas frágeis “realidades”, de consumo e anomia intelectual, que o valor original já se perdeu.

Alguma relação com os replicantes de Blade Runner que não têm conhecimento de símbolos supostamente banais? Toda. A certa altura um andróide não sabe o que um jabuti. Alguém se lembra?

“Os EUA são o grau zero da cultura, possuem uma sociedade regressiva, primitiva e altamente original em sua vacuidade. No Brasil há leis de sensualidade e de alegria de viver, bem mais complicadas de explicar. No Brasil, vigora o charme”.

Para trazer esse papo um tanto mais para a nossa pobre contemporaneidade refletida nas paredes da caverna (como a Prometeu; “só vemos imagens refletidas”, dizia Baudrillard), duas notícias me chamaram a atenção e são provas da aplicabilidade das noções do pensador francês.

A primeira: “Mulher morre após pacto com amante que conheceu pela internet”.

A segunda: “Paquistanês assume autoria de atentados de 11 de Setembro”.

No mundo dos símbolos e dos ícones, um slogan televisivo para encerrar: Orkut e Guantánamo, tudo a ver.

quarta-feira, março 14, 2007

Rapidinhas

Daniel Boa Nova

Segundo pesquisa, nos EUA, os sites de pornografia recebem mais visitas do que os sites de email.



Os estadunidenses são pervertidos?
Ou a pornografia é algo normal?
Se fosse na China, seria diferente?
______________________________________________________

Outra pesquisa, realizada pela Websense, mostrou que 8 em cada 10 funcionários de grandes companhias do Brasa utilizam a rede acessando sites que não têm relação com o trabalho que fazem. O tempo semanal gasto com isso é superior ao gasto nos EUA.

Não fui entrevistado, mas pode botar meu nome aí.
______________________________________________________

E se tivéssemos os números da primeira pesquisa relativos ao Brasil, seria diferente?

Ou os estadunidenses são pervertidos mesmo?
______________________________________________________

Ainda no bumbazul, foi publicado na gringa um livro com charges vetadas pelos jornais de lá. Tipo uma que mostrava o Papa João Paulo II subindo ao céu via papamóvel.

Daí eu paro e penso: existe humor sem ser politicamente incorreto?

O cartunista Jaguar tocou no assunto na Folha de ontem:

FOLHA - Houve um retrocesso no humor brasileiro com relação aos anos da ditadura?
JAGUAR - Sim. Essa coisa de não poder chamar crioulo de crioulo, por exemplo. Fui casado dez anos com uma crioula. Não é pejorativo. Não vou começar a dizer que casei com uma afro-descendente. É uma hipocrisia. Mas a maioria dos humoristas hoje é muito certinha. Criou-se um limite e, se a gente passa um pouco, leva pito. Eu não levo mais porque sou velho e sou o Jaguar. Aí as pessoas dizem: "Ah, é o Jaguar, deixa ele".

Não tô recebendo pela divulga, mas informo que assinante do UOL pode ler a íntegra.
______________________________________________________

Daí que no dia 31 de Março, às 19h30, espero não estar fazendo hora-extra para poder apagar a luz de casa.

Porque, acima de tudo, os australianos são pessoas legais. Os do Outback, pelo menos, servem uma costela que my goodness!
______________________________________________________

E, já que falei em apagar a luz e tá chegando minha hora, que não passe em branco o mais que tardio enterro de James Brown. Já ia tarde a novela lamentável protagonizada pelos herdeiros.

Que o padrinho da soul descanse em paz. Fui.

terça-feira, março 13, 2007

Mente sem lembranças?

Luís Pereira

Até que ponto pode ser saudável mudar a natureza humana? Até que ponto as novas tecnologias podem aprimorar a natureza dos homens ou deformá-las?

Segundo notícia publicada hoje na Folha de São Paulo, cientistas conseguiram apagar com sucesso a memória traumática de ratos condicionados a sentir medo sem afetar outras lembranças do animal.

Tal experiência me traz à memória (mesmo que isso soe engraçado agora) o célebre filme do diretor Michel Gondry e do roteirista Charlie Kaufman, Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lebranças, estrelado por Jim Carrey e Kate Winslet e que conta a história de um cara que decide apagar a ex-namorada de suas lembranças, mas, ao perceber o quanto quer essas memórias vivas, trava uma intensa luta com o próprio cérebro.

Por um lado pode parecer interessante apagar lembranças impetuosamente traumáticas que possam causar sérios distúrbios na personalidade das pessoas. Entretanto, acho que uma severa discussão ética sobre o assunto deve ser promovida, classificando quais tipos de trauma realmente causam perturbação à saúde e se, assim mesmo, merecem ser apagados.

Acredito que estamos constantemente aprendendo com as situações nas quais nos deparamos na vida. Nos mais variados casos, experiências (como o próprio nome diz), por mais trágicas que possam ser, agregam valores, ou seja, ajudam a modelar o ser humano. E por mais que essa modelagem, dependendo da vivência, possa distorcer o caráter das pessoas, isso me parece o curso natural da vida e algo muito complicado de ser mudado.

Imagina se a moda pega (hipoteticamente pensando): um cara inconseqüente que gosta de velocidade sofre um acidente de carro e mata um colega. O trauma é tão forte que ele não consegue mais viver bem com isso, resolvendo, assim, esquecer-se do fato. Passa um tempo e esse cara volta a gostar de velocidade, volta a ser inconseqüente e deixa de ter medo de colocar outras vidas em risco.

Não que eu seja contra a ciência e a sua evolução. Acredito que experiências com o cérebro são muito importantes, e é fundamental que os homens aprendam mais sobre essa fantástica ferramenta do corpo.

O que me preocupa é que os estudos sobre o cérebro estão cada vez mais avançados e as suas práticas devem ser discutidas, como já avisou o perspicaz neurocientista Roberto Lent. Sugiro a leitura da entrevista concedida por Lent à revista Veja, em que alerta sobre os perigos da “medicina cosmética” e a necessidade de uma discussão ética sobre os avanços tecnológicos e as novas práticas da neurociência.

segunda-feira, março 12, 2007

Marcado pelo quê?

por Sara Puerta

Espírito de um tempo. Atitudes e pensamentos que marcam uma época. Isso é Zeitgeist, termo usado muitas vezes para simplificar e objetivar a história.
Por exemplo:anos 60 foram marcados pelo espírito de “paz e amor” e contestação. Anos 80, a vez do “eu”, do consumo. Anos 90, acho que tecnologia. Talvez?

O Zeitgeist do início do século XXI está aí para ser definido. Poderíamos ter como marca da primeira década do ano 2000, o medo do fim do mundo (por conta do aquecimento global), ódio (dos Estados Unidos pelo mundo e árabes pelos americanos) ou espírito globalizado (seja lá o que for, era para ser uma coisa boa!).

Por Eras
Alguns ampliam a análise do Zeitgeist. É o caso de Eric Hobsbawm escritor e historiador (jazzista e amante de futebol e “vermelhaço” (informações importantes sobre a sua nobre personalidade), que dividiu a história do mundo em Era das Revoluções (1789 a 1848), sobre as revoluções industriais. Seguida pela Era do Capital (1848 a 1875), contando a ascensão do capitalismo.

Depois vem a Era dos Impérios (1875 a 1914), narrando o expansionismo e disputa por territórios que culminou nas duas guerras mundiais. E por fim, Era dos Extremos (1917 a 1991) narrando a guerra fria até o fim. Capitalismo x Socialismo no estado mais puro e cruel, sem cortes.

E a história parou aí? Hosbawm poderia escrever a "Era das Conseqüências" , com foco aos ataques ao World Trade Center (quando os livros de história ganharam mais um tópico) e tudo que se sucedeu: ódio, tortura no Oriente, enforcamento visto pela TV e internet. E de pano de fundo: o aquecimento da terra -a inversão do clima, disputa por água e florestas (profetizando!).

E você, leitor ? Qual sua opinião sobre o Zeitgeist desses sete anos? E qual será, na sua opinião, a Era que vivemos?

sexta-feira, março 09, 2007

Apologias à "marvada cachaça"

Apreciando...


E promovendo uma marca de pinga mundialmente conhecida...

Obs: A primeira foto é de Nilton Fukuda, da Agência Estado; a segunda é do Globo Online.

Da série "Bush filho visita o Brasil"

João Prado

Minha intenção não era comentar a visita de bush nesse post. Mas tomado pelas manchetes e ruas e avenidas interditadas, não teve como. Na volta do trabalho para casa dos meus pais, quase chegando, pela Espraiadas, em cada esquina tinham cinco a seis carros da polícia militar e dois da CET. Nem o pessoal que mora nas favelas da região, como a do Piolho e da Rua Palmares, que estão acostumados com as freqüentes duras dos “homi”, devem ter visto tanto giroflex na frente. Esquema forte em toda capital, com quatro mil brasileiros e 200 ou 300 polícias americanos.

Em resumo: não vou aqui fazer comentários sobre quais serão os verdadeiros motivos da visita de Bush filho da p@#$ ao Brasil e, no caso, São Paulo. Parece que as cartas abertas para o público são poucas e fracas: Mr. George não quer baixar as tarifas para o etanol brasileiro, Mr. George decide? Mr. George quer pressão de Lula em cima de Chavez, Mr. George manda? Dúvidas a serem conferidas. O fato é que até os americanos já não gostam dele. Bushinho (chamarei ele assim em homenagem ao dia das mulheres, Sara rsrsrs) tem os maiores índices de rejeição desde que foi eleito. Os buracos são muitos e fundos, como a absurda guerra contra o “terror”, e a pá está na mão do presidente dos Estados Unidos. E ele cava...

Mas para saber qual é realmente o tamanho da sepultura da COISA, tem que entender bem sobre o mainstream, as internas do poder. No mesmo momento em que Bush viaja, seus mercenários agem.

E por aqui, na paulicéia desvairada, manifestações contra a presença do SER DO MAL e o resultado é o de sempre: PORRADA da polícia.

OBS : Olha só o anúncio da rádio sulamérica estampado ontem na Folha e no Estadão.

quinta-feira, março 08, 2007

Boas vindas neurastênicas


E o cheiro de enxofre paira sob a abóbada cinzenta.

A lágrima clara sobre a pele escura

Daniel Consani
“A tristeza é senhora, desde que o samba é samba é assim”, cantou Caetano e a imagem ao lado não nos deixa enganar.

Pudera.

Enquanto o debate acerca da violência no país toma os bancos acadêmicos e as cadeiras de bar, chega o presidente Bush.

É a semana da cólera. Não, são os tempos da cólera como previu Garcia Márquez.

Domingo, 18 de fevereiro, Folha de S. Paulo, Mais!: “Se não defendo a pena de morte contra os assassinos, é apenas porque acho que é pouco. Não paro de pensar que deveriam ter uma morte hedionda, como a que infligiram ao pobre menino. Imagino suplícios medievais, aqueles cuja arte consistia em prolongar ao máximo o sofrimento, em retardar a morte”.

Estas são as palavras do filósofo Renato Janine Ribeiro, estudioso do Iluminismo, ao analisar o assassinato do menino João Hélio. É o ódio libertado de um pensador. E é de assustar, embora o mesmo Janine tenha se retratado na edição do último domingo, 4.

Quanto a mim, só consigo pensar nessa porra de foto, de Marcos Tristão, capa do Globo e da Folha. Trata-se de Edna Ezequiel. A filha Alana, 12, morreu de uma bala perdida durante uma operação da PM no morro dos Macacos, zona norte carioca. Alana tinha acabado de deixar a irmãzinha de dois anos na creche. Voltava para casa, de onde iria para a escola.

Os olhos injetados, as pulseiras. Quatro pulseiras de plástico. Uma delas com a bandeira brasileira. De ponta-cabeça.

Que Edna possa sorrir ao menos uma vez nesse que deveria ser o seu dia de ser congratulada, homenageada, glorificada.

Obrigado a todas as mulheres de qualquer maneira.

quarta-feira, março 07, 2007

Quando surge o osso no lugar do filé...

Daniel Boa Nova

Um dia merda começa sem nada na geladeira e você não dormiu bem. O futebol até tarde da véspera não lhe permitiu as 8 horas de sono recomendadas. E a ferrugem faz doer.

Daí que estamos na padaria preferida. Uma média, um pãozinho e já é. Tudo ótimo, mas por que raios o chapeiro inventa de enfiar a mão sem querer na xícara? Também não precisa tantas desculpas seguidas, beleza, manda outra.

Já no ofício, a esperança é por um dia livre para fazer com calma aquilo que realmente interessa ao indivíduo, mas que se existe uma visão além do alcance, é negócio para todos. Não. Uma pequena coisa atrás da outra e lá se vai a manhã. Não sem antes chegar a notícia de que, mais uma vez (ou como sempre), coube à equipe de bombeiros apagar as chamas. E as próximas semanas não serão tão boas.

Ainda antes do almoço, a cereja do bolo: mais um se juntará ao pelotão. Um recruta com holerite de sargento. Quanto a você, soldado, I´m really really sorry. Daí que o frango com arroz e legumes na manteiga desceu amargo que só vendo.

Cabeça vazia é oficina do diabo e ninguém veio para conversar. Mas a pulga permanece atrás da orelha, pedindo uma consulta. E a consulta adiciona impotência à indignação: nosso recruta foi convocado pelo general. Entendeu? É melhor entender.

Final da tarde. Uma simples ida à loja de conveniência torna-se perrengue, por ser o momento em que a chuva resolve dar as caras. A partir daí, cancelarem de última hora seu programa pós-expediente é fichinha. Afinal de contas, já passa de 20 horas, melhor mesmo é ir pra casa. Claro que no segundo ônibus a passar. Não teve dedo do meio que fizesse o primeiro parar.

Quando surge a idéia de jantar cianureto, eis a redenção. Na forma de uma vizinha senhorinha, das poucas que dão bom dia, boa tarde, boa noite. O último contato do dia com os seres humanos, no elevador:

- Você mora no último andar?

- Moro sim.

- Hmmmm.... É bom porque, se um dia o prédio desabar, você não sofre nada. Fica por cima de todos.

- É... verdade. Mas se um dia pegar fogo...

- Aí você tá fodido!

E o sorrisão com a arcada obturada à mostra. A vontade era convidar pra dar um tapa na pantera, mas ficou para outro dia.

terça-feira, março 06, 2007

Hostilidade ao volante

Luís Pereira

Sinal amarelo: acelere! Encontro dificuldades em compreender os impulsos humanos nos mais variados casos. Em determinadas situações, então, como no trânsito automotivo, essas dificuldades tomam proporções ainda maiores, como se a minha apreensão deparasse com uma estrada movimentada e o tempo chuvoso - nuvens carregadas e raios reluzentes -, cheia de caminhões assustadores e curvas cotoveladas.

No trânsito, somos expostos diariamente a uma complicada prova de consciência do valor humano, em que, ao invés do famoso tête-à-tête, olho no olho, carcaças de ferro substituem o contato visual e carnal, maculando a percepção da existência de vida por detrás das ferragens.

Cria-se, então, uma situação estrambótica, pois as pessoas não agem como normalmente fariam em um contato pessoal, procedendo, em instantes, como se lidassem apenas com máquinas.

Aliado a isso, diferentes vontades, necessidades e destrezas se encontram a cada esquina, dificultando o processo e causando choques – não necessariamente físicos, porém energéticos - em todas as desavenças.

No resultado final da chamada Operação Verão, realizada pela Polícia Rodoviária Federal entre os dias 15 de dezembro de 2006 e 4 de março de 2007, foram registradas mais de 1.400 mortes em 27 mil acidentes nas rodovias do país. Além das mortes, 17 mil pessoas ficaram feridas e foi calculado um prejuízo de R$ 1,5 bilhão com os acidentes.

É evidente que a situação do país é complicada, e esse fato torna-se mais caótico devido às condições pífias das estradas, dos carros deteriorados e das situações adversas de um modo geral.

Entretanto, esses números trágicos poderiam ser minimizados se os condutores fossem mais conscientes e agissem com menos leviandade.

segunda-feira, março 05, 2007

Ele vem aí

por Sara Puerta

O anti-Maomé, George W. Bush, chega ao Brasil dia 9 de março, próxima sexta feira. Já temos programa para quinta-feira. Onde houver manifestação pelo Dia da Mulher, vai haver também protestos contra as políticas do aspirante a “chefão do mundo”, no Brasil e América Latina.

Caso interessar: Aqui em São Paulo, a manifestação será na avenida Paulista, a partir das 15 horas. Saí da Praça Oswaldo Cruz.

Mas a que devemos a honra da visita? “Bushinho” vem conversar com Lula. Querem fazer parcerias (aí! gelou o estômago?). Os dois possuem interesses para o próprio país. Então, isso quer dizer que o aperto de mãos deles será para o bem-estar da nação de ambos? Ledo engano. Os otimistas que me perdoem, mas nos vejo novamente a ver navios.

O Lula quer disseminar o uso do álcool como combustível no mundo -já que é, junto com os EUA, o maior produtor no mundo- e quer mais facilidade para exportar. O Brasil tem a tecnologia, matéria-prima, mas, faltam capital para construir indústrias e estrutura para exportar e alavancar o uso do biocombustível no mundo. Ah! O presidente também quer fazer parte do Conselho de Segurança da ONU.

Ótimo. Falando com as altas cúpulas está resolvido. Os EUA têm money, interesse em levar adiante a construção de usinas em diversas regiões e, é claro, usar o álcool como combustível para cooperar na redução de CO2 no mundo. E assim Bush deixa de ouvir sermões ecológicos.

Fechou para o Brasil, então?

Acho que não vai ser dessa vez. Deu ontem na Folha de S.Paulo: o ministro das relações exteriores, Celso Amorim, já adiantou. Dificilmente as tarifas alfandegárias da exportação serão diminuídas agora. Ou seja, Brasil vai continuar desembolsando uma bolada para fazer o álcool chegar lá fora.

Para o Bush, a conversa é interessante. No entanto, a parceria é mais uma saída estratégica pela direita. O presidente está ansioso para se instalar na América Latina e calar a boca do hermano Hugo Chavez e neutralizá-lo. “Chavez é mais perigoso que Fidel”, disse o texano.

A idéia, portanto, é começar a usar o jardim do quintal (é nóis!) para fazer um churrasquinho do “esquerdista”?

Sobre a cadeira no Conselho da ONU? Putz! Companheiro Lula, não vai dar. Já estava reservado para o Japão.

sexta-feira, março 02, 2007

Para a sua fé valer


João Prado

Matéria publicada hoje no The Guardian, um dos melhores jornais da Europa (e comentada na página do terra), revela o poder dos evangélicos capitalista$ no Brasil. A reportagem traz como mote a recente prisão, nos Estados Unidos, do casal Estevam e Sonia Hernandes, da Igreja Renascer.

Em resumo, a história que, por aqui, já sabemos: o uso da religião e da fé de quem se sente “infiel” para espalhar a corrupção e o crime na sociedade. Um mercado promissor, sendo que a estimativa é de 26 milhões de seguidores. Na câmara dos deputados, cenário que não poderia ficar de fora de uma história como essa, a presença está garantida com 61 evangélicos entre os 513 deputados, católicos, protestantes, macumbeiros e céticos.

Nada contra a turma da saia comprida e camisa fechada no último botão. “Cada um com sua loucura”, como dizem por aí. Além disso, a fé vale muito sim para o cidadão do Brasil lado B. Ela preenche muitas vezes a falta de oportunidade que o poder político não oferece. Os políticos! Ahhhhhhh, sempre os político$!

Se as autoridades quiserem mesmo prender toda a quadrilha do casal Estevam e Sonia, além das outras espalhadas por todo território brasileiro, “sigam o dinheiro”, como dá a letra o informante Garganta Profunda no filme Todos os homens do presidente. Simples assim.

No mais, vale para os estudiosos uma pesquisa de como a fé está sendo “privatizada” cada vez mais. É cd de padre, é terreno no céu.

Bezerra da Silva, um dos maiores intérpretes do samba, além de freqüentador de terreiro que depois se tornou evangélico, cantava o retrato do povão, sua FIEL e eterna platéia: “...paga seu dinheiro para o pastor para fazer sua fé valer...”.

Manual de redação – os 12 mandamentos


João Prado

Sempre duvidar do patrão
Trabalhar de maneira independente e sem seguir ordens
Não ser amigo das fontes
Não aceitar jabá
Ser impiedoso na hora de perguntar e escrever
Não desconfiar da sua própria intuição
Não ficar parado e sentado sob a própria bunda no trono da redação
Gastar mais tempo na rua, procurando notícias e personagens
Esquecer a “imparcialidade”
Não plagiar os colegas
Não achar que o jornalismo está acima do bem e do mal
Não achar que o jornalismo realmente forma opinião...

OBS: as regras do manual podem ser seguidas por qualquer um (jornalista). Não precisa apresentar o diploma e nem se sentir o mago da pena.

quinta-feira, março 01, 2007

Destemperos e idiotices

Daniel Consani

Nos últimos dias tenho me perguntado sobre o que faz com que tantos atritos sejam gerados em entrevistas jornalísticas. Escrevo para tentar descobrir.

Lembro que, nos tempos de faculdade, li o livro “Perguntar ofende!”, escrito por José Nello Marques, bom e velho profissional de imprensa da Rádio Bandeirantes. Apesar de extremamente leve (o que faz com que a obra seja apreciada muito mais com descontração e humor do que com profundidade), inúmeras perguntas idiotas feitas por jornalistas permeiam o livro de cabo a rabo. Recheado de anedotas curiosas, o texto de Marques cita também aquelas velhas e descabidas indagações como: “Você está otimista?”, para o técnico de um time que só precisa empatar para ganhar o campeonato; ou ainda, “Você está abalada?”, para a mãe que acabou de perder seu filho.

O fato é que, depois dessa leitura, jamais voltei a duvidar da capacidade que profissionais de imprensa têm de ser tão idiotas quanto possível.

Na última semana, dois ocorridos desse mesmo gênero tomaram minhas flutuantes idéias. A primeira, claro, envolvendo o técnico do Corinthians, Émerson Leão. A segunda, acontecida ontem com o vocalista da banda Coldplay, Chris Martin.

Pois é. Dois caras sem educação, você pode dizer. O primeiro, no aeroporto, depois de indagado se iria para o Parque São Jorge de táxi ou de carro, perguntou à repórter Marília Ruiz, da TV Bandeirantes, se ela queria ir ao motel com ele. Já Martin, em uma entrevista coletiva, diante da pergunta sobre quais dos três filmes estrelados pela sua esposa, Gwyneth Paltrow, ele mais gosta, questionou qual seria a posição sexual preferida do repórter.

Espera aí. Qual é o lance com o sexo? À primeira vista, tem-se a impressão de que os entrevistados foram absolutamente rudes sem motivo nenhum. De qualquer maneira, e de forma inquestionável, nenhuma razão pode justificar qualquer ato de grosseria, apesar de uma retaliação ser compreensível.

Sabe-se, por exemplo, que, desde que saiu da sala de embarque, Leão avisou à imprensa que não falaria com ninguém. A repórter Ruiz e sua equipe técnica seguiram-no até a calçada do aeroporto e causou o destempero do treinador. Sim, um erro jamais vai justificar outro, no entanto, que fique claro: não há santos como a imprensa nacional tenta criar.

No caso do integrante da banda Coldplay, é mais do que sabido que um artista não gosta quando um jornalista associa sua imagem com a de outra personalidade, simplesmente por estarem juntos ou qualquer coisa assim. Pior: depois da primeira réplica truculenta (“Qual a sua posição sexual preferida?”), um outro repórter elaborou outra pergunta sobre a esposa de Martin. “Você pensa em, algum dia, gravar um disco com Gwyneth Paltrow?” A resposta foi dada com a mesma pergunta irônica. Ou seja, é a exploração do podre, pelo podre. O roto e o rasgado.

Quem são os santinhos da história?