Ponto Jor

quarta-feira, outubro 31, 2007

Nação Afromanguebit

Daniel Boa Nova

Esse é o alvorecer de tudo que se quer ver
Sem fazer sombra na melhor hora do sol

Já não é de hoje que a Nação Zumbi atingiu um nível de excelência que a permite tomar os rumos que desejar. Liberdade artística, por assim dizer, que se reflete nos vários projetos em que seus integrantes embarcaram nos últimos anos: Los Sebozos Postizos, Orquestra Manguefônica, Maquinado, Pra Mateus Dançar, Brasilintime, algumas trilhas sonoras e por aí vamos embora.

Apesar de não serem das que mais vende, seus shows têm sempre casa cheia. E, mesmo quem não gosta da Nação, não chega a desgostar. Não à toa, a banda mudou da Trama para a DeckDisc – segundo os próprios, foi uma proposta irrecusável.

O primeiro lançamento na nova casa é Fome de Tudo, que antes de chegar às lojas já estava na internet. Talvez não seja demais afirmar que, desta feita, a Nação Zumbi cometeu sua obra-prima.

Fome de Tudo é o último capítulo de uma trilogia iniciada com Nação Zumbi (2002) e que passou por Futura (2005). Fase essa em que a banda descobriu seu real caminho e aprofundou até a essência as diversas influências que já vinham desde a época de Chico Science. Foi com esses três trabalhos que a Nação adquiriu status próprio, uma vida além do falecido gênio fundador. Daqui pra frente, sabe lá onde vão parar.

Redundância à parte, a produção de Mario Caldato Jr está impecável. Ouvir Fome de Tudo com fones é uma experiência surpreendente, com novas descobertas a cada momento.

A melodia do vocal e a levada da percussão em Onde Tenho que Ir. O tempo quebradiço da bateria em Carnaval. O baixo, menos percebido do que sentido, no ótimo refrão de A Culpa. As texturas psicodélicas da guitarra em Assustado. Os músicos, creio, dispensam apresentação.

Inferno, com a participação (discreta) da cantora Céu, tem uma atmosfera sombria e um solo de guitarra poderoso. Experimente ouvi-la em uma estrada, na madruga. Um rolê na marginal também serve.

Sabe aquela faixa que quando acaba você coloca de novo e de novo e de novo? Que você não sabe explicar o por que, mas te conquista de uma maneira que nenhuma outra consegue? Assim como em Futura, ela existe e foi deixada para o final. No Olimpo, lá de longe, remete a Computadores Fazem Arte. Uma melodia linda, uma letra filosófica - aqui Jorge DuPeixe fez um ótimo trabalho.

Apesar de ser possível encontrar Fome de Tudo na internet, vale a pena comprar o cd porque a arte ficou especial. Digamos que seria uma última caridade por esse formato que já é relíquia. Se não for o caso, o show será em breve.

8 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Daniel, vc esqueceu do ótimo Rádio Samba.
Tb acho esse Fome de Tudo o melhor da Nação.

04:21  
Blogger Paulinha said...

Nossa, abrir o PontoJor e ler sobre algo que eu estava seca pra ler não tem preço. Eu já tenho o Fome de Tudo, baixei na net. Não consigo parar de ouvir Bossa Nostra, que letra foda!
Enfim, DuPexe inseriu outro conceito na Nação, algo mais eletrônico e crítico do que Chico talvez. E pegando carona no Maquinado então, explodiram blips e blops na sonoridade. Eu gosto mais dessa fase, sem dúvidas. E no próximo show, como sempre estarei lá imitando "caranguejo" mas dessa vez mais muderninho. =)
Eu vim com a NZ!!! =D

09:13  
Blogger Daniel Boa Nova said...

Anônimo,
não esqueci do Rádio S.A.M.B.A, amo ele. Só o identifico mais com a "fase" Chico Science. Mais maracatu, etc e tal.

Paulinha, também baixei o Fome de Tudo. Me sinto um pouco com a consciência pesada, mas já deixei de comprar cd faz tempo - fora que o site da DeckDisc deu pau quando tentei. Por isso o show é a cara.

10:37  
Blogger João Prado said...

Bom mesmo ver uma "resenha-crítica" como essa logo de manhã. Xarlis, outra fita é que (irônico) tem menos tambores - Com Futura também rolou isso. No Olimpo é linda mesmo... fiquei fraco.

Em relação a Inferno na Marginal, eu te ligo pro role! até lá mano

10:51  
Anonymous Anônimo said...

Estradinha de terra na madruga voltando da balada vira cenário perfeito. Obra-prima, impossível parar de ouvir. Copiei o cd mas vou comprar, "original não morre fácil". abs!

10:55  
Anonymous Anônimo said...

Daniel, baixei o Fome de Tudo e comprei o original.
Garanto que tem uma bela diferença, tem discos que o mp3 é quase igual, mas alguns outros(esse é o caso da Nação) não chega nem perto.
Sou o mesmo cara que falou do Radio Samba lá em cima.

Um abraço
Jose Henrique

05:00  
Blogger Daniel Boa Nova said...

Valeu, José.

Fica dada a dica.

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10:24  
Blogger Daniel Boa Nova said...

Pronto, comprei.

Remorso zero.

14:19  

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