Ponto Jor

quarta-feira, janeiro 31, 2007

ô lelê, ô lalau....

Daniel Boa Nova

Parece brincadeira, mas virou rotina engolirmos notícias como essa de anteontem. A gente se acostumou a falar mal da polícia, do presidente, dos deputados... e os juízes e procuradores ficam de lado. Você vê essa campanha do Ministério Público, pára e pensa: vamos limpar a casa antes de sair na rua?

Queria ver era o Lalau em uma cela hiperlotada, sem água gelada ou ar condicionado. Trocando figurinhas com quem foi preso sem ser julgado, com quem já cumpriu pena e continua no xadrez.

A alegação foi que o condenado enfrentava problemas de saúde, locomoção, alimentação? Parceiro, as condições do sistema carcerário brasileiro não são saudáveis para ninguém e isso não é novidade. Vamos então combinar que podemos abrir as cancelas? Meu palpite é que os índices não ficariam piores do que já estão.

Melhor seria se estes dados estivessem errados: R$ 170 milhões desviados, a multa foi de R$ 1,2 milhão e o cara ainda vai cumprir pena em casa. A pergunta que não quer calar: para onde foi o resto do dinheiro?! Por acaso está guardado para o nosso amigo desfrutar em seu regime domiciliar? É revoltante! Sua soltura pode até estar nos termos da lei, mas não deixa de ser imoral. Não há dúvidas que todos têm direito à defesa, mas o cara já foi condenado! Alô, MP? Não deixem a peteca cair!

Vinte e poucos anos de redemocratização e tem muita gente no poder que parece achar que a História não sofre reviravoltas nunca. Zombam lá do alto, os malditos engravatados com anel de doutor. É bom lembrar: os militares continuam ali, quietinhos no quartel. Mas vai cutucando onça com vara curta, vai.

O pior é que não duvido nada que o livre, leve e solto Luiz Estevão, atual presidente desse clubinho porcaria, volte a ser eleito quando expirar o prazo de sua cassação. Que os eleitores do Distrito Federal me desmintam.

terça-feira, janeiro 30, 2007

O céu de Céu Marques

Luís Pereira

“Céu, o seu teste deu positivo!” Essa foi a resposta que Céu Marques recebeu após ter passado dois meses com broncopneumonia, doença que a fez chegar aos desumanos 27 quilos e despertou a necessidade dos exames de HIV.

O vírus da imunodeficiência humana (HIV - Human Immunodeficiency Virus) destrói os linfócitos – células que defendem o nosso organismo – tornando o corpo vulnerável a outras infecções e doenças oportunistas, que recebem essa designação por surgirem nos momentos em que o sistema imunológico está debilitado. Em outras palavras, esse vírus deixa a imunidade do corpo deficiente, fazendo com que doenças como a pneumonia e o sarcoma de kaposi se aproveitem da debilidade das defesas do organismo para causar danos que, em um indivíduo em estado normal, não conseguiriam.

Jornalista, labuta na Rádio Nacional de Angola, mãe de quatro filhas, detentora da guarda de dois órfãos de guerra e soropositiva. “Caiu-me o céu”, pensou Marques quando a médica lhe passava o triste diagnóstico. E o seu céu apenas começava a desabar.

Nimbostratos e cumulonimbos se formaram com uma intensidade elevada à enésima potência quando Céu levou suas filhas para fazerem o teste. A caçula, com nove anos de idade, estava infectada. “O mais doloroso para uma mãe é saber que tem uma filha soropositiva. Só Deus sabe o que está dentro de mim. Um sentimento de culpa por saber que foi transmitido no meu ventre, mas convicta que não foi intencional, porque não sabia da minha condição, nem a do meu companheiro”.

A AIDS não é congênita. É uma infecção, geralmente, causada por secreções genitais ou sangue. Há algum tempo, receber o diagnóstico dessa doença, conhecida como AIDS (Acquired Immune Deficiency Syndrom) ou SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), significava a indefectível assinatura do atestado de óbito.

Mesmo imaginando a força do choque, Céu chamou o seu ex-marido para conversar e propor que ele fizesse o teste. Mas o contragolpe veio através de uma esquiva egoísta, sórdida e desprezível. “Agora que você já sabe é só fazer o tratamento”, disse ele. O pai de sua filha caçula (as outras eram frutos de um relacionamento anterior) nunca tinha contado nada e já fazia tratamento contra a AIDS há alguns anos.

De uma união que durou 11 anos, a separação súbita, e até então incompreensível para Céu, aconteceu após a morte de um outro filho com diagnóstico indeterminado, fazendo-a pensar: “Seria SIDA?”.

Desesperada, Céu recorreu a amigos e recebeu apoio e coragem para erguer a cabeça e buscar - talvez no além - forças e fôlego para a - quase impossível – batalha ininterrupta de assoprar e afastar a tempestade que paira sob sua abóbada celeste.

Céu indaga: “Diga-me com sinceridade, o que merece um pai que contamina o seu filho e quase o deixa morrer? Esta pergunta tem me martelado muito a cabeça, sem, contudo, encontrar resposta”.

Céu Marques dá uma prova de que o céu é mesmo o “espaço ilimitado onde se movem os astros” e a “região, segundo a crença religiosa, habitada por Deus, os anjos e as almas dos justos”, pois ela não se acha no direito de odiar e condenar o seu ex-companheiro. “Quem sou eu para condená-lo? Mas é uma dor muito grande que carrego sempre que imagino o quanto ele foi cruel até com a própria filha”.

E afirma:

“O que me levou a assumir publicamente a minha condição é que, ao darmos a cara, ajudamos a todos que se encontram na nossa situação”.

“Sempre acreditei na SIDA, porque é uma doença que existe, e tive dois irmãos que morreram com ela, além de outras pessoas queridas”.

“O mais importante para mim é poder continuar a contar com as pessoas que me estenderam a mão na primeira hora, fazer tudo que estiver ao meu alcance para que nunca faltem medicamentos e alimentação, principalmente para a minha filha soropositiva, e que Deus continue a me dar força e coragem”.

Atualmente, graças aos avanços tecnológicos e às pesquisas, baixou o nível de periculosidade da SIDA, deixando de ser uma doença que sentencia a morte para ser considerada uma enfermidade crônica. Ou seja, uma pessoa soropositava – infectada pela doença – pode viver por um bom tempo sem apresentar nenhum sintoma.

A consciência e o coração justo de Céu Marques estão ajudando a clarear o seu nebuloso ambiente celeste e encontrar um caminho mais sereno para ela, seus filhos e as pessoas que a cercam. Mas não nos enganemos, o rumo ainda é difícil e provido de névoas. Porém, com a eminente certeza de que o céu pode esperar.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Soul

Qual o peso da alma? Quanto vale a sua?
Um corpo de uma pessoa de vinte e poucos anos tem mais ou menos 60 kg de músculos, água e (muitas vezes de odiada) gordura.

Existe um filme chamado 21 gramas, que explica sobre o “emagrecimento” das pessoas ao
morrerem. Quer dizer, o ponteiro da balança desce um pouquinho ao falecer, porque a alma se desprende do corpo. Então, a alma tem peso. E quer saber? Eu acredito que ela pesa um bocado.

Eu sinto a alma como aquele “formigamento” nas pernas, nas mãos. Aquela voz interior que não para de repetir “Vai andando, vai...”, uma parte viva, mas sem matéria, sem células. Não dá para ver, mas dá para sentir, sim.

Ela é o que dá vontade, que faz levantar. E isso não tem nada a ver com intelectualidade, é puro instinto. Não diria que a de algumas pessoas pesa mais, mas algumas têm mais força.

I´m soul man, já dizia o refrão da bela música de James Brown. O negão aconselha: não se preocupe, trombe os obstáculos, as vergonhas...é o que ele diz e o que nossa alma nos indica a fazer.

Uma vez o Carlos Lessa acusou o ex - presidente Fernando Henrique Cardoso de ser um sociólogo de “alma seca”. Tá vendo só. Até os comportamentos egoístas são decorrentes da falta dela.

Está em música, em frases, em poemas, em análises filosóficas – quanto pesa a alma do seu vizinho acomodado? Dos “guerreiros”?

Qual o peso das almas das vítimas que todos os dias ficam estampadas em fotos de jornal com manchetes que já não nos chocam mais: “Carro bomba explode em Bagdá e mata 80 pessoas”

Quanto pesava a alma do Gandhi? Dos sensíveis? Dos que tem compaixão?

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Que porra de cidade!!! Eu te amo.

João Prado

Que certas coisas nunca mudem. Que os paulistanos amem e odeiem cada vez mais essa metrópole. Que o mestiço seja cada vez mais a nossa marca, o nosso cartão postal para gringo ver. Que o japonês da Liberdade “pegue” a loira de Perdizes, que a loira “pegue” o preto do Jardim Miriam, e que todos se esbarrem algum dia novamente pelas ruas de sampa. Que os manos, os verdadeiros, que moram depois da ponte João Dias, continuem sendo possivelmente o novo quilombo de zumbi. Que os Racionais continuem como os melhores cronistas da cidade, ao lado de Tom Zé e outros nordestinos... “são quase todos pretos”... Que o time do Juventus tome o lugar do São Caetano e nunca mais fique de fora de um campeonato paulista e que o corintiano continue sendo o cara mais chato e fanático dos torcedores. Que a noite paulistana dispare cada vez mais como uma das melhores do mundo, e que os bares e botecos traduzam cada vez mais também o que muitos de nós não conseguimos perceber. Que a Mercearia São Pedro dure mais 40, 50 anos e que o Seu Antônio, o cozinheiro fodão do rango de lá, possa um dia contar e registrar suas histórias de quando chegou aqui em São Paulo, vindo do Recife: “São muitas rapaz... Muitas coisas”.

“De tanto te amar e necessitar de você, eu te odeio”. Que o trânsito pife de vez e que os motoristas abandonem seus carros em um ato de extrema loucura. Que os bancos (Boston) devolvam os prédios do centro e que a polícia federal deixe os ambulantes em paz e pegue os peixes grandes – a Dona Daslu ainda está aí, mais cínica do que esse blogueiro. Que os tucanos saiam logo do Palácio dos Bandeirantes - não tem muita coisa melhor do que eles, mas já estão lá há muito tempo. Chega! Que todos os projetos anti-pobre do governo paulista fracassem. Que a classe média daqui seja menos apavorada... Não há muito que temer. Que os heróis anônimos dessa cidade vivam mais. Que o próximo tiroteio seja breve e a música não pare nunca!

Que nós, moradores da cidade-perdida, sejamos duros com ela o tanto como ela é dura com a gente. Parabéns pelos 453!

Agora já vou indo. A morena me chama, a cerveja tá gelada e o Adoniran já está rolando no cd player.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Entrevista: Juca Kfouri

Daniel Consani

O ventilador girava, mas parecia também ser vítima do calor extenuante. Estava na sala de espera do prédio da Rádio CBN. Passei as mãos pelas têmporas. Estavam molhadas. Saquei da bolsa um bloco de papel e uma caneta e comecei a revisar as perguntas que faria para Juca Kfouri. Tinha as mãos frias.

Crescera acostumado a ver e ouvir Juca, sempre com os cabelos empertigáveis e o tom de voz teso, no programa Cartão Verde, da TV Cultura. Tinha-o como exemplo de bom jornalista, aquilo no qual eu gostaria de me transformar um dia. E ainda o tenho como bom exemplo, que fique claro.

Passados oito minutos, Juca apareceu. Calças cáqui, camisa branca, chaves de seu automóvel em mãos. Alguns fios de cabelos nem tão empertigáveis. “Olá. Você é o Daniel? Vamos subir?”. Um grunhido qualquer foi o que consegui pronunciar.

Fomos para uma sala no segundo andar e começamos a entrevista (que acabaria naquela mesma sala, depois de passar por dois estúdios onde Juca apresentou o tradicional programa esportivo, CBN Esporte Clube). Depois de ligar o gravador, minhas mãos não mais estavam geladas. Senti que havia subido um degrau, e era um jornalista um pouco melhor agora.

Qual é o principal defeito do jornalismo esportivo brasileiro atualmente?

É a promiscuidade. Você não sabe se o jornalista é garoto-propaganda, empresário de atleta ou promotor de evento. Por exemplo, como é que eu posso cobrir com isenção um evento que eu mesmo promovo? Como posso fazer propaganda da cerveja que patrocina a CBF e ser crítico em relação à CBF? Eu sou empresário do atleta e dou nota para ele no jornal do dia seguinte. Pode? É muita sacanagem.

Qual o seu posicionamento com relação à influência da publicidade no jornalismo?

Em um mundo capitalista, a publicidade é essencial para qualquer veículo jornalístico. Na verdade, ela é a garantia de independência, porque se não houver publicidade da iniciativa privada, esse veículo vai depender de ajuda do governo. Agora, há que se separar o que é liberdade de imprensa e liberdade de empresa. Estará fazendo mau jornalismo aquele veículo que puser à frente do interesse público, os seus interesses empresariais. O jornalismo carrega uma função inalienável de prestador de serviço público. Agora, publicidade tem espaço determinado e deve se limitar a este espaço.

Quais são os principais problemas inerentes ao fato de um jornalista fazer merchandising?

A única coisa que o jornalista tem para vender é a sua credibilidade. Na hora em que o leitor, o ouvinte, ou o telespectador sabe que aquele testemunhal é pago, ele se permite desconfiar de qualquer outro testemunhal que aquele jornalista venha a fazer. O exemplo é muito simples: como é que eu posso ser colunista econômico e fazer propaganda de um banco? Não será inevitável que, quando você me vir elogiando o banco para o qual eu faço propaganda, você diga: “é claro, ele é garoto-propaganda daquele banco”? À mulher de César não basta ser honesta, tem que parecer honesta.

Mas você acha que o interlocutor não consegue discernir quando aquela figura do jornalista está dando uma informação jornalística ou promovendo uma marca?

Não é que ela não consegue discernir. Acho até que ela discerne, mas não respeita. Vou te dar um exemplo: durante muito tempo elogiei abertamente a parceria Palmeiras/Parmalat. Se você me diz que o leite longa vida Parmalat é o melhor leite do Brasil, como é que poderia apoiar essa parceria sem se constranger? Na nossa profissão a gente já comete erros demais. Erramos todo dia uma barbaridade. Não precisamos de mais isso.

Não existe meio termo?

Não. Sabe por quê? Porque com princípio você não negocia. Isso não é fundamentalismo. Eu nunca fiz nada que ferisse um principio meu. Reitero: cansei de fazer coisas que não eram as que eu achava que devia fazer, mas eram todas elas, coisas que não feriam meus princípios. Eu não torturo alguém para saber onde é que está o meu filho seqüestrado. Eu perco o meu filho. Vai ser a maior dor da minha vida, e eu provavelmente não irei suportar. Mas eu não me animalizo a ponto de fazer um troço desses.

Você já perdeu muitas oportunidades de trabalho em função dessa sua postura sólida?

Tenho refletido muito... Uma coisa que eu não quero, é plantar de mártir, de exemplo a ser seguido. Não é nada disso! Já fiz uma porção de besteiras na vida. Não tenho vergonha de nenhuma delas, mas já errei demais. Mas esse meu jeito e minha postura me fizeram e me fazem muito bem. Eu moro em um apartamento que eu jamais imaginei que pudesse ter, tenho um carro que não pensava que pudesse ter, vou a Europa todo ano com a minha esposa. Ser assim dá certo. Não precisa se prostituir. Não sou milionário, vou ter que trabalhar até morrer, mas e daí? Ah, eu troquei a RedeTV! pela TV Cultura? Troquei 60 por 15? E eu te pergunto: 15 é pouco?

E quanto ao futuro do jornalismo esportivo brasileiro, Juca?

Acredito que vai ser melhor. Vem uma molecada boa por aí. No Lance! tem uma porção de gente boa, na Folha também. Eu acredito que a humanidade evolui. Tenho certeza que, por mais que aparentemente hoje nós olhemos e digamos “perdemos a guerra”, daqui a 10 ou 15 anos essa farra dos camelódromos terá terminado. Os que fizeram terão ficado milionários e estarão rindo. Mas isso vai acabar.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

ontem

Daniel Boa Nova

Se você não trabalha em um local que te dispensa no seu aniversário, pode ter certeza: quando chegar o dia, vai dar merda no trampo. Falo isso por experiência própria.

Ano passado foi algo atípico... Se bem me lembro, eu estava no terceiro dia do trabalho novo e ainda sem precisar botar a mão na massa. É bem verdade que eu não contei para ninguém e isso deve ter contribuído para o êxito em sair no horário certo. Imagina a situação: "Oi, eu sou o Daniel e comecei a trabalhar aqui anteontem. Ah, hoje é meu aniversário". Se eu já não gosto de avisar para amigo ("Fala meu! Você não sabe: hoje é meu aniversário e você se esqueceu"), imagina para quem eu mal conheço. Daí que consegui driblar as Leis de Murphy naquele ano.

Mas neste não teve jeito: terça-feira e minha chefe de férias. Um quase-feriado. Fiquei com uma responsa burocrática e não queria dar brecha. E sabe essas coisas que te estressam porque quem decide não é você e sua posição acaba sendo de leva-e-traz, o único ciente do prazo correndo? Cara, não sei como ainda não desenvolvi uma úlcera. Deve ser porque nunca fui ao médico do estômago; devo estar mal-informado. Já devo ter umas quatro com a quantidade de café que tomo. Isola!

Voltando: no final do dia, a resolução foi se virar nos 30. E te confesso que até achei que me facilitou a vida, passou a só depender de mim. Mas era algo que eu imaginava desde o início e não tem frustração maior do que ter absoluta certeza de que, pô, se eu soubesse...

Tudo isso para dizer que eu gostaria muito de ter comentado algo de relevante que aconteceu nos últimos dias. Tipo o MC Leozinho cobrando milhões para incluir seu "Se ela dança, eu danço" em uma campanha publicitária. Ou sobre a Bilu "Tetéia" Villela, suplente de vereador que se passou por titular para ganhar pontos em cima da tragédia da cratera. Ou sobre os indicados ao Oscar - Babel mais especificamente, que eu vi no último finde.

Mas, no final deste dia (em) especial, tudo o que pude fazer era escrever uma bela de uma desculpa, porque não deu. Bem sabemos que desculpas não fazem de ninguém melhor pessoa. Mas você também não me deu os parabéns.


EM TEMPO:
Baladinha hoje, Rua Rodésia, 134, Vila Madalena. Nâo paga para entrar e a cerveja é de garrafa. Sigam-me os bons!

terça-feira, janeiro 23, 2007

A fascinante ambiência celeste

Luís Pereira



Estamos vivendo um fato raro nessas semanas. Descoberto em agosto do ano passado, um cometa extremamente brilhante pode ser observado pelos terráqueos que vivem no hemisfério sul.
O astro acompanhado de cauda luminosa, McNaught, batizado com o nome de seu descobridor, o astrônomo australiano Robert McNaught, é o mais brilhante em, pelo menos, 30 anos.
Segundo Robert, a melhor semana para observar o cometa é esta, pois a lua pode atrapalhar a visibilidade dentro de uma semana.
Para apreciar o fenômeno, os observadores devem esperar o sol baixar e olhar na direção do poente, de um local onde o horizonte esteja desobstruído e a poluição e a neblina não estejam em demasia.
Ou seja, se você é paulistano, como eu, boa sorte!
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Foi descoberta recentemente a matéria escura. Ela compõe 80 % da massa do Universo e determina a estrutura do cosmo. A entidade é hoje um dos principais mistérios da ciência, pois ninguém sabe dizer o que é, mas um mapa feito a partir de imagens do Telescópio Espacial Hubble começa a revelar onde ela está.

A matéria escura recebe esse nome porque, ao contrário da matéria visível - os átomos que formam estrelas, planetas e pessoas - , ela não emite luz nem nenhuma outra forma de radiação. A única forma de detectá-la é por meio de sua força gravitacional, que atrai a luz emitida pela matéria comum e deforma as imagens das galáxias.
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Será que Saddam Hussein pagou todos os seus pecados na terra ao ser condenado à forca pelo tribunal de cassação iraquiano?
Será que ele realmente se redimiu, ou estava com medo quando pediu a reconciliação de iraquianos, árabes e curdos?
Será que o enforcamento lhe proporcionou a redenção?
Pois, olha quem foi visto sorrindo na lua:

Pode?

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Incomodada

Sara Puerta

OK! Eu vou estrear no blog. Humildade às favas, já na nossa primeira reunião pensamos que o PonJor poderia futuramente virar uma rádio, uma rede de tv, um jornal, um dirigível, uma marca, um estilo de vida, enfim, qualquer coisa...

Bom, o texto de largada, então, não pode ser tímido (já que os planos não são muito rasos). Soltar assim de primeira, tudo que está me incomoda, que eu odeio, que eu acho errado e apontar soluções, não é uma boa estratégia de marketing, afinal, perdeu o mistério, perdeu o encanto.
Ponto Jor não é um diário virtual, é um espaço de “terra virtual” - um terreno liberado para experiências de uma sociedade alternativa - cedido gentilmente para nós, sem que tenhamos que reconhecer firma, fazer exame médico, ter assinatura reconhecida, nada...a única exigência foi um nome inédito.

O PontoJor ainda ficou pronto na hora. Nem ouvimos o clássico: “Dentro de dez dias vocês devem estar recebendo uma senha para poder estar acessando...”.

Chega de “embromation”
Tentei fazer a minha apresentação do blog, agora só resta saber do que vou escrever hoje. Segunda-feira chuvosa, pós-fechamento insano, chefe de férias, cerveja com amigos mais tarde, feriado emendado daqui a três dias... Poderia escrever como estou feliz e apaixonada, melhor fase da vida. Assim, sem política, sem discussão, só isso.

Espera. Uma vez o Raul disse:“Mas e agora para fazer sucesso, para vender de disco de protesto, todo mundo tem que reclamar.”
Certo. Então, poderia dizer que mesmo estando tudo ótimo, estou incomodada e aí, encarnar um Álvares de Azevedo. É, mas não dá para viver de deprê todo dia.

Bom. Chega de crise existencial porque assunto não falta: crateras que se abrem, pastores de igreja presos (é, a casa caiu, e não adianta culpar o demônio, porque ele não esconde dólares na bíblia), novo plano econômico (dizem que esse vai fazer o país andar, sem diminuir gasto social), começo de campeonato paulista (Timão? Vai bem, oras duas vitórias seguidas não é para qualquer um), pois é, assuntos para boteco ou para falar com o vizinho no ponto de ônibus não faltam.

Entre tantos assuntos de capa de jornal, tem um meio abafado: está rolando a sétima edição do Fórum Mundial Social, aquele acampamento de hippies em Porto Alegre que serve de palco para umas discussões sobre o futuro com desenvolvimento e justiça social, - ou será o contrário. Dessa vez, não é no Brasil, é no Quênia, na capital Nairóbi. Vai até quinta-feira e tem 80 mil participantes.

FATOR DE PREOCUPAÇÃO:
Certo. O Fórum Social é lindo. Mas não consegue o efeito que deveria ter. As manifestações e discussões são sempre bem-vindas, mas caminham bem longe das ações. Não existe um identidade, união. Não dá para saber se é feito por dirigentes de países ou grupos independentes. Não existe um tema, um foco, um assunto a cada ano para ser resolvido. E acaba caindo na falsa bondade dos G 8 que querem facilitar o comércio um com os outros, minando o desenvolvimento de países pobres.

Eu sou a Sara. Muito satisfeita pelo convite de entrar para o PontoJor.No caminho do bem, acredito eu.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Mea-Culpa

João Prado

22h57 – Abro a porta e tiro os sapatos. São anotações em pedaços de papel. Hoje tenho que escrever meu primeiro texto nesse blog. A pauta tá na cabeça: o buraco nas obras do Metro em Pinheiros – ou seriam as vítimas do acontecido? Já se passaram muitas horas desde que estive lá e percebo que posso já não estar mais totalmente informado sobre o assunto. Nóia besta! Lembro que as autoridades competentes, governo e construtoras, não costumam informar muito, além do que são de interesse delas. Nada de novo, sobre as antenas de tv.

Há 15 horas, estava eu em um dos locais reservados para a imprensa (parecido com uma tenda de praia), a poucos metros da cratera, com a missão de colher informações para publicar no PontoJor. Em outro local, também uma tenda, os parentes das vítimas. Difícil e fazer pergunta nessas horas... Você se sente um babaca! Não me atrevi. Afastado dali, perto dos carros da imprensa, o assunto em uma roda, composta de repórteres e cinegrafistas, era a vitória do Corinthians. Parei para tomar um suco, comprado no carrinho de um tiozinho gente-fina que estava por ali na marginal. Perguntei para ele:

- Você viu as meninas que estavam entregando Red Bull por aqui?
- Não. Mas ouvi no rádio uma notícia que comentava sobre isso, respondeu o tiozinho.
- Veio oferecer energético na hora errada, respondi de novo.

O tio me olha, com seu bigode branco contrastando com a pele preta, é atira sin perder la ternura:

- Até aí eu vendo suco e você está tomando um. Mas o meu não faz voar e nem consegue entrevista.

Na seqüência somente digo que o suco dele veio em uma boa hora (realmente minha garganta estava seca), e que não julgava as meninas da promoção sem noção da bebida, e sim o oportunismo dos agentes marketeiros em aproveitar a tragédia para vender a imagem dos seus produtos.

Na primeira cobertura para o blog, atirei no próprio pé. Novidades? Mr. Google encaminha. Estimam-se sete corpos, sete enterros. A Pergunta é: qual o peso desses corpos para o tal Consórcio Via Amarela - integrado pelas empresas Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Correa e Andrade Gutierrez -, responsável pelo desastre na estação Pinheiros de Metro? Qual o peso deles para o atual, o antigo e duradouro governo tucano em são paulo babilônia, também responsáveis pela obra?


Minhas apostas: a CPI proposta para investigar as obras da Linha 4 não dará em nada. O Red Bull ainda voará nas asas do cifrão. As famílias irão receber... Bem, as famílias terão que continuar vivendo como todas as outras vítimas do poder público e privado. As empreiteiras vão continuar financiando campanhas e governos, como tem acontecido há anos e com todos os partidos envolvidos.

E eu? Escrevo o meu primeiro texto no blog. Mea-culpa.

23h43 - Feliz pela estréia do PontoJor.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Reflexão acerca de crateras

Daniel Consani

Em tempos como esses, em que a reflexão e o pensamento crítico são marginalizados por supostos bons interlocutores, me pego a pensar sobre crateras (exceção feita àquela ocorrida na estação Pinheiros do metrô paulistano).

Elas apresentam os mais variados aspectos e tamanhos. Do aumento da intervenção estadunidense no Iraque à sétima edição do Big Brother Brasil, 2007 já se mostra como um ano em que as crateras, os buracos, os vazios imperarão. Sendo assim, salve o marasmo intelectual, tão estimado por muitos veículos de comunicação e cultivado com compaixão descabida por grande parte da classe média brasileira, que se pauta por capas de Veja e novelas das oito.

Que essa inércia covarde seja bem-vinda e faça de Arlindo Chinaglia o presidente da Câmera dos Deputados; que transforme o crime organizado tupiniquim no verdadeiro Estado de Direito; que mantenha o crescimento econômico brasileiro em patamares pífios, afinal de contas vêm aí R$ 6 bilhões do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), embora tenham esquecido de dizer que os ultrajantes 4,5% do superávit primário serão mantidos.

Desnecessário dizer que o tom irônico e catastrófico do parágrafo anterior seria facilmente suprimido caso este blogueiro não tivesse se engendrado em linhas tão próprias a Schopenhauer, mas aqui sou obrigado a citar Gramsci: “pessimista na análise, otimista na ação”.

E talvez seja essa uma boa maneira de me apresentar, afinal de contas era o que eu realmente gostaria de fazer.

Então... Olá, sou Daniel Consani, pessimista na análise, otimista na ação. Ou qualquer coisa assim.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

O ofício de despachante doméstico

Daniel Boa Nova

No final do ano passado - thanx god! - tirei uma semana. Há quase 02 anos que eu não tinha tanto tempo livre. Dezembro, sol, verão, vamos a la playa? Mas que nada: é hora de botar a casa em ordem.

Fazia alguns dias, eu preparava o espírito para a tarefa supostamente simples que é se desvincular de um prestador de serviços. Sei bem quanto mede meu pavio e uma boa dose de paciência teria de ser gasta nisso. Primeira parada: Telefonica.

Liguei no 10315 e segui cada passo até ouvir uma voz humana. Que eu não tinha certeza se era o departamento correto mas o intuito era cancelar a assinatura da linha e se não seria possível me transferir para a pessoa indicada, por gentileza. Alguns minutos de “Let´s Get it On” e outra voz. Não, você não está entendendo: me mudo em 15 dias e, infelizmente, vocês não atendem onde estarei morando. Uma carta de próprio punho esclarecendo? Perfeitamente. Fiz na mesma hora. E ainda dei sorte: pesquisando o cep descobri que a caixa postal ficava na mesma agência onde eu postaria.

A missão seguinte era cancelar o Terra. Fácil. Primeira ligação e logrei êxito. Só um pequeno problema: enquanto o Speedy dependeria da chegada de minha carta para iniciar qualquer procedimento, o Terra cortou o acesso no ato. É claro que eu viria a pagar o mês inteiro, mas enfim, o erro de cálculo foi meu. Liguei para o representante da Net na sequência, só que os técnicos viriam apenas na sexta e ainda era terça. Passar uns dias sem conexão com a semana livre? Problema algum. Saí na rua com a carta em uma mão e a calça para o tintureiro na outra. Já disse que tinha que botar a casa em ordem?

Ainda era dia e fui parar no Shopping Eldorado. Dizia o site que eu ganharia um celular de graça no plano que eu queria e a loja da Claro era ali. Bastante movimento e sabe aquelas maquininhas de tirar senha? Então, tinha uma funcionária encarregada de entregar o papel para quem chegasse. Queria me servir sozinho, mas fui logo abordado: estou aqui para comprar celular e me tornar cliente, ok?

Ganhei uma senha diferenciada. Esperei um tanto dentro dos limites do possível e percebi que o anúncio de minha senha despertou a fúria em quem já esperava além do suportável. A situação criava uma péssima impressão sobre o tratamento que eu viria a receber uma vez fisgado, mas no momento o problema não era meu. Saí com o celular no bolso e uma nova conta por vir.

Saldo final: passei do fixo para o pós-pago, do Speedy para o Virtua, da TV aberta para a cabo. Na ponta do lápis a conta é a mesma só que com mais qualidade de vida. Isso ao custo de um dia livre, coisa rara para o trabalhador comum – muito embora a insatisfação com os serviços que nos prestam seja quase onipresente. Claramente, existe toda uma demanda não-explorada e um mercado em potencial.

Alguém quer contratar meus serviços?

terça-feira, janeiro 16, 2007

Quem somos nós?

Luís Pereira

Somos todos jovens jornalistas. É com imenso prazer que venho, por meio desse texto, inaugurar esse blog, dando, assim, um importante passo, junto com grandes colegas (na profissão) e amigos (na intimidade), nessa longa jornada que ainda temos pela frente no exercício de nossas profissões. Sim, jornada de jornalistas jovens que, um dia, no início de suas carreiras, resolveram criar um espaço digital em comum: PontoJor.

Nesse momento, você pode estar se perguntando: “Por que PontoJor”? Acredite, eu tenho diversas explicações para justificar esse nome, mas prefiro, na ocasião (e pode surgir algum dia em que resolva escrever um texto sobre esse nome), que você ative os seus mais peculiares sentidos e utilize a curiosidade, a criatividade e a imaginação para, se possível, criar as suas próprias conclusões. Também não é um nome complexo a ponto de exigir uma análise e uma compreensão hiperaprofundada. Uma vez conhecido o universo que nos rodeia e que nos permite reflexão, acredito que esse nome possa ser absorvido quase que por osmose.

Esse blog terá como fundamento discorrer sobre assuntos factuais que acontecem em todo o mundo e, até, além da esfera terrestre. Somos radicalmente contra a censura e compreendemos a importância da pluralidade de opiniões, características e ideologias. Com bases nesses conceitos, teremos em cada dia útil da semana uma diferente cabeça pensante se expressando.

Não existe nenhuma razão, a não ser a paixão comum pela escrita, que nos motiva a criação desse espaço. Porém, pretendemos, sim, abraçar causas e defender ideologias que acreditamos serem mais justas para a evolução da sociedade que povoa esse planeta.

Imaginando um hipotético futuro saudosismo (não muito distante, espero), quem sabe um dia não poderemos olhar para trás e sentir orgulho de ter criado o PontoJor. Perceber que desenvolvemos uma importante ferramenta tanto para uma guinada de nossas carreiras quanto para a formação de uma opinião ética e consistente.

Enfim, como já disse anteriormente, é com grande prazer que dou o pontapé inicial no PontoJor. Espero que você tenha, aqui, bons momentos de leitura e que possa interagir com idéias, opiniões, discussões e sugestões sempre que possível.

Meu nome é Luís Pereira e escrevo nesse espaço às terças-feiras.

Muito obrigado e até lá.


* Esse texto não é institucional e não expressa, necessariamente, a concepção do que é o PontoJor para todos os membros desse blog coletivo.

* O asterisco acima reforça a idéia da importância da pluralidade de opiniões, características e ideologias.

domingo, janeiro 14, 2007

ESTRÉIA