Ponto Jor

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Sobre apólogos e apologias

Daniel Consani

Na semana passada, minha reação ao deprimente episódio envolvendo o prefeito da maior cidade do país e um paulistano que manifestou seu posicionamento contrário ao “Projeto Cidade Limpa”, que tenciona banir os outdoors das ruas da metrópole (de botequim, mas ainda assim metrópole), foi expressa através de um apólogo. Antes de fazer qualquer juízo de valor e acusar-me de pretensioso, caro leitor, digo já: por mais que eu me esforce, as linhas machadianas não me abandonam; e o que é pior: nem o discreto perfume do ácido talento do filho de Engenho Novo me encontra!

Hoje, de qualquer maneira, gostaria de trazer à tona algumas lições que devem ser extraídas do lamentável ocorrido.

De cara, é bom dizer que sou a favor do projeto apresentado pelo pefelista. O que, em hipótese alguma, faz com que eu tenha qualquer simpatia pela atitude truculenta, intransigente e tirânica que o prefeito Kassab tomou na semana passada, enquanto inaugurava um posto médico em Pirituba. Dito isso, sinto-me à vontade para, face ao referido apólogo, fazer apologias à briga comprada pelo prefeito que vai direta e inexoravelmente de encontro a interesses comerciais bastante intimidantes.

São Paulo é uma cidade imunda. E agride todo e qualquer sentido humano. Trânsito caótico, avenidas esburacadas, calçadas tomadas por trabalhadores informais, semáforos tomados por ambulantes, praças mal cuidadas (ou bem cuidadas pela iniciativa privada, que se apressam em colocar placas publicitárias nos locais), fios elétricos irresponsavelmente instalados.

Diante disso, chega a ser injustificável, embora compreensível, o velado apoio que boa parte da grande mídia tem dado aos manifestos contra o projeto de lei. Claro que é mais do que natural que, em tempos como esses, os meios de comunicação de massa defendam muito mais os direitos e as bravatas negociais do que as necessidades da população ou do seu público-leitor, mas não podemos deixar de expressar consternação para com o status quo.

Mesmo que seja um passo em meio a muitos que devam ser dados, o “Projeto Cidade Limpa” é algo que caminha rumo a um ideal de limpeza visual muito bem-vindo.

Por essa razão, fiz um apólogo para condenar a truculência e faço agora apologias para salientar a importância de uma cidade visualmente mais limpa, que privilegia o bem-estar comum em detrimento de interesses comerciais.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Também sou a favor da lei, mas uma coisa importante neste fato é que todo cidadão não só tem o direito de cobrar os eleitos - prefeitos, deputados, vereadores - como DEVE cobrá-los.
Concordo que não necessariamente num hospital, mas quando alguma minoria o faz, é chamado de vagabundo.
Isso é Brasil.

14:47  
Blogger Daniel Boa Nova said...

Bom texto!

Muito bem escrito!G

16:59  

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