Ponto Jor

sexta-feira, agosto 31, 2007

Nós, os políticos

João Prado

Nem adianta tentar, caros poucos leitores. Falar que não gosta, que não acompanha e que não faz a mínima questão de saber sobre política. Você saí da sua casa e a pratica em qualquer lugar. Seja no seu trabalho, entre seus amigos ou na tribo que você se insere. Você nasceu para fazer política.

Confira alguns exemplos:

Partido do Emorock – Os representantes incentivam a idéia de "curtir a tristeza". Pode ser desde um gato vira-lata que morreu atropelado até um dia chuvoso, não importa. O objetivo é transformar o mundo em uma imensa lágrima. Dizem que a história do partido começou quando o então fundador, Choro sim e nem por isso sou mulherzinha, caiu em lágrimas ao ouvir um pedido de seu pai: "Filho, você pode ir na padaria?".

Partido do Playboy – Adepto da idéia de não separatismo social, desde que o pobre fique no lugar dele. Aqui, o importante é mostrar que gastar muito, acima de tudo, é para quem pode e não para quem sonha. Para se filiar (esqueça se você não nasceu afortunado), só precisa dizer onde você estudou na adolescência, a calça que você veste e o valor da conta.

Partido do sou malandro, mas não conta para o meu pai – Aqui o importante é manter o estilo. A referência é o rapper Marcelo D2, "A calça é larga e o boné pro lado". O diretório central só pede para os membros decorarem o máximo de gírias possíveis e sempre, não importa em qual situação, contar vantagem de que você sabe fazer (aquilo) melhor do que o outro. ATENÇÃO: para se alinhar aos ideais do partido é importante voltar ao normal (leia-se se tornar novamente o filhinho da mamãe) ao sentar com a sua família para jantar.

Partido protetor das florestas e animais – Favorável aos cuidados com o meio ambiente e todo e qualquer tipo de bicho. Mas aqui a causa não é tão importante, o que importa mesmo é gritar para todo mundo ouvir: "Ei, os mosquitos amarelos estão morrendo!". Mesmo sem reciclar o lixo em casa, o negócio é apontar o dedo na cara de quem nunca comeu soja e ainda adora um belo bifé mal passado.

Partido dos mal humorados – Basta simplesmente acordar e lembrar quem estiver a sua volta, que o bom humor é para os ridículos. É importante também criticar os projetos e as idéias dos felizes, mesmo que você não entenda nada sobre o assunto. Aqui, o mal humor não é pretexto, mas o fim para tudo.

Partido classe média – Dos que sonham com a riqueza e temem a pobreza. Basta pagar muitos impostos e dizer sempre a frase: "Não me sobra tempo e dinheiro para nada". O objetivo é entender o Brasil e o mundo através dos cadernos culturais dos grandes jornais. Mas cuidado: Caso você adquira um iPhone, seja hackeado ou não, você pode estar se tornando um playboy.

Partido do blogueiro - Dos que não pensam em nada mais importante para escrever em uma sexta qualquer.

Nota: Geraldo Alkimin disse que o governo federal está no foco das acusações. Seria ele um gênio? Ou está mais para o sujo falando do mal lavado?

quinta-feira, agosto 30, 2007

Joguem a lona!

Daniel Consani

Na entrevista que Lula deu ao jornal “O Estado de S. Paulo” duas coisas ficaram bastante claras: ele está satisfeito com os rumos tomados pelo governo (“Mas queria ter feito mais”) e repudia a idéia de um terceiro mandato.

O interessante é notar que a “classe média forte com uma classe baixa digna” citada por Lula na entrevista parece desconcertar os detratores do presidente, que citam o Bolsa Família como um programa assistencialista, paternalista, populista e eleitoreiro.

Particularmente acredito que a força da classe média é vital para o prosseguimento econômico desejado para o Brasil, mas é impressionantemente abismal sua pobreza intelectual e cultural. Essa classe média, além de ser pautada por capas de Veja e novelas da Globo, aplaude o movimento “Cansei”, mesmo sem ter um helicóptero e um Mercedes-Benz no jardim. Queixam-se do Bolsa Família para os pobres e esquecem do dinheiro público injetado na Votorantim, na Globo, na Gerdau e em praticamente todas as outras grandes fortunas do país. Ou assistencialismo para ricos tem outro nome? Ou alguém acha que somos um país empreendedor por opção e oportunidades?

De qualquer maneira, os auto-elogios de Lula na já citada entrevista espantam pela terrível memória do presidente. Ele parece horrendamente desatento à situação calamitosa do sistema de educação brasileiro e ao abismo existente entre as necessidades infra-estruturais do país e as precárias condições de estradas, ferrovias, portos e aeroportos nacionais, só para ficar na superfície.

É entre descabidos auto-elogios e a ignorância dos detentores de poder de compra que a vida segue na republiqueta. Joguem a lona! Chamem o Arrelia! Virou circo!

quarta-feira, agosto 29, 2007

É como cantava o Tears for Fears: "everybody wants to rule the world"

Daniel Boa Nova

A vida anda passando sem que eu a veja. Quando me dou conta já é noite ou sexta-feira. O sol brilha, tenho certeza, mas não sinto o calor. Sei que é diferente do gerado pelo gás carbônico expelido por algumas centenas de pessoas que circula, viciado, por entre tubos e conexões. Não faço idéia de como chama o cara à minha esquerda, mas ele só pode estar sentindo o mesmo cheiro. Merda frita e mal passada.

Domingo, terça, sexta. São dias ou semanas? Lembra de 2006?

De repente você encontra aquele velho amigo que é irmão. Faz tempo e você acha que pode transmitir em alguns instantes tudo o que já não convive mais. Só que o tempo é implacável - quem nunca ouviu isso antes?- e o que passou, passou. É desviar do caminho ou permanecer na expressa. Daí aqui você acrescenta a frase feita que lhe cair melhor.

Alegria de infeliz é achar que ouvir dizer é o mesmo que viver. Mas como recomendaria o nick do MSN de um camarada, não fale isso senão Deus te fode. Bem, se a vida é filme e Deus é o Morgan Freeman em “Todo Poderoso”, então quero levar um papo com ele. Vamos esfregar o chão e entrar em acordo. Chega de usar controle remoto pra passar o tempo.

terça-feira, agosto 28, 2007

O florescer de um novo mundo

Luís Pereira

Primeiro as salas de bate papo, depois o Orkut, o Second Life e agora o PKR. Talvez você já tenha ouvido falar em PKR, mas se não, não se surpreenda. Eu o conheci nesta manhã, enquanto navegava à toa pela internet.

O PKR é uma comunidade virtual de jogos de poker. Claro que a interatividade nos jogos não é nenhuma novidade. Mas o PKR traz o conceito do Second Life e o cenário 3D de alta qualidade para o seu universo e cria uma realidade virtual para os amantes do poker.

Entre as similaridades com o Second Life, no PKR você monta o seu avatar, acumula dinheiro real e interage com pessoas do mundo inteiro. Entretanto, por ser um site relativamente novo (com apenas um ano de existência, lançado em 17 de agosto de 2006), o PKR ainda não tem um tráfego muito grande.

Enquanto escrevo esse post, baixo o jogo para poder experimentá-lo e, quem sabe, fazer um fézinha. Abaixo anexo algumas imagens para que tenham um idéia do que se trata o game.








segunda-feira, agosto 27, 2007

Rápidas na segunda-feira

Sara Puerta

Esses são alguns da lista de personalidades e “formadores de opinião” (como os próprios organizadores do movimento chamam as pessoas citadas abaixo) que aderiram ao Movimento Cansei. Os nomes foram tirados do próprio site. Muito interessante!

Adriana Lessa, Agnaldo Rayol, Beatriz Segall,Carlos Alberto de Nóbrega Ivete Sangalo, Lars Grael, Luana Piovani, Paulo Vilhena, Zezé Di Camargo.
Quer saber? Também cansei de gente rasa!

Quando o fato aconteceu, eu era muito nova e achava algo sobrenatural. Trata-se do acidente radiotivo com Césio 137 que aconteceu em setembro de 1987 (há 20 anos atrás). E conseguiu ser menor apenas que o acidente de Chernobyl na Ucrânia. E pensar que esse maior acidente passou de mão em mão. Começou com dois catadores de lixo em Goiânia que ficaram espantados com um pão branco que ficava azul fluorescente no escuro. Do lixão o Césio foi para um ferro velho, que por sua vez tem um dono muito curioso que decide dividir a descoberta do pó sobrenatural com parentes e vizinhos. Um deles era um motorista de ônibus que contamina centenas de passageiros. Nisso, os hospitais da região ficam lotados de pessoas internadas com náuseas, vômitos e desmaios.A mulher do dono ferro-velho suspeita do pó, e leva uma amostra para a vigilância sanitária. Sabendo do caso, um físico chega a tempo de impedir que os bombeiros joguem a cápsula no Rio Meio Ponte, principal fonte de abastecimento de água da cidade. Enredo de filme?
Todos que tiveram contatos foram colocados em quarentena. Uma criança morreu ao ingerir a substância.

sexta-feira, agosto 24, 2007

Major, jornalismo e música

João Prado

Conforme reportagem publicada na Folha De São Paulo nesta semana, a Sony BMG anunciou que vai mudar seu nome para Day1. Mas não é só isso. A gravadora vai alterar também o seu modelo de negócios. Segundo declarou um executivo da companhia, ao invés de gravar e lançar CDs de música, exatamente o que elas faziam até hoje, a Day1 passa a ser uma “desenvolvedora de talentos” – que merda deve vir por ai?

É um anúncio importante. Além de “assumir” que o modelo tradicional da indústria está cada vez mais desgastado, as grandes gravadoras, que detêm em seus catálogos boa parte dos artistas relevantes (principalmente de décadas passadas), passarão a investir não somente em música, mas em talentos a celebridades. Lembrando que estamos na era do I e You, iPod, iPhone, Youtube, etc.

Já demoro para as gravadoras pararem de reclamar sobre a pirataria no Brasil, que existe e tem que ser chamada por esse nome, e disponibilizarem para a venda na internet os discos de artistas que estão em seus catálogos. Isso diminui a ilegalidade e melhora as condições para todos – downloads seguros para os consumidores, artistas pagos e gravadoras ainda com as burras cheias. Alias, não acredito que o CD, que completou 25 anos de existência na semana passada, vai acabar. Mas a coisa toda está se digitalizando... Hoje uma música pode valer mais do que um CD inteiro.

Jornais

Como já diria o falecido Toninho Malvadeza, “Ou se compra jornalistas com dinheiro ou se compra com informação”. Vindo de que vem não é frase muito boa de ouvir, mas em certo aspecto tem suas verdades. Assim como já divulgou o jornalista Cláudio Tognolli, a máfia do dendê (um esquema feito por artistas baianos, como Caetano e Gilberto Gil) seria a organização paralela que domina as capas dos cadernos culturais dos principais jornais de São Paulo, em troca de favores aos editores e repórteres. Notícia grave. Bom é saber que a plataforma da notícia foi quebrada com a intenet. A informação não é mais dominada pelos grandes grupos de mídia. Mudanças já aconteceram e continuam acontecendo.

Hoje se pode conhecer uma música de um artista dos cantos do leste europeu, como também do sertão brasileiro. Baixa, arquiva, transfere e pronto... A música está onde deve estar: no ouvido das pessoas de qualquer lugar do mundo.

quarta-feira, agosto 22, 2007

Saudades do Claro Que É Rock

Daniel Boa Nova

Então o Tim Festival anunciou ontem sua programação oficial. Nada que você já não soubesse. Em tempos de internet, manter algo em segredo é missão impossível.

Daí que nesse ano resolveram dar à edição paulista do festival o mesmo status que recebe no Rio. Algo necessário. No ano passado, o filme da patrocinadora foi torrado em um evento muitíssimo mal organizado. Ocorrido no Tom Brasil, só pra recordar, em um domingo com esperas intermináveis entre os shows e nenhuma área de escape. Se não fosse o Daft Punk, a coisa ficaria feia.

Ainda assim, me parece que no Rio a organização está mais cuidadosa. Porque o máximo de shows que você assiste bem em uma noite são três. O resto é fanatismo e aditivos.

Falando das atrações, não consigo me empolgar com nenhuma a ponto de sair correndo atrás de ingresso. Não tenho dúvida de que será um sucesso – a histeria aqui no trabalho quando saiu a lista de atrações confirma isso -, mas me parece hype demais pra nada de muito novo. Manja Arctic Monkeys? Então...

A Juliette deve valer pra conferir a musa ao vivo, porque o Dave Grohl não virá. O show da Bjork, sim, deve ser dos bem bons. Diz a lenda que será dividido em dois, mezzo eletrônico mezzo roqueiro. Mas embora o show seja novo, ela já esteve no Brasil em outras duas ocasiões (tudo bem, a última já tem quase 10 anos).

É pagar pra ver. Como aqui não sobra, acho que o meu vai ficar guardado pros irmãos químicos, cujo disco novo já entrou para os melhores do ano.

terça-feira, agosto 21, 2007

Nuclear não!



Pela primeira vez com produção e edição de Luís Pereira.

Valeu!!!

segunda-feira, agosto 20, 2007

A leveza e o peso

Sara Puerta

Acredito que acontece com todo mundo, de um livro ser capaz de mudar sua visão sobre tantas coisas. E não é auto-ajuda, não. Estou falando de livros densos, cheios de frases de efeito que faz você parar pra pensar na sua vida e sentir-se não tão miserável por ser "bipolar" - no sentido psicológico- , ou então não se importar com pólo ( ou opinião) levados a ferro e fogo.
Trata-se do livro do escritor tcheco Milah kundera, A Insustentável Leveza do Ser. Soou meio hype, né! Citar qualquer cultura do leste europeu, parece ser meio intelectualizado demais. Mas, é um romance detalhista com um pano de fundo da Guerra Fria, sem bonzinhos e mauzinhos.
Já tinha ouvido falar que ele é capaz de mudar sua vida, e fui atrás do filme. Não entendi nada! Até que o livro cai na minha mão, nessas obras do acaso que no fundo tem mágica. Foi devoradissimo em pouco tempo. Com voracidade, como toda a história.
De eterno retorno de Nietzsch a conversas maravilhasos travadas com os leitores, Kundera aprofunda e detalha personalidades e ações que fazem qualquer pessoa começar a reparar em detalhes de personagens e fatos que acontecem no seu próprio cotidiano.
Entre o branco e o preto, existem muitos tons de cinza, nunca foi uma expressão tão verdadeira. Com certeza, um prato cheio para os mais sensíveis.
vale a pena demais !

PontoJor - layout

Talvez você não tenha nem reparado, mas há cerca de uma semana este blog começou a apresentar um erro no layout que, até então, não sabíamos como resolver.

Basicamente, a barra lateral esquerda (onde estão nossos nomes, fotos, contato etc) ficou desalinhada.

Daí que conversa vai, conversa vem, teste vai, teste vem, é o seguinte: para usuários do Firefox, o problema simplesmente não existe. Para quem usa o Internet Explorer 7, tampouco. O problema aparece para quem navega pelo Internet Explorer 6 (para saber qual a versão do seu navegador, entre no Help --> About).

Sei lá por que isso, mas como foi do nada, acreditamos que tenha sido alguma mudança na estrutura do Blogger conduzida pelo Google. Como a coisa toda é gratuita, por mais que entremos em contato, sabe lá no que dá. Ou seja, continuamos sem ter como resolver (a não ser que alguma alma caridosa nos mostre a luz e não cobre por isso).

Se for um incômodo, a sugestão é atualizar a versão do Explorer ou baixar o Firefox - que, por sinal, é bem melhor. Ou é só desencanar (do errinho, não do blog!) que não pega nada.

Abraço!

sexta-feira, agosto 17, 2007

Zildo, menino, maravilha!

João Prado

Quatorze anos de idade, olhos verdes, pele negra e um sorriso desconfiado, mas que não custava a aparecer. Essa era a fisionomia que encarei ao conhecer o Zildo, um menino que vive nas ruas da zona sul de SP, mas que não dorme nas ruas de SP.

Nos conhecemos quando ele apareceu na porta da casa dos meus pais, pedindo alguma coisa (de certo comida, dinheiro ou roupas). A coisa virou um video game que estava esquecido no fundo do armário que eu divida com meus irmãos (era o master system, com Alex Kid na memória). Claro. Os olhos verdes de Zildo se tornaram mais verdes e seu sorriso não foi nem um pouco contido... para mim sobrou a dose de alívio (alívio? Porque mesmo me senti aliviado em dar um video game?).

A partir desse dia, nos encontrávamos para jogar futebol de botão e gastar as horas conversando – qualquer moleque de quebrada, aos 14 anos de idade, pode conversa de igual para igual com um universitário. Zildo tinha muitas histórias interessantes. Começara a trabalhar desde cedo na feira, para ajudar no sustento de sua casa. Pagava as suas e as necessidades da avó-mãe. Impressionante era como o franzino Zildo era bem articulado, falava de política, de futebol, de amor e timidamente de sexo muito bem para a sua idade.

Era o princípio de uma amizade que nascia entre nós dois. O pessoal de casa, principalmente meu pai e minha mãe, adoravam ele. Lembro que o cobrei muito para voltar aos estudos – o moleque havia acabado de largar a escola pela quarta vez, aos 14 anos. "Todos dias mudam os professores e quase sempre a maioria deles faltam", justificava Zildo.

Demos material, demos incentivo... não demos nada. Na mesma ânsia com que Zildo voltou para a escola, ele também abandonou. "Cara, não tenho como conseguir dinheiro todos os dias, se tenho que ficar a manhã toda na escola". Ficava difícil, para mim, cobra-lo pelo que eu não entendia.

Zildo apareceu cada vez menos em casa. Eu cada vez menos o procurei pelas ruas da Santa Catarina, ali perto da Espraiadas.

Acontece que ontem, depois de beber algumas cervejas com os amigos, estava voltando para a casa e resolvi parar para abastecer o carro. Ao sair do possante, dei de cara com o Zildo, ainda de olhos verdes e pele negra, mas agora praticamente do meu tamanho. Cerca de três anos depois da última vez que nos encontramos, Zildo ainda tinha as mesmas características. Foi doce no trato comigo e até nos abraçamos. "Caralho, como você está grande!", era só o que conseguia dizer.

Perguntei sobre a sua vida. Havia avançado poucos anos na escola, estava na sétima série, mas agora trabalhava como ajudante de mecânico em uma oficina. "Gosto de carros", disse ele com uma cara animada. Ele perguntou sobre meus pais e meus sobrinhos, o que me surpreendeu profundamente.

Depois de cinco minutos de conversa, Zildo saiu (ele não era mais um menino, está quase um homem) com seus amigos dentro de um carro. Eu fiquei no posto pensando alguns minutos... pensei nele, em mim, na educação do meu país, na falta dela e mais em um punhado de coisas.

Não consegui concluir nada. Desde então não consegui pensar em mais nada para escrever nesse post.
Me lembro que Zildo me disse uma das frases mais bombásticas que já escutei e me foi direcionada. Certa vez, jogando botão, passava uma matéria na tv sobre se os analfabetos poderiam votar ou não nas eleições. Zildo perguntou a minha opinião, que foi dita sem vacilo: "Acho que os analfabetos não podem votar, porque eles não tem acesso as informações básicas para acompanhar o ‘mundo’ da política".

Olhando nos meus olhos e com cara de poucos amigos, Zildo disparou como o fenômeno em seus melhores momentos fazia em direção ao gol: "Acho que você esta falando merda. Eu trabalho desde os oito anos, sustento a minha avó e a minha mãe, pago minhas contas e sei muito bem o que quero para o meu país. Se for para escrever tudo isso, eu pago um doutorzinho que nem você para escrever para mim".

Zildo me calou. Nunca ninguém foi tão sincero comigo e ao mesmo tempo me ensinou um fundamento tão importante na vida: Ninguém precisa de diploma para entender do que é feita a matéria e a vida.

quarta-feira, agosto 15, 2007

Devia ser 90 ou 91, sei lá.

Daniel Boa Nova

Eu começava a me entender por gente e formatar uma certeza em vida: a música como paixão. Foi a mesma época em que rolou o Rock in Rio II e, pouco depois, o show gratuito do Sepultura na Praça Charles Miller, para onde fomos eu, meu irmão e minha mãe. Tipo programa família de sábado. Duas músicas e um arrastão depois, rumávamos de volta para casa. Eram tempos em que show da pesada significava morte – e depois fomos descobrir que naquele não foi diferente.

Pois bem, o New Model Army estava em evidência no momento. Nas rádios rock – sim, isso existia – Purity tocava diariamente e, na recém criada MTV, 51st State era clipe corriqueiro. Não à toa vieram se apresentar no Brasil no período e não, não levei minha mãe pra esse. Nem fui.

Quando aquele mesmo Sepultura regravou The Hunt, em 93 – época em que o NMA botava disco novo na praça e sua Here Comes the War tocava sem parar no dial –, eu já tinha me tornado fã. Mas o tempo passou, você vê, e nesse post paguei de tiozinho até demais.

Hoje, apesar de ainda lançarem discos, no Brasil o NMA é conhecido por poucos, a maioria fãs de outros tempos. Tive a impressão de ser o caçula no show dos caras na Clash, São Paulo, quarta-feira passada. Clube que, é importante dizer, deveria servir de exemplo. Ótimas instalações, bar amplo, espaço bem ventilado. Os preços são os mesmos de qualquer lugar, com o diferencial do limite para o número de ingressos. Algo essencial na cidade.

Uma maioria de homens entre os 300 e tantos assistindo à apresentação de Justin Sullivan – o líder e único membro original – e seus atuais parceiros. Que abriram com Whirlwind e já emendaram Space, ambas do disco Impurity. Confesso que desconhecia grande parte do set (e acabei descobrindo que o do dia anterior era mais a minha cara), mas tinha fã ali que conhecia tudo. E o show tinha uma pegada intensa, com os músicos dando tudo de si. Um destaque previsível foi 51st State, cantada como hino pela marmanjada fiel. No bis, The Hunt e Here Comes the War, as duas mais insanas da noite.

Tem sempre quem aponte uma ou outra que faltou – Purity, cacete! White Coats! -, mas tá valendo. Cumpriram seu papel e todo mundo foi pra casa satisfeito.

terça-feira, agosto 14, 2007

Impressões de uma manifestação

Luís Pereira





sexta-feira, agosto 10, 2007

Eles também se cansaram

João Prado

Inspirado no movimento Cív(n)ico dos empresários paulistanos em parceria com a OAB, este repórter foi perguntar à três pessoas do que elas se cansaram. Toda a reportagem, que durou cerca de vinte minutos para ser feita, fez questão de ser democrática. Logo, sem diferenciar a classe social das pessoas, conforme pedem os pobres de ricos do movimento "Cansei" (poderia ser o nome do movimento pró Richarlyson no futebol), três cidadãos paulistanos de classe distintas soltaram o verbo sobre do que eles cansaram.

"Cansei de ficar cansado. Acordo todos os dias com a mesma sensação. È desemprego e o escambau. Só não cansei de tentar, apesar de sempre estar cansado. De político é aquilo né... Não canso de xingar", Issac de Jesus, morador de Paraisópolis.

"Cara, eu cansei de escutar que cinema não enche o bolso de ninguém. Estou terminado a minha faculdade e tenho certeza que fiz a escolha certa. Já ganhei aí", André Romero, estudante de cinema na USP.

"Cansei de ouvir: GOSTOSAAAA. Lógico que é bom ouvir elogio, mas não precisa gritar. Mas claro que é melhor ser chamada de gostosa do que de baranga, né?", Rafaela Moraneglli, moradora e dondoca assumida da Vila Olímpia.

OBS: o repórter pede desculpa pela demora em publicar o post dessa sexta. Eu também fico cansado, porra!

quinta-feira, agosto 09, 2007

Eu também cansei...

Daniel Consani

... de tanto moralismo.

Levada à frente pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), no último mês foi lançada a campanha “Cansei de tanta corrupção – Movimento cívico pelos direitos dos brasileiros”. Você já deve ter tido contato com uma daquelas peças publicitárias com pessoas levantando placas com dizeres que vão desde um “cansei do caos aéreo” até um “cansei de não fazer nada”, passando por críticas aos traficantes, às balas perdidas etc.

Pois, de cara, me pronuncio: sou absolutamente contra o “Cansei”. Explico o motivo logo a seguir.

No entanto, gasto mais algumas linhas para dizer algo que já disse, mas que, infelizmente, acho de extrema necessidade repetir: embora haja inúmeros imbecis que gostam de viver suas vidas de maneira maniqueísta, o fato de eu ser contra uma campanha que critica a corrupção, NÃO me faz simpatizante de corruptos e corruptores.

Dito isto, posso investir no imprescindível debate acerca do movimento liderado pela OAB-SP.

É mais do que óbvio que o caos aéreo (pequena janela que nos leva a algo muito mais grave: as parcas condições da infra-estrutura brasileira) e os escândalos de corrupção são repulsivos e devem ser combatidos de forma consistente. Dessa forma, é possível dizer que, no conteúdo, o “Cansei” tem sua valia, ainda que seja, por demais, óbvio.

É na forma, no entanto, que o movimento escancara e aprofunda seus dogmas reacionários, conservadores e espetaculosos. Algo que, indubitavelmente, faz lembrar udenistas e lacerdistas no princípio da década de 1950. Em minha visão, o tom alarmante para clamar por obviedades remete a um moralismo absolutamente descolado do progresso intelectual buscado pela dita “sociedade da informação” contemporânea.

Nessa esteira, é impossível não reconhecer a importância, a legitimidade e a representatividade da ação sustentada pela OAB. O erro na forma não anula o acerto no conteúdo da crítica. E vice-versa. O debate, portanto, é de grande valia. O tom alarmante e escandaloso, totalmente descartável. Sempre.

quarta-feira, agosto 08, 2007

Nada que mude sua quarta.

Daniel Boa Nova

Eu queria contar sobre o bicho-preguiça que atravessou meu caminho no último domingo. Rastejando pra cruzar a estrada sem a menor pressa, por sorte o carro não o pegou. Espero que tenha logrado êxito.

Também queria comentar o lance do estagiário do Yahoo! pedindo demissão “ao vivo". Você o contrataria?

Teve a greve criminosa promovida pelo Sindicato dos Metroviários na semana passada. Que me deixou ainda mais indignado quando soube, via comunicado da empresa no Estadão de ontem, que o menor salário pago a um funcionário do Metrô é de R$ 1.100,00 - média de R$ 3.600,00 -; que os funcionários têm assistência médica e odontológica, previdência suplementar, adicional de salário para cada ano de serviço, férias remuneradas, cesta básica, auxílio-refeição e creche, metade do 13º antecipado já em janeiro e participação nos resultados da empresa – R$ 2.750,00 por funcionário em 2006. Considerando que os promotores da greve têm um emprego muito mais estável e rentável que a grande maioria dos prejudicados por ela, por que mesmo a fizeram?

Aliás, a empresa onde você trabalha te dá tudo aquilo? O cara do Yahoo! acho que não tinha.

Mas melhor seria escrever sobre o Wii, top de vendas da Nintendo que revolucionou a maneira de se jogar vídeo-game e é sensação na gringa. Tive a oportunidade de experimentá-lo na última sexta e a dor nos ombros fala por mim. Altamente recomendado para sedentários supersize. Não à toa, nos EUA é chegar nas lojas e desaparece.

Talvez eu recomendaria aos fãs de Clash que escutassem The Dead 60´s, conterrâneos dos besouros descobertos por este apenas outro dia. Impressionante a semelhança – não digo cópia porque curti pra caramba. Seu disco homônimo tem uma versão dub que nem te conto onde tem.

Hoje seria um dia perfeito pra comentar qualquer dessas coisas, mas não quero dizer nada. Por isso vou apenas postar o vídeo do Júnior Artista que, se você ainda não conhece, disponibilize 5 minutos para assistir. Se já conhece, reveja. Isso sim vai mudar o seu dia.

segunda-feira, agosto 06, 2007

Marketing Verde

Sara Puerta

Com o aquecimento global, surge paralelamente uma industria falsa. Digo falsa, pois tem, um monte de gente -que não estar nem aí- desfilando um slogan ecológico e ambiental. Aí diz que usa tudo orgânico, que planta árvore, que não joga lixo na praia e até comprou lâmpadas fluorescentes. E isso passa ser o máximo, e pode até virar quesito em concursos de miss. Imagina: “Além de desejar a paz mundial, o que você faz contra o aquecimento global?”
A bela mulher responde: “Eu plantei três árvores e não joguei lixo na rua!”
Desculpem-me mas o buraco é mais quente e bem mais embaixo.
Não é só comprar produtos mais caros, porém orgânicos, porque afinal quando alguém tem preconceito racial, ela dá mais de mil passos para trás na busca do sonhado desenvolvimento sustentável. A planta de hoje ajuda, mas porque não boicotar empresas que nada fazem para deter e cortar o mal pela raiz. Paleativos existem aos montes, mas soluções nenhuma.
Que toda essa onda de calor ou de frio intensa, seja apenas parte de uma Era do planeta. Nos ferraremos em outras coisas também, a população pobre tende aumentar, e acarretará muita fome no mundo. Os ricos ficarão mais ricos, refletindo numa sociedade muito mais violenta.
O que vale mais: não comprar um tênis lindíssimo de uma marca que polui aos montes ou plantar uma árvore no seu quintal. Eu acho que juntar as duas ações é o ideal.

Se tem alguma coisa que ainda não foi atingida pela corrupção ( é claro, ao que tudo indica) são os indices de sustentabilidade empresarial. Veja se as marcar que você consome não olham apenas para o próximo umbigo.

http://www.cebds.org.br/cebds/
http://www.ethos.org.br/
http://www.bovespa.com.br/Mercado/RendaVariavel/Indices/FormConsultaApresentacaoP.asp?Indice=ISE

sexta-feira, agosto 03, 2007

Personal cambista

João Prado

Domingo passado fui ao estádio do Morumbi com dois amigos, para ver a pelada entre Corinthians e Flamengo. Todos, pelo menos aqui do PontoJor, sabem qual foi o resultado. Valeu depois no final do jogo, como manda a tradição, a cerveja na barraca do pernil – Tia Nélia, salve simpatia, estava divino e nem me deu caganeira no dia seguinte.

Mas o que eu pretendo contar aqui, não é sobre as besteiras que eu e meus brothers falamos e de como ri com todas elas.

É mais ou menos assim. Cheguei atrasado no jogo. 15 minutos já havia se passado do primeiro tempo e, como quase ninguém foi retardado de ir até lá (frio e seu time em péssima fase, serve de pretexto?), consegui estacionar o possante bem próximo do estádio. Não demorou e fui abordado por um guardador de carros, pedindo para que eu deixasse 15 reais com ele. Não me importo em pagar uma pessoa para “olhar o meu carro”, mas me importa querer pagar alguém para olhar o meu carro. Difícil de entender?

O fato é que resolvi seguir a tática quem um amigo me ensinou:

- Ae curintian, deixa o carro pra gente tomá conta
- Tô sem grana e que sabe? Que roubem essa porra! Não tem rádio (mentira), o que não falta é multa (verdade) e ainda recebo uma grana para viajar (totalmente verdade).
- ahahahahahahahhhahahaha
- Faz assim, depois do jogo eu deixo a grana que sobrar do ingresso e da cerveja para você, pode ser?
- Falou curintian, é nóis!

Depois de voltar da baraquinha da Tia Nélia, encontrei o mano dos 15 reais novamente:
- Ae curintian, sobrou algum?
- Taí amigo (cinco reais)
- Deixa eu te fala uma coisa, mano: Sou da responsa e faço um trampo de ‘agente’ aqui. Ingresso, vaga preferencial pros cliente e outras paradas que você quiser. Vendo ingresso para uma porrada de evento aí, sacou? Tó aí o meu cartão.

Nada mal. Estava escrito: Peruche, Ingresso Super Fácil. Football (assim mesmo, em inglês), Carnaval, Fórmula 1, Teatro, Rodeio e Shows em Geral. Telefone (claro que não vou colocar aqui).

Não gosto de cambista, mas odeio a CBF e a Federação Paulista de Futebol (ou organização de show e de qualquer evento) que entregam os ingressos nas mãos deles. Quem é ingênuo de achar que os caras conseguem os ingressos por conta própria?

Mas a coisa que mais me intrigou foi reparar em uma frase no mesmo cartão, impressa em letras miúdas: “Se Deus é por nós, quem será contra nós”.

Lembrei de uma canção burguesa infantil, que provavelmente adorava cantar na pré-escola. “...O Peruche roubou pão na casa do João, o Peruche roubou pão na casa do João. Quem eu? Eu não! Então quem foi? Foi o João. O João roubou pão na casa do João, o João roubou pão na casa do João..”

quinta-feira, agosto 02, 2007

Auto-ajuda: do autor para si mesmo

Daniel Consani

O gênero literário chamado “auto-ajuda” produz milhões de toneladas de lixo intelectual todos os anos. Títulos como “Quem vai chorar quando você morrer?”, “Jesus: o maior psicólogo que já existiu” e “Os 50 hábitos altamente eficazes do vendedor Pit Bull” são icônicos e exemplares do quanto um leitor pode ter a sua inteligência absolutamente vilipendiada ao adentrar uma livraria.

Há quase três anos, “O Monge e o Executivo”, do estadunidense James C. Hunter, figura entre os livros mais vendidos da seção de “não-ficção” dos principais veículos de comunicação brasileiros. A premissa da obra reside num suposto ensinamento milenar que sustenta que “liderar é servir”. Um argumento empoeirado, que deixou mais um escritor milionário. Na entrevista abaixo, você entende o porquê.

Em “O monge e o executivo”, além de levar o leitor a repensar a postura das lideranças empresariais, você fala em uma humanidade melhor, menos egoísta. Em sua opinião, que tipos de transformações o livro pode causar nos leitores?

Primeiramente devo dizer que essas idéias não são minhas. Os princípios da liderança “que serve para ser servida” são muito velhos. Jesus falava nisso dois mil anos atrás. Ou seja, eu roubei todo esse material, nada é meu. O que eu fiz e faço é relembrar as pessoas. Em meus seminários eu digo que não instruo, e sim, relembro. Nós precisamos ser relembrados sempre, é por isso que vamos à igreja aos domingos. Precisamos ouvir as coisas de novo e de novo, não apenas uma vez.

Você acha que um livro tem essa função?

Sim. Mas, não sei se o meu livro é inspirador. Quando o escrevi, sabia que queria uma parábola, porque livros de negócios instruem a mente, mas parábolas instruem o coração, já que conseguimos relacioná-las a algo. Jesus ensinou através de parábolas porque é um modo lindo de dizer a verdade, pois a move da mente para o coração. Muita gente sabe sobre liderança na cabeça, mas poucas sabem de coração.

O que você acha que faz de “O Monge e o Executivo” um livro de tanto sucesso comercial?

Acho que é porque eu não credito que liderança seja sobre estilo e personalidade. Minha personalidade é diferente da sua, e daí? Olhe para os grandes líderes e eles são bem diferentes entre si. Liderança é algo muito mais profundo, é sobre caráter. É a sua vontade de fazer a coisa certa e de ser paciente com as pessoas, de escutar, de ser humildade, de ser respeitoso. É sobre caráter, não personalidade. Liderança é inspirar pessoas e influenciá-las, e isso é bem diferente de ser um ótimo empresário. Conheci grandes empresários que eram líderes muito ruins, e grandes líderes que eram empresários terríveis.

No livro, John Daily, o protagonista, está vivendo um caos como profissional, como marido e como pai. É possível distinguir as qualidades necessárias para exercer cada uma dessas funções, ou tudo está interligado?

Gandhi dizia que “a vida não são vários compartimentos, mas algo totalmente indivisível”. Normalmente, quando vemos um chefe ruim no trabalho, ele é um pai ruim também. Mas, às vezes, pessoas são capazes de separar. Então, o que acontece é que eu ajudo pessoas no trabalho e, consequentemente as ajudo em casa. Por isso, está tudo interligado. Se você ajuda seus colaboradores a crescer, você contribui para uma sociedade melhor e isso é o que o líder pode e deve fazer, ensinando caráter no local de trabalho.

quarta-feira, agosto 01, 2007

Programa de indie?

Daniel Boa Nova

Acho que teria sido difícil fazer algo mais bacana no gelo da última sexta-feira. São Paulo, 27 de julho, Via Funchal. Indie Rock Festival era o nome nada criativo do evento.

Poucos isopores na rua e entrada sem fila. Casa quase vazia e Sol a cinco reais. Os pernambucanos da Nação Zumbi já no palco, mandando sua segunda música em um show que não foi dos mais inspirados. Fato compreensível ao se levar em consideração que, após dois anos de turnê, estavam em estúdio preparando o próximo lançamento e foram chamados às pressas para substituir o Mombojó – que recentemente passou pela triste perda de seu jovem flautista, Rafael Torres. Mesmo assim teve quem pulasse pelas clareiras da pista ao som de Blunt of Judah, Macô, Maracatu Atômico e Quando a Maré Encher.

Estranhamento pela Nação tocar antes. Foi entrarem em cena os lunáticos do Móveis Coloniais de Acaju e ter a certeza de que a produção acertara na ordem.

Eu já tinha ouvido falar bastante deles. E pude ver na prática a melhor performance de banda brasileira da atualidade. Dez seres esquisitos, todos vestidos em tons de cinza e azul claro – o que dava a impressão de estarem uniformizados – e correndo de um lado para o outro do palco. Baterista, baixista, dois guitarristas, dois saxofonistas, trombonista, flautista, gaitista/tecladista e um vocalista convulsivo com cara de hippie e voz de Cauby. No som, uma mistura de Mighty Mighty Bosstones, jovem guarda e música circense. Muitíssimo bem executada, tanto nas autorais quanto na cover inusitada de Glory Box, do Portishead. Show insano cujo ápice foi a invasão da pista pelos integrantes, que promoveram uma ciranda freak gigantesca. Sem dúvidas, os Móveis tendem a crescer. Eu já virei fã.

Da recente safra de bandas britânicas (Kaiser Chiefs, Arctic Monkeys, Bloc Party etc), o The Rakes talvez esteja em um patamar menor de popularidade. A notícia de sua apresentação no Brasil foi recebida com entusiasmo em blogs e outros veículos, mas por um ingresso tão caro o público não fez volume. Quando os ingleses começaram a tocar, não passavam de oitocentas pessoas. Contei uma por uma enquanto esperava minha cerveja, te juro.

Abriram com Terror, do primeiro disco. We Danced Together, das que eu conhecia e queria ouvir, veio logo em terceiro. Uma banda correta, profissional, que se não chega a demonstrar grande entusiasmo no palco – exceção feita a Alan Donohoe, o vocalista empolgadão que não parava de pular e, a cada oportunidade, soltava gritinhos pra platéia -, também não compromete. Violent foi outro bom momento. Work, work, work, minha predileta e seu talvez maior sucesso, veio no bis, que foi aberto com Little Superstitions. Para encerrar, The World Was a Mess But His Hair Was Perfect, faixa com título mais indie possível.

Apesar de vazio e do nome fraco, o Indie Rock Festival se saiu bem. Em uma noite fria como aquela, nada como um punhado de bons shows pra aquecer os ânimos.