Ponto Jor

quinta-feira, agosto 02, 2007

Auto-ajuda: do autor para si mesmo

Daniel Consani

O gênero literário chamado “auto-ajuda” produz milhões de toneladas de lixo intelectual todos os anos. Títulos como “Quem vai chorar quando você morrer?”, “Jesus: o maior psicólogo que já existiu” e “Os 50 hábitos altamente eficazes do vendedor Pit Bull” são icônicos e exemplares do quanto um leitor pode ter a sua inteligência absolutamente vilipendiada ao adentrar uma livraria.

Há quase três anos, “O Monge e o Executivo”, do estadunidense James C. Hunter, figura entre os livros mais vendidos da seção de “não-ficção” dos principais veículos de comunicação brasileiros. A premissa da obra reside num suposto ensinamento milenar que sustenta que “liderar é servir”. Um argumento empoeirado, que deixou mais um escritor milionário. Na entrevista abaixo, você entende o porquê.

Em “O monge e o executivo”, além de levar o leitor a repensar a postura das lideranças empresariais, você fala em uma humanidade melhor, menos egoísta. Em sua opinião, que tipos de transformações o livro pode causar nos leitores?

Primeiramente devo dizer que essas idéias não são minhas. Os princípios da liderança “que serve para ser servida” são muito velhos. Jesus falava nisso dois mil anos atrás. Ou seja, eu roubei todo esse material, nada é meu. O que eu fiz e faço é relembrar as pessoas. Em meus seminários eu digo que não instruo, e sim, relembro. Nós precisamos ser relembrados sempre, é por isso que vamos à igreja aos domingos. Precisamos ouvir as coisas de novo e de novo, não apenas uma vez.

Você acha que um livro tem essa função?

Sim. Mas, não sei se o meu livro é inspirador. Quando o escrevi, sabia que queria uma parábola, porque livros de negócios instruem a mente, mas parábolas instruem o coração, já que conseguimos relacioná-las a algo. Jesus ensinou através de parábolas porque é um modo lindo de dizer a verdade, pois a move da mente para o coração. Muita gente sabe sobre liderança na cabeça, mas poucas sabem de coração.

O que você acha que faz de “O Monge e o Executivo” um livro de tanto sucesso comercial?

Acho que é porque eu não credito que liderança seja sobre estilo e personalidade. Minha personalidade é diferente da sua, e daí? Olhe para os grandes líderes e eles são bem diferentes entre si. Liderança é algo muito mais profundo, é sobre caráter. É a sua vontade de fazer a coisa certa e de ser paciente com as pessoas, de escutar, de ser humildade, de ser respeitoso. É sobre caráter, não personalidade. Liderança é inspirar pessoas e influenciá-las, e isso é bem diferente de ser um ótimo empresário. Conheci grandes empresários que eram líderes muito ruins, e grandes líderes que eram empresários terríveis.

No livro, John Daily, o protagonista, está vivendo um caos como profissional, como marido e como pai. É possível distinguir as qualidades necessárias para exercer cada uma dessas funções, ou tudo está interligado?

Gandhi dizia que “a vida não são vários compartimentos, mas algo totalmente indivisível”. Normalmente, quando vemos um chefe ruim no trabalho, ele é um pai ruim também. Mas, às vezes, pessoas são capazes de separar. Então, o que acontece é que eu ajudo pessoas no trabalho e, consequentemente as ajudo em casa. Por isso, está tudo interligado. Se você ajuda seus colaboradores a crescer, você contribui para uma sociedade melhor e isso é o que o líder pode e deve fazer, ensinando caráter no local de trabalho.

6 Comments:

Blogger Daniel Boa Nova said...

O cara praticamente afirmou que a própria obra não é própria e é uma merda.

Enquanto a gente vira noite, ganha mal e engole sapo, o bigode deve estar tomando suquinho de caju na beira da piscina. Tudo porque foi hábil em "roubar" algumas idéias milenares e transformá-las em produto.

E ainda discursa sobre caráter...

12:09  
Blogger João Prado said...

Qualquer livro que seja definido como "auto-ajuda" eu acho uma merda. na real, é preconceito mesmo. Os caras escrevem algo do tipo "aprenda com os ovos" e um monte de gente desgostosa com a vida cai fácil.

no resto, é a confissão do plágio!

parabens pela entrevista, Consani!!! Não gasta bala atoa mesmo.

13:07  
Blogger Sara Puerta said...

Isso me lembra da piada interna, com o maior clássico desse tipo de livro. "Jesus de Blue Jeans". Lembra que o Luis teve que ler para fazer a matéria? hahahahahahaha
mas, de fato é muita gente hipocrita e rasa ganhando dinheiro achando que leva o tal "auto-conhecimento".

15:40  
Blogger Luís Pereira said...

é mesmo Sara ... rs Mas eu tive que ler aquele "Quatro Elementos do Sucesso", da mesma autora do "Jesus in Blue Jeans". Mas lendário mesmo ficou o título desse livro. Que apelação hein, Jesus de calça jeans, isso que é um verdadeiro sacrilégio. Dá para imaginar Jesus pregando na propaganda da Levis?

17:11  
Blogger Luís Pereira said...

Ah, parabéns pela entrevista Dani, muito bom!

17:12  
Anonymous Anônimo said...

E-mail us: jesus@heavencorporation.com

09:40  

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