Ponto Jor

segunda-feira, outubro 08, 2007

Armas, ideais e sangue ....não necessariamente nessa ordem



Sara Puerta

Uma coincidência. Em tempos que um filme (muito bom por sinal) como Tropa de Elite, que tem sangue, balas, morte e truculência para lutar por ideais e por sobrevivência, paralelamente removem uma das tumbas mais lembradas - e pop - da história. A do romântico, revolucionário, estampa de camiseta, bottons, tatuagem sex simbol, o Che Guevara.

Falo da relação de um com o outro, pois a discussão em torno dois assuntos tem sido grande e isolados. Mas há algo que os une: até onde vai um ideal e a vida do outro.
Sobre Tropa de Elite, fica aí a questão em torno da truculência para resolver falha do sistema, e o tal do Capitão Nascimento acredita que a única forma é chegar, chegando. Seja o que for: ele acredita nisso.

Por outro lado, Che Guevara deve estar a ponto de sair puxando pés por aí de noite. Hoje faz 40 anos da sua morte. Nesse mesmo dia, em 1967, ele foi capturado e fuzilado.
Nessas de aniversário da morte, levantam-se novas discussões. A Revista Veja, há uma semana, foi a primeira a disparar, porcamente como sempre, um especial sobre o que significa o mito.
Segundo o tablóide, Che era um porco, à Chuck Norris, que mata qualquer um que passar por ele, e ainda, ditador. Eles tentaram, tentaram...e não conseguiram.

Tirar do Che a imagem de revolucionário romântico é tão difícil como acreditar que a policia tenta fazer um trabalho sério.. E de fato, ver a imagem do guerrilheiro olhando para o horizonte é reconfortante, e leva acreditar que onde ele está estampado não existe uma personalidade acomodada.

Armas aos montes, os dois longes de direitos humanos. Matar, para mim, nunca será bom. Nem em pena de morte para serial killer.
Mas não há revolução, mudança ou o que quer que seja, sem guerra. E aí entra os carudos, que abandonam a fragilidade e dão a cara para bater.

5 Comments:

Blogger Daniel Consani said...

Na mosca, Sara.
As sociedades contemporâneas têm necessidades tão rasas...
É patético o culto quase religioso acerca de Che, assim como é medíocre a tentativa de desconstrução de seus feitos por parte da mídia conservadora (a edição da semana passada de Veja é só mais uma excessência).
Quanto ao "Tropa de Elite", acho o filme bom. E só. Suas inúmeras falhas não deixam margem para qualquer comparação com Cidade de Deus. Com direção convencional, roteiro irregular e direção de arte bisonha, Tropa de Elite faz, sim, apologia do Estado policial. O personagem "Baiano" é quase caricatural e pessimamente desenvolvido pelo roteiro.
Quanto a direção de arte, há uma observação bastante pertinente que pode ser feita em Tropa de Elite: afinal, por que "Baiano", o vilão da história, está usando uma camiseta vermelha com o rosto de Che estampado em sua primeira aparição na película?

15:50  
Blogger Daniel Consani said...

Na mosca, Sara.
As sociedades contemporâneas têm necessidades tão rasas...
É patético o culto quase religioso acerca de Che, assim como é medíocre a tentativa de desconstrução de seus feitos por parte da mídia conservadora (a edição da semana passada de Veja é só mais uma excessência).
Quanto ao "Tropa de Elite", acho o filme bom. E só. Suas inúmeras falhas não deixam margem para qualquer comparação com Cidade de Deus. Com direção convencional, roteiro irregular e direção de arte bisonha, Tropa de Elite faz, sim, apologia do Estado policial. O personagem "Baiano" é quase caricatural e pessimamente desenvolvido pelo roteiro.
Quanto a direção de arte, há uma observação bastante pertinente que pode ser feita em Tropa de Elite: afinal, por que "Baiano", o vilão da história, está usando uma camiseta vermelha com o rosto de Che estampado em sua primeira aparição na película?

15:50  
Blogger João Prado said...

Bela frase no final ("abandonam a fragilidade e dão a cara para bater"), dona Puerta.

Sobre Tropa, brother atirador nato, vulgo Consani, achei um filmaço e com vários méritos de discussão e artístico também - não atoa a edição do Daniel Rezende (Cidade de Deus) te deixa com sangue nos zoios.

Até concordo que o personagem "Baiano" (o ator nasceu realmente na Bahia) seja em certas horas uma caricatura - cinema realidade é foda por isso... creio.

Mas discordo que o filme seja apologia do estado policial. É a visão policial-truculenta da coisa-guerra-do-tráfico-que-conhecemos.

Poderia ser Coppola um diretor que faz apologia da máfia? - Michael Corleone é pop, tem glamour. Seria De Palma um incentivador de imigrantes sanguinarios que viram traficas? - Scarface tem lá seu charme.

Na platéia, o filme fez a melhor revelação. Teve gente que abominou os tapas na cara que o Bope da (como eu) e teve gente que continua aplaudindo.

Conversei com alguns moradores de Paraisopolis (favela daqui de sp)sobre o filme, alguns com opiniões parecidas com a sua (sera que algum policial gostou de Cidade de Deus?)... mas no resumo e, diferente talvez das outras classes, "eles não querem vingança, eles só querem justiça... justiçaaaaa"

abraço

17:09  
Blogger Daniel Consani said...

Grande Johnny...
O meu problema com a discussão acerca do Tropa de Elite é menos sobre o filme em si (que para mim peca no desenvolvimento do "Baiano", que é um personagem crucial para trama, mas ainda assim é um bom filme que vale muito a pena ser assitido) e mais sobre a reação das pessoas que terminam o filme e clamam "Chamem o Capitão Nascimento" (como fez de maneira imbecil o Luciano Huck). Esse entrave você já havia habilmente antecipado no seu post retrasado que tratou sobre as suas impressões do filme. Cada um tem suas próprias impressões, sem dúvida. Se o cara termina o filme e acha que o Nascimento é um herói, o problema é dele. Só que acontece que o filme, através do ótimo desenvolvimento do personagem interpretado por Wagner Moura e do péssimo desenvolvimento do "Baiano", conduz a essa "simpatia" pelo policial torturador de "Tropa de Elite", não é mesmo? Quando o assunto é "O Poderoso Chefão", "Scarface", "Apocalypse Now", "Taxi Driver", entre outros, é preciso analisar caso a caso mas há uma diferença fundamental entre o filme sobre a família Corleone e o sobre o capitão Nascimento: o primeiro apresenta uma saga em três partes da ruína moral em que uma família mafiosa se enfia após entrar em guerra com outras gangues mafiosas (o tom de crítica voltada a forma dessa família se relacionar com os seus "negócios" é bastante contundente); o segundo, com tom quase documental, tenta não transformar um policial torturador e inescrupuloso em herói, mas não consegue.
Mas a discussão pode ir muito longe. (Ainda bem, é sempre muito bom).
Grande abraço, Johnny! E a gelada?

13:43  
Blogger João Prado said...

É noiz Consani! Entendo que a simpatia pelo Nascimento também se dá pelo tom da narrativa do filme.

E creio, como na cena final, em que a arma está apontada para a platéia sentada no cinema, que o "tRopa" tem o mérito até de revelar certos aspectos podres que habitam nas pessoas... "osso duro de roer"...

Sexta que vem (depois do feriado), nossa breja?

16:12  

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