Nação Afromanguebit
Daniel Boa Nova
Esse é o alvorecer de tudo que se quer ver
Sem fazer sombra na melhor hora do sol
Já não é de hoje que a Nação Zumbi atingiu um nível de excelência que a permite tomar os rumos que desejar. Liberdade artística, por assim dizer, que se reflete nos vários projetos em que seus integrantes embarcaram nos últimos anos: Los Sebozos Postizos, Orquestra Manguefônica, Maquinado, Pra Mateus Dançar, Brasilintime, algumas trilhas sonoras e por aí vamos embora.
Apesar de não serem das que mais vende, seus shows têm sempre casa cheia. E, mesmo quem não gosta da Nação, não chega a desgostar. Não à toa, a banda mudou da Trama para a DeckDisc – segundo os próprios, foi uma proposta irrecusável.
O primeiro lançamento na nova casa é Fome de Tudo, que antes de chegar às lojas já estava na internet. Talvez não seja demais afirmar que, desta feita, a Nação Zumbi cometeu sua obra-prima.
Fome de Tudo é o último capítulo de uma trilogia iniciada com Nação Zumbi (2002) e que passou por Futura (2005). Fase essa em que a banda descobriu seu real caminho e aprofundou até a essência as diversas influências que já vinham desde a época de Chico Science. Foi com esses três trabalhos que a Nação adquiriu status próprio, uma vida além do falecido gênio fundador. Daqui pra frente, sabe lá onde vão parar.
Redundância à parte, a produção de Mario Caldato Jr está impecável. Ouvir Fome de Tudo com fones é uma experiência surpreendente, com novas descobertas a cada momento.
A melodia do vocal e a levada da percussão em Onde Tenho que Ir. O tempo quebradiço da bateria em Carnaval. O baixo, menos percebido do que sentido, no ótimo refrão de A Culpa. As texturas psicodélicas da guitarra em Assustado. Os músicos, creio, dispensam apresentação.
Inferno, com a participação (discreta) da cantora Céu, tem uma atmosfera sombria e um solo de guitarra poderoso. Experimente ouvi-la em uma estrada, na madruga. Um rolê na marginal também serve.
Sabe aquela faixa que quando acaba você coloca de novo e de novo e de novo? Que você não sabe explicar o por que, mas te conquista de uma maneira que nenhuma outra consegue? Assim como em Futura, ela existe e foi deixada para o final. No Olimpo, lá de longe, remete a Computadores Fazem Arte. Uma melodia linda, uma letra filosófica - aqui Jorge DuPeixe fez um ótimo trabalho.
Apesar de ser possível encontrar Fome de Tudo na internet, vale a pena comprar o cd porque a arte ficou especial. Digamos que seria uma última caridade por esse formato que já é relíquia. Se não for o caso, o show será em breve.