Ponto Jor

sexta-feira, maio 25, 2007

C.R.I.M.E. S/A


João Prado
Na semana em que a Navalha ainda rola solta e a ópera das velhas-novas e fracassadas CPIs não escapa das manchetes, fui entrevistar um dos maiores especialistas em crimes do Brasil, senhor Walter Maierovitch. No vasto e nefasto campo da violência deste e de outros países, Maierovitch é peça chave da discussão de como enfrentar o problema da criminalidade... Ou pelo menos começar a enfrentar.
Presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone, entidade de luta contra o crime organzado, ex-secretário nacional Antidrogas, juiz aposentado e homem de boa conversa, Walter Fanganiello Maierovitch não me deu tempo nem para esquivar e soltou um gancho de direita: “O olho por olho e dente por dente não resolve”.
Segue:
A revista Carta Capital da última semana publicou como matéria de capa, uma pesquisa na qual mostrava que a sociedade, de um modo geral, defende a justiça “olho por olho”. Como o senhor analisa essa pesquisa?
Aponta para o caminho da barbárie. Historicamente, gostaria de lembrar que sair do olho por olho já foi uma evolução. Antes se punia de formas cruéis, como o enforcamento, fogueira e decapitação de membros do corpo. Tudo baseado em presunção. O que se quer agora com o olho por olho é um retrocesso. Na evolução das penas ao longo da história houve uma humanização e isso nos distancia da pré-história.

Recentemente o governo mexicano lançou um plano na Colômbia, para que as pessoas trocassem as suas armas por computadores. Iniciativas como essa tem algum efeito no combate ao crime?
Sim, tem algum efeito. Mas não adianta você entregar um PC, sem educar as pessoas para uma legalidade democrática. Só para você ter uma idéia, hoje, é aniversário da morte do juiz Giovanni Falcone. Durante todo o dia, em Palermo (Itália), tiveram trabalhos com os jovens da região. Atracou em Palermo a “nave” da legalidade, que trouxe para a cidade mais de 1300 estudantes e eles participaram de uma jornada de memória e educação da legalidade. Todos foram à sala onde pela primeira vez os mafiosos foram julgados no mundo. Houve diálogo entre estudantes, professores e ministros da cultura. Depois todos foram para a cidade de Corleone, onde tem a Avenida 11 de abril 2006, que é o local onde foi preso Bernardo Provenzano, chefe da máfia que ficou foragido 43 anos. Então somente dar computador não resolve.

Aqui no Brasil, estamos no meio de mais uma operação da polícia federal, em que os políticos e os empresários estão no foco das acusações. Queria saber se operações como essa significam que os crimes estão sendo apurados como nunca ou é o resultado de que há cada vez mais corrupção no país?
É mais uma operação em cima de um velho fotograma, que mostra relações entre empresários, políticos e administradores públicos, adquirindo vantagens indevidas. Nessa relação, os políticos ganham mais poder e os empresários mais negócios. Esse tipo de operação é importante como as outras que ocorreram, mas não há novidade desse tipo de atividade criminal no Brasil e no mundo. Na Itália foi feita a mesma operação, só que mais profunda. Lá, foram investigadas e julgadas as relações partidárias e muitos empresários se mataram literalmente por vergonha. É importante dizer que o Brasil ainda não tem mecanismos para proteger esse tipo de apuração e também proteger a polícia federal. Temos aqui um sistema processual, que leva anos até dar uma resposta para a sociedade. Isso é o que mata o país.

Falta uma operação mãos limpas no Brasil, como ocorreu na Itália?
A operação de lá “bateu” no primeiro ministro, que fugiu para a Tunísia. Esse modelo no Brasil é ilegal, porque na Itália a operação foi conduzida por um sistema de magistratura que nós não temos aqui. Lá, a polícia efetivamente pertence ao judiciário. O sistema brasileiro é totalmente obsoleto.

A máfia italiana ainda opera no Brasil?
A máfia está catalogada entre as organizações transnacionais. Em suas atividades sem fronteira, a máfia fatura 75 bilhões de euros por ano, dez vezes mais que a Telecom Itália. Sim, a máfia ainda opera no Brasil.

Em um artigo, o senhor afirma que o PCC é uma organização pré-mafiosa...
Ela é pré-mafiosa porque tem controle de território e social. Essa é a característica principal.

Qual seria o primeiro passo para começar a resolver o problema da violência no Brasil?
Primeiro ter um grande projeto de prevenção e depois outro de repressão. Tem que mudar tudo e refundar o país. Precisamos de uma infinidade de projetos sociais.

Qual o maior legado que o juiz Giovanni Falcone deixou para a luta contra a violência e o crime organizado?
Ele mostrou para todos que a criminalidade mafiosa, que se infiltra no estado e tem relações com partidos políticos, não é invencível. E ela não é!
OBS: a foto acima foi "roubada" da página do programa da Rádio Matraca, da USP, publicada originalmente para o especial "Som na Caixa Dois - Quem Viu o Metal?".

5 Comments:

Blogger Daniel Consani said...

Muito bom. Muito bom mesmo, Jonny!
Bela entrevista para um tema essencial. O debate acerca da Operação Navalha tem de acontecer. Por exemplo, vocês acham que a PF está extrapolando os limites dos seus exercícios divulgando para a imprensa material que ainda está sob investigação?

08:19  
Blogger Sara Puerta said...

Oi Jonny,

Que máximo!Bela pauta e boa entrevista!

10:31  
Blogger João Prado said...

Fico sempre na dúvida, Consani. O que me intriga também é o Jornal Nacional ter acesso a essa lista e poder divulga-la na hora que achar mais "oportuno", sabe? tipo, divulgar os nomes envolvidos em época de eleição.

Abraço pru ce e beijo pra sara

11:33  
Blogger João Prado said...

Fico sempre na dúvida, Consani. O que me intriga também é o Jornal Nacional ter acesso a essa lista e poder divulga-la na hora que achar mais "oportuno", sabe? tipo, divulgar os nomes envolvidos em época de eleição.

Abraço pru ce e beijo pra sara

11:33  
Anonymous Anônimo said...

Consani e Jony,
Eu fico pensando nisso toda vez que sai alguma gravação dessas de telefones grampeados. Por que eles divulgam isso, sendo que a investigação ainda está sendo feita?

14:15  

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