Ponto Jor

sexta-feira, abril 20, 2007

Érica, da Vila Carrão

João Prado

Érica, 17 anos, atende às mesas do bar de Seu Barroso, um dos melhores assados que eu já comi. Preta (ou quase), a menina com os olhos de mulher madura sofre para entregar as bandejas com as costelas e as cervejas, nas mesas lotadas que interrompem a passagem na calçada.

Calor. Talvez uns 30 graus. “Quer mais uma cerveja?”, diz a moça, que também sofre com as cantadas baratas e inevitáveis quando a bebida encontra um amontoado de machos. “Sou amigo de Barroso há muito tempo. Isso aqui é a minha segunda casa. Catso! Cadê a porra da cerveja?”, grita Moraes, morador da Vila Carrão (zona leste de São Paulo) há 25 anos. Érica chega, logo em seguida, com duas garrafas na mão.

Érica é mais uma das muitas mulheres que existem no Brasil. Ainda jovem foi morar sozinha (talvez para fugir do crack ou da merla). Grávida (o futuro pai tem 16 anos), não cogita a hipótese do aborto: “Quero ter meu filho. Acho que chegou a hora de eu ser mãe”, ressalta, com o rosto sereno e firme.

Depois da bebedeira de seis horas seguidas, Seu Barroso começa a pedir folga: “Vamos embora, gente! Vocês não têm família?”. Érica fica com os outros dois funcionários. Ela ainda tem que terminar o seu digno trabalho. Lavar o chão, o banheiro e recolher o lixo.

2 Comments:

Blogger Daniel Boa Nova said...

Se qualquer semelhança com os fatos reais não for mera coincidência, que desculpa tu usou pra passar 6 horas no bar em pleno expediente?

12:01  
Blogger João Prado said...

Domingo, Boa nova. era um domingo...

12:18  

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