Entrevista: Daniel Galera

Daniel Consani
Ontem. O sol abrasador fazia minhas têmporas queimarem. Estava na rua Joaquim Floriano, no Itaim, a espera de um táxi. Trânsito. Acabara de voltar de entrevista coletiva com o presidente do Grupo Nutrin, Thomas Costa, em Americana.
Pressa. Três e meia da tarde. Já deveria estar na sede da TV Climatempo para aprovar a exibição do Programa Profissional&Negócios dessa semana. Pressa.
Um garoto de cerca de oito anos se aproxima.
- Moço, quer engraxar?
Havia engraxado o sapato no último fim de semana, mas por que não? Puxo a barra da calça um tanto para cima e vejo o garoto pegar a graxa preta com uma escova de dente.
- Como você se chama?
- Lucas.
- Quantos sapatos você engraxa por dia?
- Em dia bom, consigo uns trinta. Mas teve um dia que engraxei quarenta e um sapatos.
- Caramba, trinta clientes num dia? É bastante, né?
- Não, trinta sapatos. Dá quinze pessoas.
- Ah, bom.
Foi inevitável. Comecei a pensar naquele número: 41. Será que ele se referiu ao número de pares ou de sapatos? Sei lá. Mas também não vou perguntar.
- Quer dizer que você conta os sapatos e não os pares de sapatos que você engraxa? E como é que um dia você engraxou quarenta e um?
- Ué, é que tem um senhor perneta que trabalha ali naquela ótica. Ele sempre engraxa.
A naturalidade de Lucas despertou um leve sorriso em meus lábios.
Ele já havia terminado o trabalho no pé direito. Passou para o esquerdo.
- Para que time você torce?
- Para o Corinthians – ele respondeu.
- E você não tem vergonha?
- Não, claro que não. Você tem cara de são-paulino.
Outro sorriso.
- Sou corinthiano também.
- É mesmo? Nós vamos meter três a zero no Santos hoje.
Às vezes queria voltar a ter a crença incondicional e a esperança inabalável de uma criança.
- Três a zero é pouco. Cinco a zero – disse eu.
- Pode crer – disse Lucas gargalhando.
Dei-lhe dois reais.
- Meu táxi chegou.
- Vai com Deus – disse Lucas.
Que Deus o acompanhe também, caro amigo.
É da nossa cultura não dar o devido valor aos pioneiros, os agentes transformadores. Não me atrevo a querer explicar, só sei que isso rola. Achismo puro com um pé na realidade. O esquecimento completo de um craque boleiro do passado pelo clube onde se destacou e a degradação a que são submetidos edifícios e monumentos históricos brasileiros são apenas algumas das muitas faces de uma mesma moeda, corrente por aqui. Manja caminhão-baú atropelando fonte em Ouro Preto? Então...
Foi com isso na cabeça que, no último sábado à noite, pude conferir a quantas anda o trampo do Thaíde. Quase desisti, o que teria sido lamentável.
Thaíde, você sabe, dos precursores do hip hop nacional. Desde os anos 80 na ativa, gravou vários discos em parceria com DJ Hum, que hoje gira seus toca-discos no inferior Motirô. Em 2000, lançaram um dos melhores registros da história do rap nacional: "Assim Caminha a Humanidade", via Trama, para 1 ano depois dissolverem a dupla. Falei no disco e botei para tocar.
Jà há alguns anos que o MC e ex-dançarino de break era visto apresentando o Yo!, programa de hip hop da MTV que passa em horários alternativos (se é que ainda passa). E quem assistiu ao filme Antônia pôde conferir sua veia cênica, posteriormente adaptada para a minissérie da Globo. Pois bem, sustento garantido. E a música?
Apesar de não ter saído da mídia no período e nem parado de fazer shows, já ia longe o último registro sonoro de Thaíde. De um lado as propostas de trabalho e, do outro, o sucesso de “Senhorita”, davam a entender que poderia ser o começo do fim de uma carreira.
Fui surpreendido pela notícia do show de lançamento de seu novo disco no SESC Pompéia - um dos melhores espaços de Sâo Paulo - e às 21h eu já estava lá. O público compareceu em bom número, o que me fez descrer de tudo o que achava: Thaíde está em alta. Até o Senador Eduardo Suplicy foi visto por ali.
Na abertura, uma performance curta do rap oldschool raivoso e mal-encarado do DMN. Que funciona bem ao vivo. É de uma pegada intensa, pesadaço, bom pra quem curte bate-cabeça. Mas a festa tinha outro dono.
Thaíde abriu com “Apresento Meu Amigo” e um coro que incluía Lino Crizz, outros 2 manos e mais meio SESC. Passou por “Preste Atenção”, “Afro-Brasileiro” e algumas mais recentes, como “Caboclinho Comum”. Com o perdão do trocadilho, uma que levantou a galera foi “Pra Cima”, a música de abertura do Yo!, já de sua fase solo.
Chegou a hora das participações especiais e o Záfrica tocou uma para mim desconhecida. Na seqüência, sua “Tem Cor Age” – deles eu sou suspeito para falar, fã é foda. De Conceito também compareceu e mandou “Se Virar, Virou”, seu hit. Além desses, várias inserções de dançarinos de break e, vez ou outra, surgia bailando uma negona saradaça de biquíni, pra elevar a temperatura.
Festa. Teve até espaço para piada entre uma música e outra (sabe o que a cachorra falou pro cachorro em frente à farmácia?). Perto do final do show, um dos pontos altos: a nova e divertida “Louca por Mim”, que inaugura o estilo rap-brega no Brasil. E, para encerrar, claro, a obrigatória “Senhor Tempo Bom”. Beleza!
Teve um ponto fraco: o cd novo não estava à venda. Falha, é real. Compensada com a venda da biografia de Thaíde (acrescida de um cd com 3 músicas inéditas) a 10 pilas. Tá valendo. Mas me parece que o cara ainda terá muita história para acrescentar à obra.
_________________________________________________
Abaixo uma apresentação especial para o Carnaval na MTV, Thaíde & DJ Hum em boa fase e acompanhados por uma super-banda. Uma releitura da antigona "Lata D´água na Cabeça" com a letra de "Brava Gente". Lembro de ter visto isso, acho que era 97. Que tempo bom...
Daniel Consani
Tem assunto que é foda. Chega e fica.
No último final de semana, comprei o último DVD da Madonna, chamado Confessions Tour. Custou R$ 49,90 e vem com o CD do show. Bem bacana. Bem bacana não, excelente. O show é bárbaro, com canções belíssimas e dançarinos talentosíssimos. E a Madonna, que ainda é o máximo, claro. Resumo: valeu cada centavo.
O fato é que, sábado à tarde, estava eu relaxado assistindo ao show quando, na música “Live to Tell”, Madonna surge “pregada” a uma cruz, cantando. Sobre o palco, uma contagem progressiva tem início:
200 mil.
500 mil.
1 milhão.
4 milhões.
9 milhões.
12 milhões.
Quando a música chega ao fim, Madonna já desceu da cruz e o contador parou em 12 milhões. Nos telões, dados bizarros e assustadores sobre as condições de vida da maior parte dos cidadãos africanos são expostos.
No continente, hoje, são 12 milhões de crianças órfãs por causa da Aids.
A ligação foi inevitável: principalmente em uma semana em que o papa Bento XVI fez acusações, no mínimo, escabrosas, lembrei da “santa” Igreja Católica.
É impressionante (às vezes acho inexplicável), mas o Vaticano ainda detém poderes inquestionáveis no mundo contemporâneo. As indecorosas declarações do papa sobre o malogrado segundo casamento, as uniões gays, a influência da internet na sociedade atual, e a reafirmação da proibição do uso da camisinha (podendo, talvez, ser liberado dentro do casamento) são prova.
Enquanto milhões morrem de Aids na África, os repugnantes clérigos alimentam dogmas cruéis e asquerosos, totalmente descolados da realidade. Pedir desculpas para a humanidade daqui a cem anos (como fizeram com a Inquisição), não vai adiantar.
E a Igreja Católica ainda se diz preocupada com a evasão de jovens de suas paróquias. É muita hipocrisia.
A solução, então, é seguir o caminho das igrejas pentecostais? Claro: o casal Hernandes, Edir Macedo, R. R. Soares e companhia precisam aumentar o faturamento.
Que Deus nos livre.
Panis et Circences
Alberto e Analy se enfrentam no paredão do "BBB7"
Foda-se!!
Todo mês na Capa da Veja
Como comer certo. Dessa vez mudou tudo. Chocolate faz bem. Verduras muito bem.
Cerveja e frango à passarinho? Muuiiiiito bem!*É só correr depois...seja lá do que e atrás do que, pra onde você quiser.
Enquanto para as pessoas sem sala de jantar: 850 milhões de pessoas não comem no mundo. E 32 milhões estão no Brasil.
Quem dá uma dica de como resolver isso. Quem pode ajudar e como ajudar? Ei , Revista Veja!?
* Eu acredito
Voltamos a jogar como corintianos.
Nos 48 do segundo tempo. No último suspiro. E, quem sabe, lugar na semifinal?
Coloco a citação na 1ª pessoa do plural, pois sem querer ( eu juro!), juntamos cinco gaviões fiéis ao fundar o blog. Está dando certo.
PS: Sei que escrevi pouco. Tô correndo. Fiquei presa no aeroporto, por causa da paneno sistema aéreo. Dessa vez, o chefe não acha que estou mentindo.
E promovendo uma marca de pinga mundialmente conhecida...
Obs: A primeira foto é de Nilton Fukuda, da Agência Estado; a segunda é do Globo Online.
Daniel Boa Nova
Um dia merda começa sem nada na geladeira e você não dormiu bem. O futebol até tarde da véspera não lhe permitiu as 8 horas de sono recomendadas. E a ferrugem faz doer.
Daí que estamos na padaria preferida. Uma média, um pãozinho e já é. Tudo ótimo, mas por que raios o chapeiro inventa de enfiar a mão sem querer na xícara? Também não precisa tantas desculpas seguidas, beleza, manda outra.
Já no ofício, a esperança é por um dia livre para fazer com calma aquilo que realmente interessa ao indivíduo, mas que se existe uma visão além do alcance, é negócio para todos. Não. Uma pequena coisa atrás da outra e lá se vai a manhã. Não sem antes chegar a notícia de que, mais uma vez (ou como sempre), coube à equipe de bombeiros apagar as chamas. E as próximas semanas não serão tão boas.
Ainda antes do almoço, a cereja do bolo: mais um se juntará ao pelotão. Um recruta com holerite de sargento. Quanto a você, soldado, I´m really really sorry. Daí que o frango com arroz e legumes na manteiga desceu amargo que só vendo.
Cabeça vazia é oficina do diabo e ninguém veio para conversar. Mas a pulga permanece atrás da orelha, pedindo uma consulta. E a consulta adiciona impotência à indignação: nosso recruta foi convocado pelo general. Entendeu? É melhor entender.
Final da tarde. Uma simples ida à loja de conveniência torna-se perrengue, por ser o momento em que a chuva resolve dar as caras. A partir daí, cancelarem de última hora seu programa pós-expediente é fichinha. Afinal de contas, já passa de 20 horas, melhor mesmo é ir pra casa. Claro que no segundo ônibus a passar. Não teve dedo do meio que fizesse o primeiro parar.
Quando surge a idéia de jantar cianureto, eis a redenção. Na forma de uma vizinha senhorinha, das poucas que dão bom dia, boa tarde, boa noite. O último contato do dia com os seres humanos, no elevador:
- Você mora no último andar?
- Moro sim.
- Hmmmm.... É bom porque, se um dia o prédio desabar, você não sofre nada. Fica por cima de todos.
- É... verdade. Mas se um dia pegar fogo...
- Aí você tá fodido!
E o sorrisão com a arcada obturada à mostra. A vontade era convidar pra dar um tapa na pantera, mas ficou para outro dia.