Ponto Jor

segunda-feira, maio 07, 2007

Manchete: Virada Cultural bomba!

“Sempre gostei do Racionais MCs. Das letras, da batida, dos arranjos, da revolta. Para mim, Mano Brown tinha tudo para ser o maior porta-voz da periferia , um líder.
Tive a oportunidade de estudar e nunca fiquei preso em bolha. Andei bastante por aí. Acho que isso me fez entender mais as letras.
Considero o Mano Brown um cara politizado, mas muitas pessoas que escutam sabem muito pouco. Talvez pelas condições em que estão inseridas. Talvez, só escutem o que os interessa.
A oportunidade de ver um show dos Racionais surgiu com a Virada Cultural. Às 3 horas da manhã realmente não é um horário muito bom.
Cheguei na Praça da Sé por volta de 1 hora da manhã. Nunca vi tanta gente junta. Bonés, calças largas, mulheres imitando Beyoncé e crianças, cheiro, garrafas de vidro, bêbados, cheiro de urina.
1 hora de atraso. Não para de chegar gente, alguns sobem em prédio- ótima chance para pichar- outros invadem o palco, área de impressa. E sobem na banca -a famosa banca que os jornais contam- Um dos caras estava armado. Quando ele levantou a arma, um monte de gente saiu em disparada. Fui até um policial militar. “Meu irmão, veio ver o Racionais, agora agüenta!”
Policiais nervosos, suados, ansiosos , tensos com o que poderia acontecer.

O show começa. Uma correria aqui, outra ali. Polícia tentando tirar moleque da banca, do palco. Galera reage. Voa uma garrafa, uma lata.
Começa Vida loka, terceira música. “Fé em deus que ele é justo! Ei irmão nunca se esqueça”. Todo mundo pulando. Ficou incontrolavel a correria.
Pá, Pá, Pá....Tum, Tum , Tum. Tropa de choque a vista. A correria é generalizada, o barril de pólvora estourou.
Cacetada, gente ferida. Mano Brown sai do palco...
Um arrastão de gente correndo. Bombas de gás. Olhos vermelhos. Carro queimado? Para que?
Lojas depredadas? Não é daí que a gente tem que ter raiva.
5 feridos? Eu vi pelo menos 10.
Racionais odeia polícia. Policia odeia Racionais e estava em pouco número e é despreparada!

Triste fim. Apatia de quem deveria ser lider. Povo sem medir consequencias. Risco de morte em uma festa. A culpa é de que?"

Relato de R. A, um espectador.

*** Mais de dois anos se passaram e a mesma cena se repetiu. A última foi no Festival Agosto Negro de 2004, na Praça Charles Miller.

8 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Recomendo a leitura do Xico Sá, post "Pânico em SP": http://ponteaereasp.nominimo.com.br/

14:38  
Anonymous Anônimo said...

Daí eu leio os comentários e me deparo com esse:

"Incrível, como essa gente nojenta acha que diversão é quebrar tudo, subir como macacos que realmente são em postes, bancas e onde mais conseguirem.
Deu confusão? Viram como saquearam lojas e bancas rapidinho? Ali é tudo bandido, marginal, deviam estar na cadeia.
Gentinha nojenta, suja e feia, deveriam proíbir qquer tipo de evento CULTURAL pra quem não sabe se portar em público, COMO GENTE, como diria minha sábia e educadíssima avó

Isso não é gente é bicho!!!

Comentário de Que fiquem da ponte pra lá, macacos!!!"

Ainda não sei o que comentar sobre isso.

14:44  
Anonymous Anônimo said...

Mais um, e junto com este, muitos outros:

"Malacos tem que levar porrada mesmo…..
não sabem se comportar em público..
Acho que a polícia bateu pouco……
Não ví nenhuma fratura exposta…
Os defensores dos direitos humanos,
tem a mente distorcida igual esses marginais.que não acrescentam nada à sociedade….palmas para a polícia…"

Outro:

"Para aquele que se sente incomodado por ter pessoas a sua volta que foram educadas na era da ditadura militar, digo que sinto orgulho de ter tido uma educação de qualidade, onde a cultura e respeito ao professor prevaleciam. Qualidades estas raras de se encontrar nas escolas atuais. As palavras eram “ORDEM E PROGRESSO”. Será que hoje em dia os jovens estudantes sabem o quer dizer essas palavras e suas funções? O grande problema de hoje é que existe esta ignorância do povo em confundir liberdade com bagunça. E a PM está aí para isso mesmo. Ensinar de um jeito ou de outro a manter a ORDEM pública. Ou vai pelo amor ou pela dor. Você escolhe. Quem está reclamando da atitude da PM só pode ser mesmo da laia da bandidagem, usuário de drogas que se sentiu incomodado com a presença dos PMs, pois dúvido que encontrariamos pessoas decentes, educadas, trabalhadores honestos no meio dessa anarquia. “O POVO TEM A POLÍCIA QUE MERECE”.

Agora me permitam uma descrição maior:

"
“A polícia apresenta suas armas”.
escudos transparentes
cacetetes
capacetes reluzentes
e a determinação de manter tudo em seu lugar.”
(H. Viana)

VIRADA CULTURAL

A noite estava perfeita. A temperatura agradável, lua cheia no céu.
As atividades da Virada Cultural, por serem muitas, concentraram na Região Central culturas, idades, preferências diferentes. Ainda assim o clima era de muita harmonia entre as várias tribos que por ali circulavam. Enquanto eu curtia um rock no Show do Serguei na Barão de Itapetininga, pouco depois de dançar forró ao show de Alceu Valença, me chegavam mensagens ao celular de amigos que estavam curtindo um reggae no Pátio do Colégio e de outros que estavam dançando música eletrônica na Rua Direita e etc… Por volta de meia-noite, contudo, nos encontramos para ver a Nação Zumbi na Praça da Sé. Concentramo-nos na parte esquerda atrás do palco por ter espaço maior para dançarmos. Já durante este show vimos algumas pessoas em cima de uma banca de jornal. Os polícias nada fizeram para conte-las. Ao fim deste show a Praça ficou um pouco mais vazia, já que haveria um intervalo de algumas horas até a entrada dos Racionais no palco. Neste intervalo, e ao som de rap e hip hop, aquelas poucas pessoas continuavam em cima da referida banca de jornal (poucas em relação ao que estavam platéia convencional) e também na sacada de um prédio do patrimônio público. A polícia continuou estática.
Quando os Racionais entraram no palco, Mano Brown logo pediu para que os ‘valentes’ se acalmassem, que seriam interessante não darmos IBOPE para a Rede Globo. Quando começou a cantar NEGRO DRAMA, uma das preferidas dos fãs, eu mais um casal de amigos nos destacamos de nossa turma e fomos dançar. Muito de repente, com o som ainda rolando, já que o grupo não parou de cantar, o CHOQUE invadiu o espaço e para nos defendermos fomos nos proteger na marquise da drogaria Onofre. O CHOQUE contudo não poupou ninguém: ameaçou bater-nos e assim o fez, não atendo ao pedido desesperado e aflito do único homem que nos acompanhava: “pelo amor de deus, estou com duas mulheres”. Este levou duas cacetadas do policial, que ainda me acertou um chute na perna. Ainda assistimos outras cenas, de pessoas caídas e talvez desmaiadas ou passando mal, e o CHOQUE não as socorreu ou pior, bateu nelas com muita covardia. Atendendo ao pedido dos policiais, nós, que nada representamos de mal a esta sociedade tivemos que correr, numa das cenas mais horrorosas que já presenciei, de pessoas sangrando, caindo, chorando, se protegendo do gás de pimenta que tomava conta do centro e dos tiros que a polícia soltava sem saber para onde. Na Rua Direita o caos já estava instalado, no Pátio do Colégio também. Ao tentar ir em direção de onde estava estacionado o carro para fugirmos dali, um policial mandou-nos correr ou então ‘sobraria’ para nós. As ruas contudo estavam todas cercadas. Entrávamos numa e víamos o CHOQUE descendo, íamos para outra e a cena se repetia, noutra gás de pimenta… A polícia fez um cerco: não havia lugar para correr!

CONSIDERAÇÕES
1. A prefeitura de Gilberto Kassab convida para a festa o grupo Racionais. Policiais do governo José Serra entram em cena, teoricamente, para proteger àqueles que iriam assistir aos shows.
2. Durante shows anteriores ao dos Racionais polícia nada faz.
3. O noticiário do domingo relata que a confusão começou por causa de algumas pessoas que estavam insultando policiais. Relata também que algumas músicas do grupo incitam a isso.

Penso: Se foram convidados, os músicos precisam cantar SUAS músicas. Se policiais foram insultados por alguns, a resposta viria por conta do insultado, numa atitude individual, por não aceitar tal ‘desrespeito’. Portanto, o que vi, foi uma atitude coletiva, iniciada a partir de uma ordem, de um chefe de polícia ou um comandante. O que quero dizer é a polícia está despreparada em sua base. A violência policial está institucionalizada.
O olhar do policial que nos agrediu não me sai da mente: branco, alto, olhos claros cheios de ódio do povo preto e pobre que pôde ir ao centro assistir a um show “típico de periferia.”
O que vi e vivi na madrugada da Virada Cultural me faz ter uma leitura contrária daquilo que li nos jornais, sobretudo os eletrônicos, de domingo: nós, todos os que ‘aproveitamos o fim de semana para não dormir’, como dizia o cartaz de propaganda da Virada, fomos insultados. A polícia incitou a população a fazer o que fez. Orelhões quebrados, bancas de jornal destruídas, lojas saqueadas e etc foram uma resposta à violência da polícia! E foi pouco: apanhar por nada, por curtir um som que nos faz cada vez mais ter certeza de que apenas retratam a verdade é de se fazer qualquer (bom) cidadão enlouquecer… Estávamos todos em paz, desarmados. A covardia da polícia ao bater em pessoas foi que gerou a revolta. Não havia conversa, atitude, pedido de socorro que fizessem estes covardes pararem: Não tínhamos armas. Tínhamos nossa revolta e nossas lágrimas. Eles com suas bombas, revólveres, cacetetes foram que nos insultaram. Além do medo e da sensação de se estar numa guerra, de viver numa falsa democracia, numa ditadura capciosa, a pergunta que fica e que me fiz durante todas as horas que vieram após o ocorrido é: em quem confiar?

Fabiane Neri "


Desculpa pelo post gigante e que não seja de minha autoria.

15:22  
Blogger João Prado said...

Lamentável.

15:44  
Blogger João Prado said...

explicação (do comment acima): lamentável são os comentários rasos. mas a internet é isso aí, nê? todos se manifestam.... as vezes gente e as vezes projeto de gente.

beijo Sil.

15:53  
Anonymous Anônimo said...

Hahahahaha, quase achei que foi lamentável minha atitude.

É que acho uma boa discussão.

Entre essas, entrei numas de que a imprensa só fala na desastrosa Virada Cultural, o que não é verdade, teve muita coisa boa, o que foi pouco comentado.

16:01  
Blogger Sara Puerta said...

Só hj vi os coments...Valeu Sil por mostrar outros pontos de vista.
acabei não indo no show, mas me relataram essa história. que não ficou distante do que vi no Agosto Negro de 2004.
A polícia exagera mesmo. bate antes depois pergunta. a galera se revolta e desconta em quem não tem nada a ver.
Para mim, fica só a questão e fica para mais um monte de gente: um homem,líder ( pois ele é sim!) , que tem de discurso, realmente não pode intervir!!!!???
Esperra apenas novidades nps próximos shows.

13:38  
Blogger LDamatta said...

Só agradeço ao divino ter me tirado de lá antes mesmo do fim do Nação Zumbi.

22:09  

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