Ponto Jor

sexta-feira, março 23, 2007

Para Lapa... de Baixo

João Prado

Quinta-feira. Depois de entregar a minha reportagem dessa semana (sobre o tal “apagão aéreo”) e acompanhar a diagramação da página, estava livre (quase) das minhas obrigações profissionais. Resolvi sair da editora e sentar em um boteco para tomar uma cerveja. Foi a melhor maneira que encontrei para vencer os minutos (cerca de 30), até acabar o tempo do rodízio.

Não sei se a semana que foi corrida, ou apenas por estar sozinho e, por isso, ter tempo totalmente livre para pensar em coisas vagas, mas o fato é que sentado naquele boteco parecia que eu estava em posição privilegiada para observar o Largo da Lapa e seus personagens. Lembro que de dia são crianças com suas lancheiras, domésticas, faxineiras, ambulantes e motoristas de lotação, que andam por ali. Aparentemente todos “trabalhadores-humildes-honestos”. Alguns fatos parecem se repetir, como os mesmos carros estacionados nos mesmos lugares, a mesma tia (parece trabalhar como doméstica) que passa por mim quase todos os dias quando eu chego, e os moleques que sempre pulam o muro da estação da CPTM, para não pagar a passagem, que custa R$ 2,30 (se não estou enganado).

De noite a coisa muda de figura e o cenário é outro. Ainda são trabalhadores que estão lá (no bar), mas o barulho das lotações dá lugar ao coro que vem dos bares. Pouca gente circula pelas ruas, imagino, com receio de caminhar pelas vias escuras (nada mais Lapa de baixo, do que as ruas escuras quando a noite chega). Sentado em uma mesa de frente para a Rua Engenheiro Fox, na calçada, observo o logo pregado na parede do hotel “Largo da Lapa”, contornado por uma luz vermelha, que favorece ainda mais o clima – esse hotel, na verdade, dá todo um charme para o local.

Não conheço muitas coisas sobre a Lapa de Baixo. Moro na zona sul e isso, em São Paulo, quer dizer que possivelmente eu não conheço muito sobre a zona leste, oeste e norte. Mas dá para notar as marcas da região, que são típicas de um antigo bairro industrial e ainda proletariado.

Imagino quantas histórias que existem por ali. As casas pequenas (todas parecidas, uma ao lado da outra), os puteiros, os bares... As pessoas. Naquele pouco tempo que estive sentado, bebendo algumas cervejas (perfeitamente geladas), me pareceu que: independente de tudo e qualquer coisa, todas as pessoas presentes ali estavam felizes.

5 Comments:

Blogger Daniel Consani said...

Johnny,
São Paulo vista pelos seus olhos tem um charme deliciosamente impresso em cada tijolo, em cada lajota...
Nem Márquez fala de Macondo com tamanho lirismo...
Parabéns e abraços!

09:28  
Anonymous Anônimo said...

Sabe que eu sempre tenho essa mesma visão dos lugares... legal. Escreva mais sobre isso!
Beijos

10:52  
Blogger Sara Puerta said...

João, (o cronista da cidade)
Tambem trabalho na Lapa. Mas, na parte de cima. E acho a de baixo, o que há de inspirador. Enxergo também essas vidas complexas e cheia de energia que habita o bairro.

12:26  
Blogger Sara Puerta said...

quer dizer, habitam....

12:27  
Blogger Luís Pereira said...

E surge um novo Rubem Braga???

Parabéns Jony, o cronista da cidade.

16:20  

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