Minha letra não é essa
João Prado
Semana longa. Greve na editora, para tudo! Assembléia com a presença do sindicato. Local: pátio central do edifício número 1088. Motivo: atraso salarial.
Passa segunda, terça e nenhum resultado das negociações entre a diretoria, de um lado, os jornalistas, fotógrafos e editores, do outro. A resposta é: “Não temos ainda uma resposta”, diz o ex-comandante da rota e agora encarregado geral para assuntos gerais. Reação em cadeia: no money, no magazine. O tempo passa...
Quarta-feira. No limite da exaustão de horas em pé, debatendo, brigando, xingando até deus e pondo a fofoca em dia, funcionários da editora profetizam o futuro: “vai ter demissão em massa”, diz um, “isso aqui acabou, tem é que vender”, conta outro. Quando as 18h00 chega uma definição, pela metade: “Já está sendo depositado 40% do salário de janeiro”, diz o encarregado geral para assuntos gerais. Perguntado sobre o restante: “não temos ainda uma data certa para esse pagamento”, completa.
Saio do pátio e vou direto para a redação. A decisão, votada, foi de que voltaríamos ao trabalho. Eu perdi. A semana passou e hoje já é dia de fechamento. Dois telefonemas, duas notas escritas e fotos providenciadas. O resto do material da coluna já estava pronto, “dormindo” na gaveta. 22h20, fim do trampo. O que vem pela frente? Me preparar para uma entrevista exclusiva que será publicada nas primeiras páginas da revista, agendada para o dia seguinte.
Quinta. Depois de ler documentos, conversar com assessores pelo telefone e ficar até às duas da manhã pesquisando aqui, na internet, saio de casa (às 11h15) rumo ao Brooklin, onde vou encontrar o assessor que me levará até o local da entrevista, em Alphaville. No caminho checo o gravador, as pilhas, e confiro se trouxe o caderno com as minhas anotações.
Na entrada do prédio, sou devidamente registrado por um funcionário através de um cartão magnético e uma foto tirada por uma micro câmera. Entro na sala. O presidente de uma grande companhia brasileira de exportação de software, meu personagem (que prometo soltar a entrevista na íntegra aqui), me recebe bem. Lembra meu avô, seu Macedo, com seus mais de 80 anos. Começo a entrevista perguntado sobre o porquê as empresas brasileiras de software não foram beneficiadas pelo PAC (Programa de Aceleração Econômica), ao contrário do que esperavam representantes do setor.
No mesmo instante que o senhor começava a responder, abri meu caderno para conferir minhas anotações. Mas não eram anotações, eram rabiscos. Não conseguia entender nada. A minha letra não era aquela, afinal, qual era mesmo a minha letra?
Antes que eu descubra ou enrole mais... Bom Carnaval! Para os que ficam e que vão.
Semana longa. Greve na editora, para tudo! Assembléia com a presença do sindicato. Local: pátio central do edifício número 1088. Motivo: atraso salarial.
Passa segunda, terça e nenhum resultado das negociações entre a diretoria, de um lado, os jornalistas, fotógrafos e editores, do outro. A resposta é: “Não temos ainda uma resposta”, diz o ex-comandante da rota e agora encarregado geral para assuntos gerais. Reação em cadeia: no money, no magazine. O tempo passa...
Quarta-feira. No limite da exaustão de horas em pé, debatendo, brigando, xingando até deus e pondo a fofoca em dia, funcionários da editora profetizam o futuro: “vai ter demissão em massa”, diz um, “isso aqui acabou, tem é que vender”, conta outro. Quando as 18h00 chega uma definição, pela metade: “Já está sendo depositado 40% do salário de janeiro”, diz o encarregado geral para assuntos gerais. Perguntado sobre o restante: “não temos ainda uma data certa para esse pagamento”, completa.
Saio do pátio e vou direto para a redação. A decisão, votada, foi de que voltaríamos ao trabalho. Eu perdi. A semana passou e hoje já é dia de fechamento. Dois telefonemas, duas notas escritas e fotos providenciadas. O resto do material da coluna já estava pronto, “dormindo” na gaveta. 22h20, fim do trampo. O que vem pela frente? Me preparar para uma entrevista exclusiva que será publicada nas primeiras páginas da revista, agendada para o dia seguinte.
Quinta. Depois de ler documentos, conversar com assessores pelo telefone e ficar até às duas da manhã pesquisando aqui, na internet, saio de casa (às 11h15) rumo ao Brooklin, onde vou encontrar o assessor que me levará até o local da entrevista, em Alphaville. No caminho checo o gravador, as pilhas, e confiro se trouxe o caderno com as minhas anotações.
Na entrada do prédio, sou devidamente registrado por um funcionário através de um cartão magnético e uma foto tirada por uma micro câmera. Entro na sala. O presidente de uma grande companhia brasileira de exportação de software, meu personagem (que prometo soltar a entrevista na íntegra aqui), me recebe bem. Lembra meu avô, seu Macedo, com seus mais de 80 anos. Começo a entrevista perguntado sobre o porquê as empresas brasileiras de software não foram beneficiadas pelo PAC (Programa de Aceleração Econômica), ao contrário do que esperavam representantes do setor.
No mesmo instante que o senhor começava a responder, abri meu caderno para conferir minhas anotações. Mas não eram anotações, eram rabiscos. Não conseguia entender nada. A minha letra não era aquela, afinal, qual era mesmo a minha letra?
Antes que eu descubra ou enrole mais... Bom Carnaval! Para os que ficam e que vão.
2 Comments:
De quem era a letra? Caderno errado?
caderno certo, mas letra errada. pode? acontece que, acostumado a escrever cada vez mais no pc, minha letra esta ficando cada vez pior. acho que um dia não vou mais nem lembrar dela rs.
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