Ponto Jor

quinta-feira, junho 14, 2007

Ótimo debate, péssimo jornalismo

Daniel Consani

A tradição de Veja em transformar boas pautas em excrescências continua. Basta ver a edição número 2.011, de 6 de junho. “Raça não existe” é o que estampa a capa e você, caro internauta, pode estar pensando em parar a leitura por aqui uma vez que concorda com a afirmação e já sabe que vou criticar a citada matéria. Mas peço mais um pouquinho de paciência com minhas desajeitadas letras. Você vem?

Primeiro: o conceito que conhecemos de raça, de fato, não existe. Principalmente em uma sociedade caracterizada pelo sincretismo, é dificílimo (além de imbecil, claro) determinar quem é branco e quem é negro. Aqui, Veja faz um belíssimo trabalho mostrando, por exemplo, que Neguinho da Beija-Flor tem ascendência predominantemente européia.

Só que as virtudes da matéria param por aí, porque Veja faz dessa premissa uma arma para atacar o sistema de cotas raciais adotadas pelas universidades públicas tupiniquins. Baseada em um caso ocorrido na Universidade de Brasília (UnB), em que dois irmão, gêmeos idênticos, foram classificados distintamente (um branco e um negro), a revista de maior circulação do país desqualifica grosseiramente a norma adotada por 34 universidades brasileiras, que reservam 20% de suas vagas a alunos negros e pardos que conseguem a nota mínima no exame.

De fato, o caso da UnB é alarmante e espelha as falhas de um sistema que busca fazer justiça social de uma maneira questionável, sim, mas que não merece ser achincalhado. Pelo contrário. Merece aplausos, em minha visão. Quem tiver uma solução melhor para compensar as diferenças entre o acesso à educação de uma criança negra e uma branca, que se pronuncie, por favor.

O tom escandaloso de Veja parece ter relação direta com o descaso da classe política brasileira frente à horrenda distribuição de renda no Brasil. Que a classificação de pessoas de acordo com a cor da pele é estúpida, não há dúvidas. Mas que há um imenso vazio no suposto acesso à educação e cultura do negro brasileiro, é igualmente indubitável. Neste entrave, assim como em qualquer outro, o debate é imprescindível. Já o tom prepotente e espetaculoso de Veja é repugnantemente descartável.

1 Comments:

Blogger Daniel Boa Nova said...

Fala Consani,
como vai?

Cara, não li a reportagem da Veja. Não sei qual é o tom, o que defende ou ataca.

Mas sou absolutamente contra qualquer política de cotas. Para mim é o oposto da idéia de república. Não se deve corrigir injustiças históricas com aberrações jurídicas.

O que também não significa negar a existência do problema. Educação de qualidade e gratuita, tá na constituição, tem que ser para todos. Negros ricos, brancos pobres... todos!

abrax!

12:21  

Postar um comentário

<< Home