Ponto Jor

quinta-feira, maio 31, 2007

Frustração

Daniel Consani

Tenho verdadeiro horror ao neoliberalismo. Isso não quer dizer que sou esquerdista, claro. Aliás, costumo dizer que todo antagonismo, toda polarização é idiota. Alguém discorda?

De qualquer maneira, jamais neguei ter apreço e muito respeito pela história do socialismo, por Marx, pela Revolução Russa, pelas lutas dos trabalhadores etc. Sempre gostei da noção de contraponto que o socialismo deu e dá ao modelo capitalista.

Francamente, acho que posso dizer que gosto das coisas que vão de encontro aos valores hegemônicos da sociedade. Talvez seja próprio da idade, influência dos bancos universitários ou qualquer outra coisa. Não sei.

Desde o primeiro segundo da última segunda-feira, 28, A RCTV, maior e mais popular rede de televisão venezuelana, deixou de operar. Trata-se de mais uma das ações com caráter ditatorial do presidente Hugo Chávez. Triste, não?

Triste, sim. Confesso: por muito tempo acreditei nas intenções da base governista de Chávez. Compartilho de muitos dos valores expressos pelo presidente nos últimos anos, embora tenha sempre condenado sua postura paternalista (principalmente quando vestia a farda). Acho brilhante que ele se proponha a enfrentar o imperialismo e tenho em alta conta suas políticas sociais.

Mas, desde janeiro desse ano, o meu respeito pelo modelo venezuelano (que jamais achei ser ajustável ao Brasil) tem se esvaído. A aprovação pelo poder legislativo do “governar por decreto” e a não renovação da concessão da RCTV são execráveis, sem dúvidas.

Me sinto péssimo por admitir que estou decepcionado. Como você se sente?

quarta-feira, maio 30, 2007

De qualquer jeito, seja como for.

Daniel Boa Nova

"O mundo não é o mundo, está sendo."
Paulo Freire

Li isso neste ótimo texto e me identifiquei à beça.
Camarão que dorme a onda leva.
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Alguém pode me explicar por quê, em pleno século XXI, ainda existem programas de televisão que utilizam playback?

Sábado passado me vi com apenas duas opções: Band e Record. Tanto em uma como na outra, o mesmo formato porqueira. Na boa, estão com dias contados.

E antes que você pergunte, sim, assisti ao Programa Raul Gil pela primeira vez na vida. Revezando com O Melhor do Brasil. Já te contei que estou de férias?
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Baladinha black meio sem naipe mas que se você é turista, beleza. Em Floripa, uma cidade que acontece melhor de dia.

Então, tô eu lá. No meio da pista tinha um bar, tinha um bar no meio da pista. Encostei no lado direito e pedi uma água. À minha frente, sobre o balcão, uma long neck. Levantei a garrafa e vi que ainda estava metade cheia e gelada. Empurrei-a para a esquerda, imaginando que seu dono estaria ali. E estava. O cara, um tanto maior que eu, jeitão de paisana:

- Deixa ela aí - e empurrou a garrafinha de volta para a minha frente.
- Ãhn?
- Deixa ela aí! - e deu um passo na minha direção. Olhei ao redor e meu camarada não estava, mas os do cara sim. Não que botassem moral: embaçado era ele.
- Beleza, cara. Deixa ela aí. - e peguei minha água.

O sujeito parou pra refletir. Me estendeu a mão:

- Foi mal, cara. Foi mal, viajei.

Cumprimentei, mas sem olhar nos olhos. Era só o que me faltava.
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Tão bom quando sair da rotina, descansar, viajar, é voltar à normalidade. Seu banheiro, seu bairro, seus queridos e o tal do trabalho também acaba entrando na história.

Afinal de contas, o legal só existe enquanto se diferencia do chato. Se não fosse o itinerário habitual, a mudança de ares não seria grande coisa. E quando a fuga vira rotina, é hora de voltar à realidade. Se é que você me entende.
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Fim de festa. Luzes acesas, varrem o salão. Outra dessa, só no ano que vem.

terça-feira, maio 29, 2007

Um exemplo funesto aos políticos brasileiros

Luís Pereira
Toshikatsu Matsuoka é o exemplo mórbido e nefasto a que me refiro. Ministro da Agricultura, Florestas e Pesca no Japão, Matsuoka, 62 anos, foi acusado de ter recebido dinheiro de empreiteiras favorecidas em licitações e de gastos de gabinete exagerados.

Ao se deparar com a situação indecorosa, o ministro japonês não agüentou a pressão e se enforcou ontem na sua residência, em Tóquio. Encontrado ainda com vida, porém inconsciente, Matsuoka foi levado a um centro hospitalar, onde foi internado com parada cardíaca, mas faleceu momentos depois.

Vejo, claramente, que a corrupção não é exclusividade pungente da política brasileira. A peita das autoridades administrativas e a perversão do sistema constitucional estão presentes nos quatro cantos do mundo.

No entanto, o que faz do caso Matsuoka um exemplo para os políticos brasileiros é o pudor. Ou seja, a simples vergonha de ter uma parte maléfica de seu caráter, antes ininteligível, agora escancarada. Pejo este que não encontro por aqui.

O que observo na política brasileira é a cara de pau, a mesquinharia e a avareza. Governantes e lobistas enchendo a bunda de dinheiro enquanto a maioria da população vive em situação precária. A falta de vergonha em passar dentro de um carro blindado - de 200 mil reais - num semáforo onde pessoas pedem dinheiro.

Se vivemos no país da impunidade, onde as autoridades administrativas são pessoas desprovidas de vergonha, que, no mínimo, a consciência os faça definhar.

segunda-feira, maio 28, 2007

No DNA

Sara Puerta


Muitos dos jornalistas que conheço , incluindo eu, tiveram uma fortíssima fonte de inspiração para escolher a profissão. No meu caso, a inspiração foi muito, mas muito fictícia. Eu cismei com Louis Lane, a repórter do Super-Homem. E botei na cabeça que ia fazer jornalismo e virar uma repórter. Vinte anos depois, penso eu que devia ter almejado a cadeira do editor-chefe: um gordinho mal-humorado que mandava e cobrava de todo mundo! Porque, sabe como é, tudo que você deseja, o universo conspira para que aconteça, disse o Paulo Coelho ...é, ele vende muitos livros!!!

Aí, você sabe! Vai atrás dos seus "sonhos". Escrevia várias redações sobre tudo. As pessoas elogiavam e eu tive um futuro promissor. Sei lá, ele se perdeu por aí!!!

Eu atualmente estou com crise profissional. Eu gosto de buscar o que é notícia. Mas, cansei de trabalhar demais e ver todo mundo parecer descartável. Porque é assim, sim. E o pior fui acometida pela falta de tempo, e estou trabalhando só para o chefe. As 24 horas parecem pouco. Às vezes acho que só fui comer alguma coisa, tomar um banho e voltar para o trabalho. Vendida total!!!

Mesmo assim, eu digo ao povo que continuarei sendo jornalista, mesmo porque a curiosidade, a "abelhice", a chatice, a desconfiança e o prazer em festas estranhas com gente esquisita estão no meu DNA. Mas, eu tô cansada! Que nós, a nova geração, quando assumirmos a direção façamos dessa atividade uma ação profunda humana e a serviço da verdade, de verdade!


** O post do Daniel sobre estresse serviu de referência!!

sexta-feira, maio 25, 2007

C.R.I.M.E. S/A


João Prado
Na semana em que a Navalha ainda rola solta e a ópera das velhas-novas e fracassadas CPIs não escapa das manchetes, fui entrevistar um dos maiores especialistas em crimes do Brasil, senhor Walter Maierovitch. No vasto e nefasto campo da violência deste e de outros países, Maierovitch é peça chave da discussão de como enfrentar o problema da criminalidade... Ou pelo menos começar a enfrentar.
Presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone, entidade de luta contra o crime organzado, ex-secretário nacional Antidrogas, juiz aposentado e homem de boa conversa, Walter Fanganiello Maierovitch não me deu tempo nem para esquivar e soltou um gancho de direita: “O olho por olho e dente por dente não resolve”.
Segue:
A revista Carta Capital da última semana publicou como matéria de capa, uma pesquisa na qual mostrava que a sociedade, de um modo geral, defende a justiça “olho por olho”. Como o senhor analisa essa pesquisa?
Aponta para o caminho da barbárie. Historicamente, gostaria de lembrar que sair do olho por olho já foi uma evolução. Antes se punia de formas cruéis, como o enforcamento, fogueira e decapitação de membros do corpo. Tudo baseado em presunção. O que se quer agora com o olho por olho é um retrocesso. Na evolução das penas ao longo da história houve uma humanização e isso nos distancia da pré-história.

Recentemente o governo mexicano lançou um plano na Colômbia, para que as pessoas trocassem as suas armas por computadores. Iniciativas como essa tem algum efeito no combate ao crime?
Sim, tem algum efeito. Mas não adianta você entregar um PC, sem educar as pessoas para uma legalidade democrática. Só para você ter uma idéia, hoje, é aniversário da morte do juiz Giovanni Falcone. Durante todo o dia, em Palermo (Itália), tiveram trabalhos com os jovens da região. Atracou em Palermo a “nave” da legalidade, que trouxe para a cidade mais de 1300 estudantes e eles participaram de uma jornada de memória e educação da legalidade. Todos foram à sala onde pela primeira vez os mafiosos foram julgados no mundo. Houve diálogo entre estudantes, professores e ministros da cultura. Depois todos foram para a cidade de Corleone, onde tem a Avenida 11 de abril 2006, que é o local onde foi preso Bernardo Provenzano, chefe da máfia que ficou foragido 43 anos. Então somente dar computador não resolve.

Aqui no Brasil, estamos no meio de mais uma operação da polícia federal, em que os políticos e os empresários estão no foco das acusações. Queria saber se operações como essa significam que os crimes estão sendo apurados como nunca ou é o resultado de que há cada vez mais corrupção no país?
É mais uma operação em cima de um velho fotograma, que mostra relações entre empresários, políticos e administradores públicos, adquirindo vantagens indevidas. Nessa relação, os políticos ganham mais poder e os empresários mais negócios. Esse tipo de operação é importante como as outras que ocorreram, mas não há novidade desse tipo de atividade criminal no Brasil e no mundo. Na Itália foi feita a mesma operação, só que mais profunda. Lá, foram investigadas e julgadas as relações partidárias e muitos empresários se mataram literalmente por vergonha. É importante dizer que o Brasil ainda não tem mecanismos para proteger esse tipo de apuração e também proteger a polícia federal. Temos aqui um sistema processual, que leva anos até dar uma resposta para a sociedade. Isso é o que mata o país.

Falta uma operação mãos limpas no Brasil, como ocorreu na Itália?
A operação de lá “bateu” no primeiro ministro, que fugiu para a Tunísia. Esse modelo no Brasil é ilegal, porque na Itália a operação foi conduzida por um sistema de magistratura que nós não temos aqui. Lá, a polícia efetivamente pertence ao judiciário. O sistema brasileiro é totalmente obsoleto.

A máfia italiana ainda opera no Brasil?
A máfia está catalogada entre as organizações transnacionais. Em suas atividades sem fronteira, a máfia fatura 75 bilhões de euros por ano, dez vezes mais que a Telecom Itália. Sim, a máfia ainda opera no Brasil.

Em um artigo, o senhor afirma que o PCC é uma organização pré-mafiosa...
Ela é pré-mafiosa porque tem controle de território e social. Essa é a característica principal.

Qual seria o primeiro passo para começar a resolver o problema da violência no Brasil?
Primeiro ter um grande projeto de prevenção e depois outro de repressão. Tem que mudar tudo e refundar o país. Precisamos de uma infinidade de projetos sociais.

Qual o maior legado que o juiz Giovanni Falcone deixou para a luta contra a violência e o crime organizado?
Ele mostrou para todos que a criminalidade mafiosa, que se infiltra no estado e tem relações com partidos políticos, não é invencível. E ela não é!
OBS: a foto acima foi "roubada" da página do programa da Rádio Matraca, da USP, publicada originalmente para o especial "Som na Caixa Dois - Quem Viu o Metal?".

quinta-feira, maio 24, 2007

A universalização do estresse

Daniel Consani

Uma faxineira. Outro taxista. Seres humanos como só os humanos podem ser.

Demasiadamente humanos, lembro Nietzsche.

Estou no aeroporto em uma sexta-feira fresca e tranqüila. Depois de algumas pesquisas, conversas e entrevistas, encontro uma senhora cruzando o saguão principal com um esfregão na mão. “Olá”, eu digo e me apresento. “Como é trabalhar no aeroporto?”

O irresistível sotaque nordestino: “É estressante, mas já me acostumei. Às vezes, eu estou limpando o chão e um passageiro não vê os avisos que a gente coloca e acaba escorregando. Eles ficam bravos e até xingam a gente. Eu dou risada. É muito ruim trabalhar por aqui, as meninas mais novas vão para o banheiro e choram, mas eu já nem ligo.”

Estou no táxi em uma quinta-feira fria e úmida. Depois de tratar amenidades com o motorista pergunto onde ele mora. “Na Vila Ema. Fica na zona leste. Estou lá faz um ano, morando em uma casa que era do meu avô. Herança, sabe?”

“Sei”, digo. Me espanta o quão abertas algumas pessoas conseguem ser.

O taxista continua: “Meus irmãos querem a parte deles na casa, mas não quero nem saber. Vou meter um uso capião neles. Eles estão bem de grana. Eu sou o único fodido. Nada mais justo.

“Mas taxista ganha bem, porra”, provoco.

Ele ri.

“É frota. O filho da puta do dono da frota me cobra R$ 114,00 por dia para trabalhar. Tem dia que não dá. É foda. Muito estresse. Muito estresse. Só correria. Sinto falta dos dias em que era policial. Ganhava muita grana. Eu já te falei que fui polícia por doze anos?”

"E saiu por quê?"

"Fui expulso por indisciplina. Um dia fiquei muito nervoso e persegui o capitão com a quadrada na mão. Era foda. Só estresse."

quarta-feira, maio 23, 2007

Away newz



(em Floripa)

terça-feira, maio 22, 2007

Será que é Marte mesmo?

Luís Pereira


Image credit: NASA, Cornell Univ., JPL and M. Di Lorenzo et al.


Navegando na internet, encontrei essa foto no site da Nasa, com o título Attacking Mars (Atacando Marte). Achei curioso e resolvi dar uma lida na descrição da fotografia. Lá está especificado que se trata de uma máquina itinerante, chamada Spirit (Espírito), que vem explorando o planeta vermelho há mais de três anos, e que esta foto, tirada pela própria viajante, mostra a Spirit “inspecionando de perto algumas rochas interessantes perto do cume da colina Husband”, no solo de Marte.

Não sei se criei “abobrinhas” na cabeça, mas, recentemente, ouvi algumas opiniões que duvidam da ida do homem a Lua, suspeitando, principalmente, de fotos que mostram sombras em posições dúbias, a famosa bandeira dos EUA hasteada como se houvesse vento e as várias pegadas dos astronautas, que na Lua são impossíveis devido à ausência de umidade.

Tudo isso, relacionando com a foto da Spirit, me fez pensar: A sombra da máquina não parece estar manifestada pela ação de um refletor posicionado atrás da foto, sendo que parece ter um pôr do sol no horizonte? Bom, tudo bem, a Spirit deve ter um refletor próprio. Mas o conjunto da obra não parece uma foto produzida em estúdio? E mais: Os descrentes nos homens lunáticos dizem que a farsa dos norte-americanos sobre a Lua foi uma grande jogada na corrida espacial contra a União Soviética. Quais interesses estariam envolvidos em forjar uma exploração em Marte? Talvez, o mesmo poder político?

Olha, não costumo duvidar da capacidade de exploração e inovação tecnológica do homem. Hesito muito mais com relação à sua habilidade emocional. Mas que essa foto me parece esquisita, isso parece.

sexta-feira, maio 18, 2007

“Cidade limpa” e rio sujo


João Prado
Na mesma semana em que o prefeito Kassab anunciou que vai intensificar a fiscalização da Lei Cidade Limpa, para as indústrias da capital (alguém aí notou se São Paulo está com menos propaganda?), outra notícia me chamou a atenção para observar um pouco “como são as coisas da vida”.
Não. Eu não sou profissional de auto-ajuda. Estou falando sobre o relatório da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), que aponta que o Tietê está mais poluído, comparado ao que era em 1990 – o ano em que as discussões sobre a despoluição do rio começaram a ganhar as manchetes dos jornais.
E assim, São Paulo melhora e piora. Uma cidade que de vez em quando limpa a sua cara, mas sempre entope as suas veias.

quarta-feira, maio 16, 2007

Pitstop na vagabundage

Daniel Boa Nova

Que estou de ferias jah eh sabido, zero novidade. Portanto, nao tenho o que dizer sobre Papa, Eneas, chacinas, campeonato brasileiro e Virada Cultural. Escrevo de um albergue em Santiago do Chile, onde faltam tils, cedilhas e acentos, mas sobra gente da Nova Zelandia, Australia, Canada, Estados Unidos. E eh um pouco dessa gente e tambem da gente que pretendo falar.

Ou seja, se te incomoda ler sobre amenidades escritas por um individuo no momento sossegado enquanto voce dah duro no batente, pare imediatamente.

Pois bem. Nunca estive nesta exata situacao: turista, na gringa e sozinho. Destas tres variaveis, jah passei por diversas combinacoes, mas nunca pelas tres juntas. O que fez deste ser um sujeito mais sociavel, em busca de companhia. Leia-se: os estadunidenses, australianos, franceses, britanicos e tambem os chilenos.

Em primeiro lugar, hoje tenho absoluta certeza de que esse tal "anti-americanismo" eh ignorancia pura. Tipico de quem pauta sua opiniao em cima de emocoes. Uma coisa eh o governo dos Estados Unidos, outra eh o povo. Querer culpar este pelo que faz o primeiro me soa algo injusto. Tem que ser muito engajado e coerente para levantar essa bandeira, tal e qual alguem que nunca conheci.

Sei la, gente estupida tem em qualquer lugar. Nao depende de nacionalidade. E os estadunidenses que conheci nesta viagem foram todos muito boa gente. Tem curiosidade de sobra a respeito de outras culturas e nao lhes faltam sentimentos negativos sobre seu governo. Alem do mais, na hora de ouvir rock, assistir a um filme do Woody Allen, ler um livro de Jack London ou simplesmente devorar um chisburgui, nao eh no Bush que a gente pensa. Neh?

Outra coisa. Hoje tenho bastante claro que, ao termos contato com estrangeiros, somos sempre embaixadores de nossa cultura, seja fora ou dentro do braza. Eh muito facil cair em preconceitos e mals-entendidos e nada me da mais vergonha que brasileiro fazendo papelao em terras estrangeiras.

Essa ficha me caiu logo na primeira noite em San Pedro de Atacama. O garcom do bar onde fui era colombiano, de Medellin. Ao saber disso comentei de bate-pronto: eh a terra do cartel, naum? O colombiano nao achou graca. Disse ser uma pena as pessoas nao saberem que, alem do trafico, existem seres humanos vivendo ali, em uma cidade muito bonita. E eu peguei o banquinho e sai de fininho.

Jah em Santiago, fiquei puto com duas chilenas, funcionarias do supermercado, que se limitaram a dizer que nao me entendiam ao inves de me ajudar. Estava na cara que eu era gringo, mas isso nao quer dizer um alienigena. Ainda assim, nao eh por isso que odiarei aos chilenos. Muito pelo contrario.

Agora, quando um estrangeiro me pergunta sobre o Brasil, algumas coisas nao consigo evitar. Uma que sim, a violencia existe e eh bom saber por onde anda. Outra que, se a ideia eh ir pra Sampa, melhor fazem indo pro Rio.

segunda-feira, maio 14, 2007

Rápidas, bem rápidas para uma segunda feira

Sara Puerta

*O papa foi embora! O velhinho foi culpado por tudo. Pelo trânsito, por faltas no trabalho, por entrevistas que não saíram, por qualquer nuvem, enfim, por tudo....Agora ficamos no estilo “E agora José? O papa não está mais! Você está sem grana e perdido...” é a ressaca papal!!!
Canoniza minha vida também...

* Mesmo com toda implicância com sua figura, devo considerar que suas últimas falas foram verdadeiras. “Marxismo e capitalismo falharam”, dos dois só restaram degradação e desigualdade.


*Cada vez que o Clodovil abre aboca é um evento. Ele torna ainda mais real a expressão que a Câmara dos Deputados é um circo!
E o mais engraçado (para não dizer trágico) é que o fato do nosso político-estilista (um dos mais votados da história) ter mais de setenta anos, ser homossexual assumido, parecer louco e personagem de desenho lhe dá o direito e imunidade para falar o que bem quiser.
Aguardemos a próxima que pelo menos garante risadas. Eu eu que sofro de vergonha alheia, me contorço cada vez que ele fala com aquele ar de pouco caso. " Lá vem merda!"


*Corinthians começou ganhando! Ótimo! Aguardemos um show!
Que meus grandes companheiros do blog me perdoem, que meu tio que me influenciou na vida “alvi-negra”, que tantos outros amigos não me levem a mal e que não pareça inveja. “Precisamos de um Edmundo!”.Pelo menos algo com tanta vontade de bola, tão nervoso, tão soul. O original já não dá, pois está bem manchado de verde!

sexta-feira, maio 11, 2007

Delegado Antônio de Souza

A notícia que mais me intrigou nesta semana: “Sete jovens foram assassinados em uma praça na noite de domingo, no bairro do Jaraguá (zona norte de São Paulo), na 13ª e maior chacina já registrada neste ano no Estado de SP, seis só na capital. As vítimas, duas delas mulheres, foram alvo de quatro homens encapuzados em duas motos, que dispararam mais de 50 tiros. Nenhuma das vítimas, que tinham entre 18 e 16 anos, possuía antecedentes criminais, de acordo com a Polícia Civil. A polícia diz ter identificado um suspeito, mas ninguém foi preso até a noite. Antônio de Souza delegado titular do DP de Perus, disse ontem que o assassinato dos jovens foi ‘briga de vagabundo’”, Folha De São Paulo, quarta-feira.

Antônio de Souza falou mais: “Neste país é pobre roubando pobre e pobre matando pobre. Isso é briga de vagabundo”. Questionado pelo repórter, André Caramante, pela informação de que nenhuma das vítimas tinha passagem na polícia, o delegado falou mais: “Não tem passagem, e daí? Você tem passagem? Você pode matar alguém”.

Eu procurei, pelo número do distrito, tentar entrevistar Antônio de Souza, mas não consegui encontrá-lo. A polícia civil afastou o delegado, que agora "só irá cumprir funções burocráticas". O que isso significa?

Lamentável ter um delegado como este no comando de uma investigação. Desse jeito, não há camuflagem em estatística do estado – aquelas que eles apresentam no final do ano, para comemorar a “redução na criminalidade” -, que esconda o ESTADO DE FAROESTE em que estamos.

“Tomar banho de canal quando a maré encher”.

quinta-feira, maio 10, 2007

O herói papal

Daniel Consani

Quanta coisa.

Quinta-feira, final da tarde, preciso escrever para o PontoJor.

Há uma semana, Élida Rocha, estimada jornalista e minha editora-chefe há quase um ano, deixou o cargo. Buscou novos ares e os achou.

Óbvio. Momento turbulento aqui na redação.

Por essas e outras, só consegui escrever agora.

De qualquer maneira, não me parece que a turbulência tenha atracado apenas na redação onde trabalho.

Há muitas coisas acontecendo. É difícil fazer o recorte mais adequado. Como não falar da vinda do Papa ao Brasil? E mais: o primeiro-ministro Tony Blair anunciou sua saída do governo britânico; a Polícia Federal finalmente indiciou os pilotos do Legacy; o Grêmio tirou o São Paulo da Libertadores; a Câmara votou o aumento dos salários dos políticos.

Essa tal “era da informação” vai acabar conosco. Às vezes, me sinto afogando em notas, notícias, matérias, entrevistas, ensaios e crônicas. Não há dúvidas, o ávido consumo de informações não gera resultados satisfatórios. Pelo contrário.

Digressões.

Voltando ao Papa. Acabo de ler que ele tentou um acordo com Lula para, em termos educacionais, regulamentar a Igreja Católica no país. O presidente reafirmou a vocação do Estado nacional: laico, laico, laico.

Vale lembrar que tempos atrás, Bento XVI atacou a imposição do fundamentalismo islâmico. E, ao que parece, ele quer combatê-lo impondo o fundamentalismo católico. Brilhante.

Canta, Brecht: “Triste do povo que precisa de heróis”.

Muito triste.

quarta-feira, maio 09, 2007

Cadê o Xarlis?

O blogueiro cinza se encontra em terras chilenas. "Férias merecidas", segundo o próprio.

terça-feira, maio 08, 2007

A harmônica compatibilidade entre a vitória e a derrota (até que o fanatismo prove o contrário)

Luís Pereira

São palavras que traduzem situações discrepantes, mas formam uma relação de fidelidade profunda, como irmãos inseparáveis, siameses que compartilham órgãos vitais, numa ligação de resolução indivisível.

A vitória e a derrota. Uma não existe sem a outra – óbvia, feliz e triste constatação. Afinidade sempre controversa, dúbia, incerta, imprecisa, entretanto fundamental.

Aquele calor da disputa que chega ao último minuto da decisão, até a fatídica cena: a apreensão derradeira, a angústia final, a fração de segundo muda, vazia e, de repente, o furor da vitória e o silêncio e a dor da derrota.

O grito de felicidade em profundo contraste com a lamúria da derrota, produzindo perfeita harmonia no cenário da disputa.

Ditosos aqueles que triunfaram e melancólicos aqueles que sucumbiram. No entanto, a convicção de que ambos, a partir de um esquema uniforme, geraram um episódio de beleza intrínseca e inesquecível, pois um não seria possível sem o outro.

Escrevo esse texto em homenagem aos campeões e vice-campeões dos campeonatos estaduais de futebol de 2007, principalmente para ratificar a importância da luta – mesmo que perecida – dos derrotados. Mas confesso que esse texto só se fez possível devido à ausência do Corinthians no litígio final, pois, nesse caso, optaria por parafrasear o versátil e fecundo compositor Lamartine Babo no hino do campeão carioca, Flamengo: “vencer, vencer, vencer”.

segunda-feira, maio 07, 2007

Manchete: Virada Cultural bomba!

“Sempre gostei do Racionais MCs. Das letras, da batida, dos arranjos, da revolta. Para mim, Mano Brown tinha tudo para ser o maior porta-voz da periferia , um líder.
Tive a oportunidade de estudar e nunca fiquei preso em bolha. Andei bastante por aí. Acho que isso me fez entender mais as letras.
Considero o Mano Brown um cara politizado, mas muitas pessoas que escutam sabem muito pouco. Talvez pelas condições em que estão inseridas. Talvez, só escutem o que os interessa.
A oportunidade de ver um show dos Racionais surgiu com a Virada Cultural. Às 3 horas da manhã realmente não é um horário muito bom.
Cheguei na Praça da Sé por volta de 1 hora da manhã. Nunca vi tanta gente junta. Bonés, calças largas, mulheres imitando Beyoncé e crianças, cheiro, garrafas de vidro, bêbados, cheiro de urina.
1 hora de atraso. Não para de chegar gente, alguns sobem em prédio- ótima chance para pichar- outros invadem o palco, área de impressa. E sobem na banca -a famosa banca que os jornais contam- Um dos caras estava armado. Quando ele levantou a arma, um monte de gente saiu em disparada. Fui até um policial militar. “Meu irmão, veio ver o Racionais, agora agüenta!”
Policiais nervosos, suados, ansiosos , tensos com o que poderia acontecer.

O show começa. Uma correria aqui, outra ali. Polícia tentando tirar moleque da banca, do palco. Galera reage. Voa uma garrafa, uma lata.
Começa Vida loka, terceira música. “Fé em deus que ele é justo! Ei irmão nunca se esqueça”. Todo mundo pulando. Ficou incontrolavel a correria.
Pá, Pá, Pá....Tum, Tum , Tum. Tropa de choque a vista. A correria é generalizada, o barril de pólvora estourou.
Cacetada, gente ferida. Mano Brown sai do palco...
Um arrastão de gente correndo. Bombas de gás. Olhos vermelhos. Carro queimado? Para que?
Lojas depredadas? Não é daí que a gente tem que ter raiva.
5 feridos? Eu vi pelo menos 10.
Racionais odeia polícia. Policia odeia Racionais e estava em pouco número e é despreparada!

Triste fim. Apatia de quem deveria ser lider. Povo sem medir consequencias. Risco de morte em uma festa. A culpa é de que?"

Relato de R. A, um espectador.

*** Mais de dois anos se passaram e a mesma cena se repetiu. A última foi no Festival Agosto Negro de 2004, na Praça Charles Miller.

sexta-feira, maio 04, 2007

Previsões para quem precisa

João Prado

Eu tento entender, compreender e acompanhar as pessoas (especialistas?), que publicam aquelas previsões que “irão mudar as nossas vidas”. Pode ser o raciocínio míope deste blogueiro que vos escreve, mas não agüento muito tempo observando as opiniões em jornais, que variam entre o profético e o explorador. Falo das pessoas que antevêem a revolução da convergência digital, o fim de uma determinada guerra ou o começo de outra, a Second Life que abrigará a todos deste planeta ou a vida completada como num álbum de fotografias pronto (digital ou analógico).

Em uma das entrevistas que fiz com o Sílvio Meira (A outra já foi publicada, aqui mesmo), o engenheiro formado pelo ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), cientista chefe do CESAR (Centro de Estudos Avanços de Recife) e uma das maiores autoridades da tecnologia no país, ele me disse que “as previsões servem para cinco gatos pingados ganharem dinheiro”. Faz sentido. Como no modelo do mercado financeiro (o que entendo sobre bolsa de valores é que todas elas têm seus altos e baixos), ganha quem é a melhor Mãe Diná – acredita, compra e vende quem quiser.

Niels Bohr, Prêmio Nobel de Física e um dos idealizadores da energia nuclear, disse um dia que “É difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro”.

Duvido sempre das previsões. Acho que o futuro só é futuro se chegou. O resto eu não sei e não creio que alguém tenha certeza.

Acredito em evolução, mas não em bola de cristal!

quinta-feira, maio 03, 2007

Um país laico ou obscurantista?

Daniel Consani

Ontem recebi esse e-mail de Conceição Lemes. Vale lê-lo com atenção. O debate sobre as pesquisas com células-tronco precisa estar nas pautas jornalísticas e também na roda de samba, na mesa do bar. Não deixemos a ignorância nos impedir de viver. Nem as mais diversas religiões. Nem o obscurantismo por elas patrocinado.

Prezadas e prezados,

A possibilidade de uso das células-tronco embrionárias para pesquisa de doenças hoje incuráveis está ameaçada no Brasil. Daí este manifesto pelo direito à liberdade de pesquisa, ao progresso dos tratamentos e à esperança de cura. Se concordar com ele, junte-se a nós e assine-o. O seu apoio é fundamental. O documento será encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF). O link para adesão está no final. Repasse-o aos amigos e amigas, para multiplicá-lo. Agradecemos imensamente.

Conceição Lemes - Pró-células-tronco embrionárias

Direito à esperança de cura e vida, sim. Ao obscurantismo, não.

Definitivamente, um marco na história do Supremo Tribunal Federal (STF). Em 178 anos de existência, a mais alta corte do Brasil realizou, pela primeira vez, uma audiência pública. Objetivo: ouvir cientistas sobre a lei que autoriza a realização no país de pesquisa com células-tronco embrionárias. Pudera. É a aposta de investigadores do mundo inteiro para a cura de várias doenças ainda incuráveis, como mal de Parkinson, diabetes, doenças neuromusculares e secção da medula espinhal por acidentes e armas de fogo.

A avançada lei foi aprovada pelo Congresso Nacional por placar estrondoso: 96% dos senadores e 85% dos deputados federais deram-lhe a vitória. O presidente Luís Inácio Lula da Silva fez o mesmo. Rapidamente a sancionou. Só que ela parou no STF porque o subprocurador-geral da República, Cláudio Fonteles, alegou que é inconstitucional. Questionado sobre se sua ação não teria motivação religiosa, o franciscano Fonteles acusou a geneticista, professora e cientista Mayana Zatz de viés judaico. Fonteles disse ao jornal Folha de S. Paulo: "A doutora Mayana Zatz, que é o principal elemento de quem pensa diferentemente da gente, tem também uma ótica religiosa, na medida em que ela é judia e não nega o fato. Na religião judaica, a vida começa com o nascimento do ser vivo. Então, ao defender a posição dela, ela defende a posição religiosa dela, que é judia e que a gente tem de respeitar".

Acontece que:

1º) A posição de Mayana Zatz em defesa da pesquisa com células-tronco embrionárias não é pessoal e muito menos religiosa. A geneticista participou da audiência pública no STF como porta-voz da Academia Brasileira de Ciências, da qual é membro. Sua postura é a mesma defendida pelas academias de ciências de outros 65 países.

2º ) Há 30 anos Mayana trabalha com doenças neuromusculares letais ou altamente incapacitantes. Já viu milhares de crianças, jovens e adultos afetados morrerem sem qualquer chance de cura. Tanto que, para melhorar-lhes a qualidade de vida, fundou a Associação Brasileira de Distrofia Muscular (Abdim), da qual é presidente. Mayana é professora titular de Genética, diretora do Centro de Estudos do Genoma Humano e pró-reitora de pesquisas da USP. Publicou 280 trabalhos científicos já citados mais de 4.500 vezes.

3º) Agora, pela primeira vez, vislumbra, num futuro próximo, uma possibilidade real de tratamento para várias doenças neurodegenerativas. Sua esperança está justamente nas células-tronco embrionárias. Somente elas têm a capacidade de se diferenciar nos mais de 216 tipos de tecido do corpo humano.

4º) Mayana, como outros cientistas brasileiros, trabalha há alguns anos com células-tronco adultas. Os resultados preliminares de suas investigações ­ bem como os de outros presentes na audiência do STF e diretamente envolvidos com tentativas terapêuticas para diferentes condições (problemas cardíacos, diabetes, derrame, mal de Chagas, esclerose lateral amiotrófica e paraplegia decorrente da secção da medula) ­ mostram, no entanto, que a pesquisa com células-tronco embrionárias é fundamental. São elas que ensinarão os cientistas a programar as células-tronco adultas, de modo que se transformem nos tecidos desejados. As células-tronco embrionárias podem ser obtidas a partir de embriões de até 14 dias .

5º) A lei brasileira permite a utilização de embriões produzidos em laboratório para fins de reprodução assistida. Porém ­ atenção! ­ não abrange todos. Autoriza apenas o uso daqueles inviáveis para gestação ou congelados há mais de três anos, cuja probabilidade de gerar um ser humano é praticamente zero. A lei prevê mais: os embriões só poderão ser utilizados após autorização dos genitores. Portanto, aqueles que tiverem qualquer restrição de ordem moral ou religiosa não terão seus embriões usados para fins de pesquisa. Com o passar do tempo, os embriões deterioram-se inexoravelmente, perdendo o "prazo de validade". Por que então não utilizá-los de forma ética e responsável em benefício do futuro e da evolução da humanidade, salvando vidas?

6º) Na prática, conseqüentemente, proibir a pesquisa com células-tronco embrionárias significará, de um lado, continuar dando aos embriões excedentes nas clínicas de fertilização um habitual e inglório destino: o lixo. De outro, tirará a esperança de cura ­ portanto, de vida ­ de milhares de pessoas. Ninguém tem esse direito.

7º) A luta pela vida está acima dos credos. Logo, não se pode misturar ciência com religião, sob o risco de se voltar ao obscurantismo da Idade Média - a idade das trevas.

8º) O Estado brasileiro é laico. Assim, a tentativa de desqualificar os argumentos científicos de Mayana com insinuações anti-semitas é lamentável. No mínimo, contraria a tradição brasileira de tolerância e respeito à diversidade religiosa.

9º) Felizmente, Mayana não está sozinha. A defesa da pesquisa com células-tronco embrionárias já permeia largos segmentos da comunidade científica e da sociedade civil brasileiras.

Por tudo isso, nós ­– de diferentes religiões, etnias, profissões, níveis socioeconômicos, idades – ­ repudiamos a desesperada manobra para desviar o foco do debate. À Mayana, nosso apoio e solidariedade irrestritos. A sua batalha pela vida é também de todos nós. Direito à esperança de cura e à liberdade de pesquisa, sim. Ao obscurantismo, não.

Para apoiar esta petição clique: http://www.PetitionOnline.com/pesqcel/petition.html.

terça-feira, maio 01, 2007

Pequena reflexão sobre o amor no dia do trabalho

Luís Pereira

A família burguesa tem uma grande influência na nossa sociedade atual. Até hoje há famílias mais tradicionais que ainda acreditam que o principal provedor da casa deve ser o marido e que a esposa é a principal responsável pela educação dos filhos. Mas, como toda interação social sofre algum desenvolvimento ao longo do tempo, essa estrutura está cada vez mais contestada, e o principal causador dessa mudança é a reação feminina no mercado de trabalho.

As mulheres buscam uma igualdade perante os homens, que nunca foi registrada anteriormente, e procuram uma liberdade de escolha, uma necessidade de independência financeira e de um espaço digno e reconhecido no mercado de trabalho.

Essa relação de individualidade é totalmente presente na sociedade atual. Estamos nos deparando com um conflito entre as realizações pessoais e individuais e a vida conjugal.

Os relacionamentos de afeto são liberados e as pessoas têm a escolha de lidar com seus sentimentos da forma que melhor lhe convir. Essa situação ainda gera muitos conflitos. Isso, porque, acredita-se que as crianças se tornaram o centro dos relacionamentos familiares e são priorizados de uma forma totalmente oposta da ocorrida em sociedades como a da Idade Média européia.

O amor incondicional que uma mãe tem por seus filhos é muito valorizado e livremente expresso por elas. Situação prazerosa e benéfica para ambas as partes. No entanto, em um grupo desestruturado, pode haver conseqüências desastrosas, se não for bem empregado.

Essa forma de amor pode tomar proporções tão grandes que superam os critérios de criação de valores consistentes e de uma educação consciente. A família contemporânea se encontra em período de transição e de individualização, que gera uma profunda anomia, em que muitas pessoas se encontram perdidas e sozinhas.

Não há mais um padrão sobre como o amor incondicional de uma mãe exerce influência sobre a formação do indivíduo. Há um mito de que todas as mães devem amar completamente e ininterruptamente seus filhos. Criou-se um ideal de amor, e quando esse ideal não supera as expectativas, há uma grande frustração.

Parece que, mesmo depois de tanto tempo esperando pela liberdade de poder expressar esse amor e sentimento de proteção grande que uma mãe sente por suas crianças, isso ainda é uma das relações mais complexas de se lidar. Depois de tantos séculos de reflexões da humanidade sobre a forma de amar, ela continua incompreendida por nós. Então, só nos resta sentir e passar ao próximo. E ter certeza de que essa é uma das maiores razões para se viver.