Ponto Jor

sexta-feira, junho 29, 2007

Da série "senadores da república roubam e nunca fazem"

João Prado

Duas perguntas para Cláudio Weber Abramo, presidente da organização Transparência Brasil, entidade de combate à corrupção política.

Como você análise o caso do presidente do senado, Renan Calheiros?
O senado está dando um espetáculo lamentável. Está mostrando, entre outras coisas, que não existem razões para os senadores existirem. Para que serve o Senado? Esse caso está mostrando que os senadores não tem condições para tratar de assuntos públicos. O presidente do senado é alvo de acusações gravíssimas e consegue continuar em seu cargo porque não sofre nenhuma pressão para sair. A maioria dos senadores estão fazendo o jogo dele (Renan Calheiros). Falta disposição para aplicar o essencial. Na verdade, os senadores estão provando que só representam gastos e mais coisa nenhuma.

Na sua opinião, a pressão pública pode ser determinante em um caso como esse?
A pressão pública pode forçar os caras (políticos) para se mexerem. É a única coisa. Imprensa, manifestos e opiniões tem esse poder: O de forçar a tomada de decisões.

OBS: o repórter demorou, mas chegou!

quinta-feira, junho 28, 2007

Zodíaco

Daniel Consani

No último final de semana, tive o prazer de assistir a “Zodíaco”, obra-prima de David Fincher sobre uma onda de assassinatos ocorrida nas décadas de 1960 e 1970 na região de San Francisco.

Fiquei maravilhado com a ambientação da película e com a atuação de Robert Downey Jr., um dos melhores atores de sua geração, certamente.

Ao focar muito mais a obsessão de um cartunista do San Francisco Chronicle (interpretado por Jake Gyllenhaal, muito bom) pelo caso do que a mente do assassino em série, Fincher acerta em cheio.

O ponto mais interessante da obra reside na derrocada absolutamente notável dos envolvidos com a investigação do caso. Parece que a não-resolução os come por dentro. E nos come também, porque saímos do cinema com algum sentimento de derrota.

Se no magnífico “Se7en” Fincher havia nos dado uma resposta arrepiante e bizarra, e no imprescindível “Clube da Luta” teria tentado encontrar uma identidade dionisíaca para um homem insosso, em “Zodíaco” ele parece perceber que a pérola que procurava já residia dentro de si. O tempo todo. E a tal pérola é muito mais interessante do que as respostas prontas, tão valorizadas num mundo inserido no senso de urgência atual, com o qual nos acostumamos, infelizmente.

Em tempos de “Aranha”, “Piratas”, “Shrek” e “Treze Homens”, todos fast-food, “Zodíaco” é la crème de la crème.

quarta-feira, junho 27, 2007

Pausa para o café.

Daniel Boa Nova

Aos 47 do segundo e com possíveis alterações. Que inferno. Só não estou quebrando coisa porque a cabeça anda leve depois de um período away. Ando impressionado comigo mesmo.

Não sei se você sabe: a impressão de que pular e sair nadando seria até mais heróico do que tentar salvar o naufrágio. Deixa pra lá, tudo bem, fazer o quê.
___________________________________________________

Queria expressar revolta pelo assassinato do jovem garçom no Amarelinho por um grupelho de supostos punks – idiotas, acima de tudo -, todos na faixa dos 15 aos 20 que, de tão amigos e unidos, agora está um empurrando para o outro a autoria.

E também pelo espancamento e roubo da doméstica carioca por um grupelho de playboys, tudo garoto criado a leite Ninho servido muito provavelmente por uma babá da mesma condição social que a vítima. Tão revoltante que prefiro nem falar muito. Me pega o estômago.

Achismo puro: existe um certo tipo de educação doméstica que é a fórmula da merda. Uma educação baseada no “fui privado de muitas coisas, mas meu filho não será” que estimula crianças a fazerem o que bem entenderem; um individualismo exacerbado travestido de liberalismo. Gera péssimas índoles, falta de bom senso, inconseqüência.

Nos dois casos as testemunhas já reconheceram os acusados. Não conheço as histórias de vida de cada um. Mas nem bem começaram e alguns capítulos já podiam ser reescritos. Porque se não fizeram em si, estavam todos numa situação em que podiam ter feito.
___________________________________________________

Mudando total de assunto: para quem gosta de viajar, o CouchSurfing é uma boa. Zero novidade: saiu em reportagem da Época de 17/5.

Imagine poder ficar na casa de alguém na faixa ou, no mínimo, ter companhia para te apresentar o que tiver de mais legal no lugar visitado.

Utópico? Talvez.

Me cadastrei ontem, ainda não tenho uma amostra. Mas me parece uma ótima idéia.
___________________________________________________

Vou te contar: de primeira ouvida o disco novo do Interpol tá bem bacana – talvez um pouco menos que os dois primeiros. Mas uma faixa é especial: Rest My Chemistry, a oitava. O link pra download eu não passo. Afinal de contas, sou um cidadão de bem, respeitoso do Estado de Direito. Agora, tem uma tal comunidade aí...

terça-feira, junho 26, 2007

Sorriam!

Nosso querido Luís esteve na Bahia e lembrou-se de nós.

segunda-feira, junho 25, 2007

Uma letra

Sara Puerta

Devido às dificuldades e fatos inesperados da vida acabei perdendo hoje a criatividade. Fica aqui, uma letra bastante criativa do rapper Gog:

Brasil com P

Pesquisa publicada prova
Preferencialmente preto
Pobre prostituta pra polícia prender
Pare pense por quê?
Prossigo
Pelas periferias
Pm's praticam perversidades
Pelos palanques políticos prometem prometem
Pura palhaçada
Proveito próprio
Praias programas piscinas palmas
Pra periferia
Pânico pólvora pa pa pa
Primeira página
Preço pago
Pescoço peitos pulmões perfurados
Parece pouco
Pedro paulo
Profissão pedreiro
Passatempo predileto
Pandeiro
Preso portando pó passou pelos piores pesadelos
Presídio porões problemas pessoais
Psicológicos perdeu parceiros passado presente
Pais parentes principais pertences
PcPolítico privilegiado preso parecia piada
Pagou propina pro plantão policialPassou pelo porta principal
Posso parecer psicopata
Pivô pra perseguição
Prefeitos populares portando pistolas
Pronunciando palavrões
Promotores públicos pedindo prisões
Pecado pena prisão perpétua
Palavras pronunciadas
Pelo poeta irmão..

sexta-feira, junho 22, 2007

Mundo 2.0

João Prado

Quarta-feira. Estou no Hotel Hilton, na Av Nações Unidas, em sp. Espero dois empresários terminarem uma palestra, sobre gestão empresarial aliada com a tecnologia. Tenho agendado para depois dessa palestra um almoço, ali mesmo no restaurante Canvas.

Em uma mesa está sentado eu, o empresário brasileiro com cara de gringo, o assessor japonês e o americano com cara de americano que viaja e ganha dinheiro (bastante), falando sobre suas publicações e livros que discorrem sobre as práticas necessárias para um empresário "se dar bem".

Na revista que escrevo atualmente (Istoé Dinheiro), tenho por princípio da tarefa aliar minhas pautas para assuntos relacionados com a tecnologia – logo eu, que mal sabia baixar uma música há um ano atrás. Sem vacilar, começo a entrevista: "Alguns anos atrás, muita gente dizia que a tecnologia iria fazer com que as pessoas trabalhassem menos. Muitos vendiam essa idéia, que hoje percebemos que é totalmente o oposto. O que vocês acham?"

Depois do blá, blá, blá corriqueiro de empresários quando concedem entrevistas, veio o que eu queria: "Não vendemos conforto, vendemos flexibilidade", disse o empresário brasileiro com cara de americano. O sujeito não merece a menção de seu nome aqui, trata-se de um merda arrogante, que apesar de parecer ter estudado muito, solta pérolas como: "O erro do Brasil foi não ter sido colonizado por ingleses". Perfeito, cagalhão! Você achou a causa dos problemas do país.

Mais o que interessa é a frase sobre flexibilidade. Em outras palavras, o sujeito azedo e seboso quis dizer que todos nós, jovens e adultos e crianças, teremos que acostumar à dar adeus ao mundo confortável. A versão 2.0 do planeta diz que, hoje e daqui para frente, o negócio vai ser trabalho, job, trabalho, job.

Mesmo não conhecendo bem o assunto (repórter não sabe de nada e opina sobre tudo), em minhas apurações tenho percebido que smartphones, laptops e todo tipo de aparelho que traga a idéia de mobilidade, serve na essência para que trabalhemos mais e em mais lugares. Não interessa, o mundo caminha para isso. Trabalhar de casa, do banheiro, do avião, do aeroporto enquanto você toma o chá de cadeira de quatro horas, e por aí vai.

A tecnologia mudou e continua mudando as nossas vidas. A maioria dessas mudanças é para o bem. Mas é o seguinte, meu velho: Esqueça o mundo confortável e as duradouras horas de prazer!

quinta-feira, junho 21, 2007

Rápidas

Daniel Consani

Tango no Olímpico

O Grêmio acaba de perder o jogo de volta da final da Taça Libertadores da América, no estádio Olímpico, em Porto Alegre: dois a zero para o Boca Juniors. Costumo dizer que o futebol clubístico da Argentina é muito superior ao brasileiro. Estou cada vez mais convicto. Onde há um pouco mais de profissionalismo e nenhum Ricardo Teixeira para atrapalhar, o futebol vive melhor.



Democracia

A tomada de Gaza pelos extremistas do Hamas dizem algo em alto e bom som: os palestinos também apreciam a democracia.



Vavá e Calheiros

Os últimos escândalos no cenário político brasileiro mostram algo bastante novo: o embaraço familiar. Enquanto o irmão do presidente Lula parece ter aceitado propina, a ex-amante do senador Calheiros não devia estar satisfeita com a que recebia. A republiqueta está se superando.



Arctic Monkeys

Os macacos do Ártico vêm ao Brasil ainda este ano. Trata-se da melhor notícia de 2007. Alguém concorda?

quarta-feira, junho 20, 2007

A perna-de-pau, o olho de vidro, a cara de mau.

Daniel Boa Nova

A figura do pirata causa fascínio na infância. E assim começa a brincadeira.

Já não é de hoje o prazer deste em fazer coletâneas musicais, como o personagem interpretado por John Cusack em Alta Fidelidade, filme inspirado no livro homônimo de Nick Hornby. Para a família, os amigos, a namorada ou para mim mesmo. E daí que a idéia dessa é trazer um pouco do muito que tenho ouvido aqui e ali; reunir vários diversos estabelecendo conexões sempre que possível. O que acho bom, algumas coisas novas que talvez não durem e um ou outro sucesso.

Creio que nenhum dos artistas abaixo se oporia à divulgação de sua música. Só espero que ninguém me processe por isso. Porque sim, é ilegal. Mas não, não é imoral.
_____________________________________________________

Abrimos com o muito talentoso Lyrics Born na companhia de Tomy Guerrero, a quem desconheço. Na sequência temos Charlotte Gainsbourg, a filha do monsieur que, em seu disco de 2005, contou com a ajuda dos caras do Air. Sem sair do clima vem a versão de Emilie Simon para I Wanna Be Your Dog, dos Stooges, que é para puristas torcerem o nariz. Os Cold War Kids dão as caras com sua Hang Me Up to Dry e o riff simples e repetitivo que gruda, não sai e ainda emenda com uma canção irretocável dos Kinks. Passamos por Rain Dogs, dessas raras experiências que Tom Waits nos proporciona, seguido pelo insano Screamin Jay Hawkins. Mantendo nos bons intérpretes, Mike Patton apresenta Peeping Tom, o talvez mais palatável de seus trabalhos recentes. E é por falar em atuais projetos paralelos de gente que veio ao pop no início dos 90 que damos ouvidos a The Nightwatchman – ou melhor, Tom Morello. Para acordar, Regina Spektor, em uma canção atípica, traz uma boa dose de energia. Que se mantém com a bela Juliette Lewis e seu The Licks, provável atração do Tim Festival desse ano. Sem sair dos vocais femininos mas botando um pouco mais de groove, New Young Pony Club. Passamos por uma meio que rara do Franz Ferdinand e paramos nos Babyshambles, do lokão Pete Doherty. O epílogo fica por conta do Nightmares on Wax.

The good, the new & the hits – vol.1
(2007)

01 - Tommy Guerrero & Lyrics Born _ Gettin It Together
02 - Charlotte Gainsbourg - The Operation
03 - Emilie Simon - I Wanna Be Your Dog
04 - Cold War Kids - Hang Me Up To Dry
05 - The Kinks - I'm Not Like Everybody Else
06 - Tom Waits - Rain Dogs
07- Screamin Jay Hawkins - Ice Cream Man
08 - Peeping Tom - Mojo (Feat. Rahzel & Dan The Automator)
09 - The Nightwatchman - Battle Hymns
10 - Regina Spektor - Your Honor
11 - Juliette and the Licks - Sticky Honey
12 - New Young Pony Club - Hiding on the Staircase
13 - Franz Ferdinand - Can't Stop Feeling
14 - Babyshambles - The Blinding
15 - Nightmares on Wax - Flip Ya Lid

Download

segunda-feira, junho 18, 2007

A segunda vida, literalmente


Sara Puerta


Bem-vindo ao Matrix! O filme classificado como ficção científica não é tão irreal como imaginávamos ser. Um mundo paralelo já foi desenvolvido e o seu progresso é bem rápido.
Perdoem-me o exagero, mas essa minha teoria surgiu essa semana ao receber um convite por email para uma festa. Quando o vi na caixa de entrada fiquei feliz da vida imaginando ser mais uma “boca-livre” do lançamento de alguma coisa. Pois é, mas a tal festa estilo rave não tinha um endereço, digamos assim, muito fácil de ser encontrado. A balada era, literalmente, realizada em outro mundo! Isso mesmo! Era em um terreno no Second Life.

E eu, é claro, só conseguiria marcar presença se fosse tivesse uma identidade avatar, nome “sinistro” dado aos cidadãos da “segunda vida”. Aliás, a assessoria de imprensa passou o convite partindo do pressuposto que todos tenham um avatar. Pois esse negócio de ter uma vida paralela no reino virtual virou uma febre. Segundo a assessora de imprensa da empresa que cuida do Second Life- diga-se de passagem ela é de carne e osso- no Brasil há cerca de 100 mil pessoas cadastradas.


Eu estou passada, porque não se trata de crianças mantendo um reino de fantasias. São pessoas com seus vinte e poucos anos empolgadas com a outra vida, e dando o máximo de si para ser um avatar bem sucedido.


Um parêntese antes de continuar: se alguém ler e odiar minha crítica a esse troço, por favor me arranje um fator positivo em ter um avatar e ter uma outra vida.

Sei que o Second Life já foi discutido pela imprensa, já foi capa de revista e tudo. Mas é que só agora me dei conta de tão louca é essa situação. E se você resolve ira a fundo, descobre coisas que nos deixam de cabelo em pé: você recebe salários, compra terrenos, faz negócios, vai em festas, chega junto no gatinho do lado, tem festas de lançamento de novelas, os SPFW acontece lá e aqui, grupos religiosos, comunidades no Orkut com pessoas virtuais. As mais impressionantes “Empresários do Second Life” e “ As mais gatas do Second Life”.

E ainda, Estado de S. Paulo lançou um jornal virtual lá no mundinho, com notícias de lá. Os jornalistas são formados no mundo real e tornam-se avatares.
Não demora muito, as notícias deixarão de ser sobre os investimentos e eventos. Parece, que já houve um estupro, disse um site de tecnologia. Futuramente, vão acontecer até julgamentos. Já deu para ver que o negócio é piração, né?

Sociólogos, psicólogos e antropólogos de todo o mundo, Uni-vos! Isso me cheira a fuga da realidade, vazio. Enquanto você se preocupa em cuidar do seu avatar, o seu corpo de carne e osso apodrece e se encolhe.

Será que o mundo real se saturou tanto que é melhor investir em outro mundo? Como ficam os sentimentos? Como será a evolução sociedade? Existe desigualdade social?Já deu para perceber que pularam o medieval e já chegaram ao capitalismo. Será que existem avatares acima do peso? Acho difícil....


Na imagem: Balada no Second Life.






sexta-feira, junho 15, 2007

Deus nos desengarrafe

João Prado

Trânsito, socorro, já era. SP está entupida de carros. Qual é a desculpa do dia? Hoje o caminhão entalou na ponte da marginal, é dia dos namorados, dia da greve dos metroviários, greve dos perueiros... Qualquer desculpa é desculpa. O fato é que o trânsito em SP não tem muito jeito. Ou não se anda mais de carro (no que devo me incluir) ou a realidade virtual chega logo para que diminua o tráfego de corpos – digo, mais precisamente, do trajeto casa-trabalho.

Se o tempo é dinheiro, o trânsito é um dos maiores inimigos dos bolsos dos cidadãos. Não se cria e investe em projetos dentro de um carro ou de um busão lotado, não se conhece pessoas dentro de uma bolha e dificilmente pode surgir uma grande idéia em plena Marginal Pinheiros, parada às seis da tarde, que não seja de abandonar o possante e falar: “Tchau. Vocês que fiquem aí”.

Mas se o transporte público é a salvação, no que eu acredito também, o cenário piora. Inocente de quem acredita nas obras superfaturadas do metrô. Expansão zero. Infra-estrutura zero. Investimento zero. E pouca gente enchendo o bolso de dindin.

Este é mais um post no PontoJor sobre o caos do trânsito em SP. Os colegas aqui também já escreveram sobre. O assunto é velho, mas cada vez mais factual.

Vou dormir agora porque tenho que estar na Paulista às 9h00. Vou de metrô, se a greve não voltar.

Nota: quando estou em um engarrafamento, só me lembro da frase do dePUtado Paulo Maluf, quando era prefeito dessa cidade: “Trânsito é sinal de progresso”. Filho da puta!

quinta-feira, junho 14, 2007

Ótimo debate, péssimo jornalismo

Daniel Consani

A tradição de Veja em transformar boas pautas em excrescências continua. Basta ver a edição número 2.011, de 6 de junho. “Raça não existe” é o que estampa a capa e você, caro internauta, pode estar pensando em parar a leitura por aqui uma vez que concorda com a afirmação e já sabe que vou criticar a citada matéria. Mas peço mais um pouquinho de paciência com minhas desajeitadas letras. Você vem?

Primeiro: o conceito que conhecemos de raça, de fato, não existe. Principalmente em uma sociedade caracterizada pelo sincretismo, é dificílimo (além de imbecil, claro) determinar quem é branco e quem é negro. Aqui, Veja faz um belíssimo trabalho mostrando, por exemplo, que Neguinho da Beija-Flor tem ascendência predominantemente européia.

Só que as virtudes da matéria param por aí, porque Veja faz dessa premissa uma arma para atacar o sistema de cotas raciais adotadas pelas universidades públicas tupiniquins. Baseada em um caso ocorrido na Universidade de Brasília (UnB), em que dois irmão, gêmeos idênticos, foram classificados distintamente (um branco e um negro), a revista de maior circulação do país desqualifica grosseiramente a norma adotada por 34 universidades brasileiras, que reservam 20% de suas vagas a alunos negros e pardos que conseguem a nota mínima no exame.

De fato, o caso da UnB é alarmante e espelha as falhas de um sistema que busca fazer justiça social de uma maneira questionável, sim, mas que não merece ser achincalhado. Pelo contrário. Merece aplausos, em minha visão. Quem tiver uma solução melhor para compensar as diferenças entre o acesso à educação de uma criança negra e uma branca, que se pronuncie, por favor.

O tom escandaloso de Veja parece ter relação direta com o descaso da classe política brasileira frente à horrenda distribuição de renda no Brasil. Que a classificação de pessoas de acordo com a cor da pele é estúpida, não há dúvidas. Mas que há um imenso vazio no suposto acesso à educação e cultura do negro brasileiro, é igualmente indubitável. Neste entrave, assim como em qualquer outro, o debate é imprescindível. Já o tom prepotente e espetaculoso de Veja é repugnantemente descartável.

quarta-feira, junho 13, 2007

Ah, os jovens...

Daniel Boa Nova

Enquanto uns tantos alunos da USP continuam living la vida loca na Reitoria, uma notícia que apareceu ontem nos principais portais não nos deixa esquecer: só no estado de São Paulo são mais de 200 mil crianças trabalhando. Ah é: além de Dia dos Namorados no Brasil, o 12 de Junho é conhecido por ser Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil.

E eu posso até queimar a língua, mas creio serem poucas as chances dessas 200 mil aí estudarem na USP. Acho que vai ser difícil. Se trabalham é porque deve faltar renda. Fica complicado pagar uma boa escola que garanta uma boa base para passar no vestibular da talvez mais concorrida universidade do País, mas, se não for possível de primeira, cursinho. Isso se chegarem a completar o ensino médio.

Agora me diz uma coisa: o que é que os participantes do movimento esperam pra sair de lá? O governador já não publicou o decreto declaratório que reafirma a autonomia da universidade? Os professores já não conseguiram aumento? Poderiam ter saído de cabeça erguida pela porta da frente, mas parece difícil largar o osso, não?

Ou talvez eu saiba. Talvez eu já conheça essa história. Uma vez que estão ali e sentiram o gosto do poder, aproveitam para manter o pavio aceso e, quem sabe, conquistar algo mais - tipo destituir algum secretário no grito. Estão esperando chumbo. Torcem para que venha a muito dura e legitime essa luta. Porque não existe vitória sem arranhões, certo?

Levar uma situação ao extremo para poder assumir o papel de vítima. Exigir a saída de representantes que, por pior que sejam, fazem parte de um governo eleito. Vamos encher os pulmões e gritar junto: viva o democrático movimento estudantil brasileiro!

terça-feira, junho 12, 2007

Uma poesia para o dia dos namorados

Luís Pereira

Ah se não fossem suas madeixas
onde encontraria as minhas deixas
cheias de manhas
para me aconchegar nas suas entranhas

Noto que tu estranhas
e entendo suas queixas
mas enquanto charmeias
sei que tu me chamas

Choca-me a paixão
uma vez posta que é composta de chama
pois quando a flama exaure
o amor entra em choque e vira chacota
se chora tanto até que o pranto se esgota

Já o choro, em forma de poça,
deixa o rosto com semblante de fossa

segunda-feira, junho 11, 2007

Ah, esse sim!



por Sara Puerta


Enfim, Dia dos Namorados é isso, coração para tudo quanto lado. E a “parte feminina” do blog, que não fere o masculino, sente-se hoje na obrigação de deixar de lado os posts revoltados, ácidos e irônicos (tava demorando !). Aliás, me perdoem novamente a chatice, eu não vou falar de datas e presentes, prefiro sim, falar de amor. Ah! Esse sim, o amor...

Se amanhã temos que comemorar o Dia dos Namorados, ao contrário de ficar rodando horas atrás de um presente ou lamentar a falta de alguém que fique na casinha de sapê, vamos comemorar os casos, os ficantes, os amigos-coloridos, comemorar a companhia que serve apenas para passar o tempo. Comemore olhares e sorrisos íntimos, risadas confortáveis, o amor rock n´roll, bohêmio, honesto e amigo. Essa simples e suave coisa que amadurece.

Enfim, todos sujeitos, prejudicados, substantivos, adjetivos, que complementam o verbo amar.

Acha que não tem o que comemorar? Lembra do seu amor que virou amizade, porque se é de verdade ele só muda um pouquinho. Daquele caso antigo que tomava várias com você.
Comemore até um envolvimento passado com uma pessoa de caráter duvidoso. Os falsos e relacionamentos fracos servem para mostrar do que você não precisa mais. Por isso, não tenham um pingo de raiva desses filhos da puta (sic!). Inevitavelmente vão surgir para fazer um divisor de águas. Tudo é relatividade.

Brindaremos também a moça bêbada que tira o cara tímido para dançar, aos que tomam coragem de se declarar, as mil formas de aproximação, aos que não tem alma seca. Comemore aquele fora que doeu, doeu demais...e hoje até considera que não foi tão ruim assim.
No mais os destilados e novas paixões curam! Desanda, meu filho! Mas só por alguns dias! Ô se passa!

Eu comemoro hoje, amanhã e sempre a capacidade que “ele” tem de tornar qualquer dia comum em feriado! Com muito amor, até o fim!


Na imagem: um exemplo de quem sente!

sexta-feira, junho 08, 2007

O Sesc é foda!

João Prado

Quinta-feira, seis da tarde, estou na frente do Sesc Pompéia, na rua Clélia, aqui em SP. Na opinião deste que vos escreve é um dos lugares mais bacanas dessa city. Um lugar genuinamente democrático: da calçada, secando a lata de cerveja, vejo jovens, manos, playboys, gente feia, gente bonita, travesti com bigode, bêbados e alguns que aparentemente são “normais”.

No meu caso, aguardo uns amigos para ir ao show do Mundo Livre S/A. Demais! Guns of Brixton, do Clash, versão cavaco – Zero Quatro é o punk brasileiro! Mas a questão que aqui eu tento levantar é que lá, no Sesc, são Paulo fica mais são Paulo – como já diria um brother, o Tupã, que “o Poupa Tempo tem a cara real da gente brasileira”. Sem disfarces. Se essa cidade às vezes é vendida como elegante, essa elegância, para mim, não está em seus prédios altos, no restaurante do Alex Atala ou nas festas do Jockey Club. Está nos bares da Augusta, no cinema velho freqüentado por gente “moderna”, nos lanches de padaria e nas bancas de jornal.

O Sesc tem um pouco disso tudo. Não necessariamente essas coisas ditas acima, mas um pouco da gente que esses locais atraem. São esses lugares que me fazem gostar um pouco (e odiar menos) essa cidade perdida.

Como repórter, impossível não ligar a antena da apuração, quando vejo a “guerra” dos tiozinhos que vendem cerveja na porta do Sesc. Aos gritos de “Itaipava e Skol” e “Bohemia e Skol”, de lado a lado, travam um duelo limpo e engraçado, mesmo que o jogo da vida seja duro.

Post de última hora. Hoje é sexta e esse repórter está de folga.

quinta-feira, junho 07, 2007

RCTV, Venezuela e o poder da mídia

Daniel Consani

Em meu texto da última quinta-feira, 31 de maio, abordei a não renovação da concessão da Rede Caracas Television (RCTV) por parte do governo venezuelano. Expressei com veemente pesar a minha decepção com tal atitude de Hugo Chávez. Mas não deixei de dizer, também, embora nos comentários, o quão sórdida e repugnante era (e é, pois ainda opera via satélite) a já citada rede de televisão.

Retomo o assunto hoje para falar da CartaCapital dessa semana (número 447, de 6 de junho de 2007). Com a capa estampando recortes de letras impressas com a frase “A mídia faz política”, a revista faz um contundente relato da intervenção da chamada “grande imprensa” nas grandes decisões mundiais. Os quatro ganchos para a série de reportagens sobre o tema são: o constante clima de escândalo que a mídia impõe a casos impropriamente misturados como o da Operação Navalha e das denúncias contra Renan Calheiros; a vitória de Sarkozy nas eleições presidenciais francesas com ajuda dos meios de comunicação; a assimilação do aparato de propaganda do governo Bush por parte da imprensa estadunidense; e, claro, o entrave Chávez X RCTV.

Na excelente matéria “Nem Estado nem mercado”, de Antonio Luiz M. C. Costa, CartaCapital reflete sobre toda a cadeia de fatos que culminaram na não renovação da concessão da emissora. Como sempre, a revista chefiada por Mino Carta faz do exercício da crítica o seu maior trunfo. “Mas é errado tratar Chávez como a primeira e única ameaça à liberdade da Venezuela. Ameaça muito maior foi a própria mídia, durante o golpe de 2002”, ressalta o texto, que cita ainda o ensaio do pensador alemão Jürgen Habermas, publicado no caderno “Mais!” da Folha de S. Paulo em 27 de maio, no qual ele defende a intervenção e participação do Estado na imprensa escrita. “Quando se trata de gás, eletricidade ou água, o Estado tem a obrigação de prover as necessidades energéticas da população. Por que não deveria prover essa outra espécie de ‘energia’, sem a qual o próprio estado democrático pode acabar avariado?”, coloca Habermas.

É verdade, porém, que a revista é excessivamente entusiasta do governo Lula. Pelo menos para o meu gosto. Mas nem por isso, deixa de investir numa profunda reflexão sobre a indevida e indecente influência da mídia no mundo contemporâneo, em que o mercado financeiro é absoluto. Há, por exemplo, um relato interessantíssimo de Patrick McElwee, da ONG estadunidense Just Foreign Policy: “O caso da RCTV não é de censura de opinião política. Um governo, por meio de um processo falho, deixou de renovar a concessão de uma empresa que não a teria conseguido em outras democracias, inclusive os Estados Unidos. De fato é espantoso, francamente, que essa companhia tenha tido permissão de transmitir por cinco anos após o golpe e que o governo Chávez tenha esperado pelo fim da licença para lhe tirar a permissão de usar o espectro público”.

O ponto central da matéria é facilmente detectável: jornalismo indecente, irresponsável e mentiroso, como o que praticava a RCTV, deve ser banido. Trata-se de uma linha de raciocínio merecedora de aplausos, mas questionável, já que a concessão televisiva é, por direito, pública, e dois terços do povo venezuelano se postou contra a não renovação.

Continuo achando que Chávez agiu mal. Deveria ter renovado a concessão. Mas que CartaCapital elevou esse debate a um patamar altíssimo, eu não duvido.

Palmas para Mino e sua equipe.

quarta-feira, junho 06, 2007

Transponders e pastores

Daniel Boa Nova

Imagine que você trabalha sob péssimas condições, alta pressão e que a vida de várias pessoas depende de seu êxito. Seus superiores também estão cientes das condições ruins, mas aparentam não poder fazer nada – a tal da burocracia. Enfim, uma rotina que consiste em afastar a batata quente da sua mão.

Como não poderia deixar de ser, um belo dia dá merda. Das grandes. E como acaba se espalhando, um bode expiatório é necessário. Bem sabemos que a corrente sempre estoura do lado mais fraco.

No Fantástico do último domingo, Jomarcelo e Lucivando, dois dos quatro controladores de vôo acusados de serem responsáveis pela tragédia do vôo 1907, se disseram injustiçados. Segundo eles, todos os procedimentos necessários foram seguidos. E que erros de software como o do dia do acidente são recorrentes, inclusive reportados. “É um setor deficiente. Era mais uma situação de rotina operacional”, (OESP, 05/06/07), segundo Lucivando.

Cinismo? Duvido. Apesar das informações desencontradas, parece claro que não foi erro apenas de um ou dois subalternos. Se você é o responsável pelas decisões e se acomoda com a possibilidade do pior acontecer, não deixa de ser cúmplice quando ele acontece.
_____________________________________________________

E o Tribunal de Justiça de São Paulo condenou a Google Brasil a retirar do Orkut toda e qualquer comunidade que “ofenda a honra” do bispo Edir Macedo. Deu no Estadão de ontem e as aspas são por conta dos advogados do criador da Universal. Em caso de descumprimento, são mil pratas por dia.

Não é só: a empresa terá que revelar a identidade dos acusados de xingar Macedo. Serão processados um por um. O argumento é que o bispo estaria correndo perigo e sabe o que é pior? A decisão está mais do que correta. E se fosse com você? Também não gostaria de poder se defender de ataques anônimos?

Mas eu tô com o presidente da Safernet, Thiago Tavares, e não abro: “O mais irônico dessa história é que a Google revela rapidamente essas informações quando é processada por celebridades. Quando o Ministério Público Federal pede a identificação dos internautas pedófilos e racistas, a empresa diz que não pode fazer isso”.

Com relação a Edir Macedo, prefiro que o próprio fale por si:

terça-feira, junho 05, 2007

Volta pelo Clima

Luís Pereira

segunda-feira, junho 04, 2007

Como seria a São Paulo para dar certo....

Sara Puerta

Sábado. São 11h30 da manhã. O dia da semana sagrado para os judeus ou de alegria para muitos trabalhadores, começou chuvoso. Mesmo sem os congestionamentos de rushs, como da semana, a cidade pára.

“Meu Deus, que cidade é essa!?”. Ela não pára nunca, não tem misericórdia nem para os que desejam um dia de sossego.

E o pior de tudo: é uma cidade fantástica, que não sabe a força que tem. Pois bem, eu acredito que ela daria certo, não com projetos falsos de revitalização, como o da Cracolância, (já contado aqui pelo João). E alguém se lembra do Edifício São Vito, o famoso “Treme-Treme”? As famílias foram retiradas esperando um projeto panorâmico e espetacular. Até hoje, não vi nada! E olha que faz mais de 3 anos!

Bom, a verdade é que me deparei com uma matéria da Superinteressante dizendo o que São Paulo teria que fazer para dar certo. Estamos tão longe, longe, longe (se esse é mesmo o caminho).

Veja algumas::::

- Diminuir a quantidade de carros/Investir em ciclovias:
São Paulo tem 30 km de ciclovias. Aff!!!No Brasil , todo , todinho são 2.400 km. Afff! E olha que existe uma secretaria só para isso em Brasília!

- Diminuir o tamanho dos Shoppings.

Do jeito que está São Paulo, da maneira em que as “comprinhas” e a praça da alimentação estão difundidas na cabeça, duvido muito que isso acabe, ou que pelo menos estagne! Ok!? Gera empregos, roda a economia. Mas atrapalha o trânsito e pode ser facilmente substituído por lojas térreas, que convivam harmoniosamente com casas.
Para você ver como estamos longe, basta reparar naquele mercado que tinha perto da sua casa. Hoje, provavelmente, ele é um “monstro das compras”.

sexta-feira, junho 01, 2007

A nota 10 do Kassab

João Prado

Em entrevista à Folha De São Paulo, Kassab foi direto ao avaliar o próprio governo e disse que sua administração merece nota 10. O prefeito disse mais, quando foi perguntado sobre as condições da Cracolândia, no centro da capital: "Não existe mais cracolândia, o que existe é a Nova Luz. O sonho virou realidade".

Pedro Alvares (nome fictício), 15 anos, mora nas ruas de São Paulo há cinco anos. Os dois últimos foram passados na estação inferno, que atende pelo nome de Luz: "É só passar uma noite aqui, que você vai ver crianças fumando na latinha". A polícia chega e resolve da maneira que sabe: "Os ‘homi’ vem aqui sim, mas eles tão preocupado em expulsar a gente que dorme na rua. Eles chegam falando ‘pega sua latinha e sai fora seu merda’", disse Alvares.

Não é novidade que a cracolândia é o parque temático da desgraça paulistana. A pergunta para quem duvida é: Por um acaso, você ai da poltrona, tem coragem de ir até lá para ver com os próprios olhos? Não é uma cobrança. Apenas uma constatação de que para o político é fácil mentir, sendo que dificilmente a população tira a contraprova.

Estamos ocupados, o frio de São Paulo nos mantém em casa e o prefeito proclama a sua própria nota: DEZ.