Ponto Jor

quinta-feira, julho 12, 2007

A aula de Robert Fisk

Daniel Consani

No último final de semana tive o prazer de acompanhar alguns dos principais encontros ocorridos na quinta edição da Flip (Feira Literária Internacional de Parati). Ainda não havia estado na graciosa cidade fluminense, dessa forma, confesso, fiquei surpreso com o clima cultural que envolve a cidade. Além de ser muitíssimo simpática, Parati é linda e conta com inúmeros artistas declamando poemas em praça pública e vendendo suas histórias, por cinco reais, em mesas de restaurantes.

Pois bem.

Sábado. O debate mais aguardado por este que vos escreve, intitulado “Narrativas de Conflito”, aconteceria às 17h e contaria com a participação de Lawrence Wright e Robert Fisk. O primeiro é jornalista da New Yorker e ganhador do Pulitzer deste ano com a publicação do magnífico “O Vulto das Torres”, obra que discorre sobre as raízes do fundamentalismo islâmico e, por conseqüência, sobre o nascimento do terrorismo como viemos a conhecê-lo a partir de setembro de 2001. O segundo é correspondente do diário inglês “The Independent” no Oriente Médio, onde mora há quase trinta anos, e teve a oportunidade de entrevistar Osama Bin Laden em três ocasiões.

Acerca do encontro, o que posso dizer é que foi excelente, embora curto demais. Os quinze minutos de atraso no início e a pontualidade britânica no final (porque a apresentação seguinte, com J. M. Coetzee, tinha de começar no horário) ajudaram a espremer as discussões do encontro que eu mais aguardara. Mas tudo bem. Horas antes eu havia participado de uma entrevista coletiva com Robert Fisk, e esse já tinha sido o melhor dos acontecimentos.

Reproduzo abaixo alguns dos melhores momentos dessa entrevista.

As guerras fazem parte da evolução da humanidade. Como esse conceito se aplica aos constantes conflitos ocorridos no Oriente Médio nas últimas décadas?

Primeiramente, eu não acredito no choque entre civilizações. O que acho é que nós ocidentais temos constantemente ido ao Oriente Médio, desde as Cruzadas, com o discurso de que queremos salvá-los. Mas do que é que eles precisam ser salvos? Dizemos que não queremos conquistar a terra, mas tornar o povo livre. Isso é uma mentira sem tamanho. Nós, ocidentais, somos os senhores da guerra e sempre invadimos o Oriente Médio.

Em sua opinião, qual seria a melhor solução para o entrave criado com a ocupação do Iraque pelas tropas ocidentais?

Sair de lá imediatamente. Outra grande besteira é essa fala de Washington dizendo que a retirada das tropas deixaria um buraco atrás de si. O buraco já está aberto e nada de efetivo foi feito para sanar o problema nos últimos quatro anos. O Oriente Médio precisa de justiça, não de democracia.

Que impacto as eleições nos EUA no ano que vem podem ter nesse crescente ódio entre as civilizações árabe e ocidental?

Praticamente nenhum. Tenho visto os discursos dos democratas, Hillary e Obama, em especial, e não acredito que haverá uma mudança verdadeira na forma de conduzir as coisas no Oriente Médio. É muito parecido com a condução dos republicanos. Infelizmente.

1 Comments:

Blogger João Prado said...

Esse é o homi mesmo! DUCACETE que vc entrevistou ele.

Não li o “O Vulto das Torres”, mas ja li alguns artigos dele. Com 60 anos (acho que é isso) o matuto continua cobrindo guerra do lado do canhão.

Fueda, Consani!

21:13  

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