Quando surge o osso no lugar do filé...
Daniel Boa Nova
Um dia merda começa sem nada na geladeira e você não dormiu bem. O futebol até tarde da véspera não lhe permitiu as 8 horas de sono recomendadas. E a ferrugem faz doer.
Daí que estamos na padaria preferida. Uma média, um pãozinho e já é. Tudo ótimo, mas por que raios o chapeiro inventa de enfiar a mão sem querer na xícara? Também não precisa tantas desculpas seguidas, beleza, manda outra.
Já no ofício, a esperança é por um dia livre para fazer com calma aquilo que realmente interessa ao indivíduo, mas que se existe uma visão além do alcance, é negócio para todos. Não. Uma pequena coisa atrás da outra e lá se vai a manhã. Não sem antes chegar a notícia de que, mais uma vez (ou como sempre), coube à equipe de bombeiros apagar as chamas. E as próximas semanas não serão tão boas.
Ainda antes do almoço, a cereja do bolo: mais um se juntará ao pelotão. Um recruta com holerite de sargento. Quanto a você, soldado, I´m really really sorry. Daí que o frango com arroz e legumes na manteiga desceu amargo que só vendo.
Cabeça vazia é oficina do diabo e ninguém veio para conversar. Mas a pulga permanece atrás da orelha, pedindo uma consulta. E a consulta adiciona impotência à indignação: nosso recruta foi convocado pelo general. Entendeu? É melhor entender.
Final da tarde. Uma simples ida à loja de conveniência torna-se perrengue, por ser o momento em que a chuva resolve dar as caras. A partir daí, cancelarem de última hora seu programa pós-expediente é fichinha. Afinal de contas, já passa de 20 horas, melhor mesmo é ir pra casa. Claro que no segundo ônibus a passar. Não teve dedo do meio que fizesse o primeiro parar.
Quando surge a idéia de jantar cianureto, eis a redenção. Na forma de uma vizinha senhorinha, das poucas que dão bom dia, boa tarde, boa noite. O último contato do dia com os seres humanos, no elevador:
- Você mora no último andar?
- Moro sim.
- Hmmmm.... É bom porque, se um dia o prédio desabar, você não sofre nada. Fica por cima de todos.
- É... verdade. Mas se um dia pegar fogo...
- Aí você tá fodido!
E o sorrisão com a arcada obturada à mostra. A vontade era convidar pra dar um tapa na pantera, mas ficou para outro dia.
5 Comments:
Delícia de texto, Boa Nova.
No ponto certo.
Abs.
Haha. Tão redentora que merecia uma pitada de chocomenta no marroquino da esquina. Condensou bem o proverbial desespero da rotina.
De novo mandou muito bem! Todo dia...
Mas e se você mora no último, tem um gato, e em algum lugar, sei lá aonde, existe a dimensão paralela?
Quando pegar fogo, vá pra lá, tipo aquela chave virada quando, pelo ronco da escotilha, o mundo parece acabar. E quando você acorda, seus dias de glória voltam a aparecer.
E é assim no trabalho. Quando o soldado se irrita, vira a chave, ou melhor, liga seu i-pod com busta rhimes no último e dá de loco. Todo mundo fala com você como naquele quadro do fantástico onde os surdos e mudos lêem os lábios. Insuperável....
Mas aquele tapinha na canjica da pé, hein?
Nossa, vi esse comentário muito tempo depois!
Melhor ever!!!
haha
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