Ponto Jor

quinta-feira, março 15, 2007

O homem refletido

Daniel Consani

“A desinformação vem da profusão da informação, de seu encantamento, de sua repetição em círculos, que cria um campo de percepção vazio, um espaço como que desintegrado por uma bomba de nêutrons, ou por uma bomba que absorve todo oxigênio em volta”.

Esse é Baudrillard. Que, no último dia 6, deixou o mundo das idéias terrestres para se juntar a outros grandes como Sócrates, Maquiavel, Rousseau, Marx e Nietzsche no mundo das idéias celestiais.

Que perda.

“A clonagem é uma maneira de desaparecer. A clonagem é uma multiplicação ao infinito do mesmo, é o sistema do mesmo que recusa a alteridade”.

Pai do conceito do simulacro, Baudrillard, um pessimista inveterado, condenava as noções de reprodução, imagens refletidas e ilusões fragmentadas que tomam de assalto a sociedade contemporânea. Para ele, nossas vidas estão absolutamente descoladas da realidade original das coisas. Na verdade, o francês afirmava que nós vivemos em um mundo virtual que não mais dialoga com a realidade.

Inspirou o filme Matrix. Belíssima obra-de-arte dos irmãos Wachowski, embora criticada pelo filósofo que apontava uma diferença nevrálgica entre suas idéias e o enredo da película. Simples: no filme, o real e o virtual dialogam, já que atitudes tomadas em um campo têm reflexos no outro; para Baudrillard, a sociedade pós-moderna já perdeu o contato com o real e não há mais diálogo. Assim, as pessoas já estariam tão mergulhadas em suas frágeis “realidades”, de consumo e anomia intelectual, que o valor original já se perdeu.

Alguma relação com os replicantes de Blade Runner que não têm conhecimento de símbolos supostamente banais? Toda. A certa altura um andróide não sabe o que um jabuti. Alguém se lembra?

“Os EUA são o grau zero da cultura, possuem uma sociedade regressiva, primitiva e altamente original em sua vacuidade. No Brasil há leis de sensualidade e de alegria de viver, bem mais complicadas de explicar. No Brasil, vigora o charme”.

Para trazer esse papo um tanto mais para a nossa pobre contemporaneidade refletida nas paredes da caverna (como a Prometeu; “só vemos imagens refletidas”, dizia Baudrillard), duas notícias me chamaram a atenção e são provas da aplicabilidade das noções do pensador francês.

A primeira: “Mulher morre após pacto com amante que conheceu pela internet”.

A segunda: “Paquistanês assume autoria de atentados de 11 de Setembro”.

No mundo dos símbolos e dos ícones, um slogan televisivo para encerrar: Orkut e Guantánamo, tudo a ver.

2 Comments:

Blogger Daniel Boa Nova said...

Se eu entendi direito, mais um pouco e o paquistanês assumia a paternidade do menino Jesus.

12:09  
Blogger Daniel Consani said...

Muito boa, Boa Nova...
É bem por aí mesmo... rsrsrsrs

13:58  

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